A Espiral do Silêncio vs. a Espiral do Unfollow
A teoria da espiral do silêncio publicada em 1977 pela cientista política Elisabeth Noelle-Neumann conta que em uma sociedade quando um pequeno grupo de indivíduos têm uma opinião contrária ou conflitante em relação a um grande grupo de indivíduos, eles tendem a calar-se e omitir suas convicções por medo de serem excluídos ou isolados.
O que pode significar que, se em um bar, você mais nove amigos estiverem tomando cerveja e papeando e seis deles expressarem uma opinião e dois ou três tiverem uma posição contrária, é possível que eles se sintam desconfortáveis em falar por medo de exclusão. Ao ficarem calados naquele momento eles reforçam a opinião que está sendo colocada e possivelmente na cabeça dos demais não exista ninguém de opinião contrária.
De acordo com a autora, a espiral do silêncio é responsável por um outro fenômeno chamado ignorância pluralística que significa que, se em um bar, você e quinze amigos estão conversando quando seis ou sete deles expressarem uma opinião, um eventual silêncio dos outros fará com que essa opinião seja dominante, por mais que os outros nove pensem o contrário e a opinião “dominante“ esteja equivocada. O status de opinião dominante faz com que qualquer pessoa “em cima do muro” tenha tendência em adotar esta opinião apenas por pertencimento independente de concordar com ela.
Assim como na mesa do bar, o Facebook serve como local de fala das pessoas que você interage, se conecta e aceita em sua rede. No entanto, diferente do silêncio proveniente do receio em ser excluído da mesa no bar, no Facebook a fala é livre, o silêncio acontece pela função “mute“. Para silenciar alguém “da sua mesa“ são necessários apenas dois cliques e pronto! Está dado o unfollow. Além de silenciar as discordâncias é possível assegurar nas opções que a pessoa continue “sentada em sua mesa“ sem excluí-la da sua lista de contatos e muito menos causar algum mal estar.
Ao silenciar deliberadamente as pessoas de opinião divergente inicia-se a “espiral do unfollow” que resulta em uma “mesa de Facebook” apenas com pessoas que concordam com o usuário em determinados aspectos. Há problema nisso? Afinal se a mesa do bar é sua por direito você senta com quem quiser, ninguém é obrigado a sentar com quem não gosta, certo?
Certo, nenhum problema! O que passa é que depois de um tempo que o usuário vai silenciando ecos divergentes e deixa de ver outros conteúdos de maneira crítica ele passa a crer que outras posições não existem, ou se existem estão erradas e ponto. A visão de mundo que se constrói através das relações sociais na rede é limitada pelo próprio usuário que, sem se dar conta, fecha as janelas e fica olhando apenas para o fogo e as sombras que ele produz, assim como na caverna de Platão.
Buscando mais referências filosóficas para a questão do conhecimento ser limitado pela experiência, antes do Platão, Empédocles disse que “cada homem acredita apenas em sua experiência”. Essas duas vertentes influenciaram pensadores até o século XVII, quando John Locke afirma que “nenhum conhecimento do homem pode ir além de sua experiência” e depois dele Arthur Schopenhauer com “todo homem aceita os limites do próprio campo de visão como os limites do mundo”.
Então não há problema em silenciar determinadas posições até porque “ninguém é obrigado”. O unfollow é muito útil em diversos casos, no entanto há um perigo na espiral que ele provoca quando depois de algum tempo a desconexão com o diferente pode ser grande demais e a percepção do que acontece no resto do bar, fora da sua mesa, já está distorcida.
Só porque você não vê uma determinada situação ou opinião, não significa que elas não existam.