A nova idade pra se aposentar é aos 30

A nova cara do trabalho

Jacqueline Lafloufa
Interwebz
4 min readNov 18, 2013

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Tradução para o português do original de Paul Cantor
Original: ‘The New Retirement Age is Thirty’
Autoria: Paul Cantor
Tradução: Jacqueline Lafloufa

Enquanto você crescia, se você vinha de uma família tradicional, você provavelmente viu seus pais saírem para o trabalho todos os dias para que pudessem colocar comida na mesa, pagar pelas suas roupas e pelo teto sobre as suas cabeças. Ou alguma variação desse mesmo tema.

Mas provavelmente você nunca sentiu que os seus pais eram prisioneiros de um desconforto existencial, aguardando ansiosamente para que pudessem fugir dali e finalmente encontrar a si mesmos. Eles não estavam incomodados com a doença do ‘por que eu?’ que parece ter afetado a todos os que tem menos de 30 anos hoje em dia.

Isso porque as coisas eram diferentes naqueles dias. Os baby-boomers envelheceram em uma época em que ter um trabalho já era uma grande coisa. Eles ficavam empregados na mesma empresa por longos anos. Até os anos 90, a economia estava crescendo e as empresas tomavam conta dos seus empregados. Ter uma carreira significava que você estava seguro.

Mas nos últimos vinte anos tudo mudou. As crianças agora não são ensinadas a encontrar uma carreira, mas sim a encontrar algo pelo que se apaixonem, e a seguir a sua paixão.

Só que o mundo não se dobra à todas as querências das pessoas — na verdade, o mundo não está nem aí para a sua paixão — porque ele precisa de pessoas que façam coisas normais como coletar o lixo, policiar as ruas, apagar incêncios e processar as inscrições para a carta de motorista.

Isso faz com que as coisas sejam mais difíceis, torturantes até. Aqui está você, que sempre disseram que era incrível e que não precisaria se contentar com uma vida de mediocridade, e isso é tudo o que você tem. É uma droga.

Anos atrás, quando alguém era ‘criativo’, eles assim o eram ‘no seu quadrado’. Se eram bem sucedidos, se eles chegavam lá, você poderia ouvir sobre isso pelo boca a boca. Talvez você os visse na televisão ou em uma revista.

Só que eles não estavam postando na timeline do Facebook, atualizando o Twitter, constantemente contando sobre a vida super bacana que tinham. Eles não estavam digitalmente mostrando o que quer que fosse que eles estivessem trabalhando com, enquanto você estava sentado no seu cubículo, fazendo com que você se sentisse um fracasso.

A expectativa tem se tornado um novo trabalho em tempo integral — ficar olhando a página do LinkedIn dos outros, as páginas de Facebook e da Wikipédia deles — e agora nós julgamos nós mesmos com muito mais frequência pelo que nós não fizemos, ao invés de pelo que já fizemos.

E até os 30, se nós não fizemos X, Y ou Z, nos sentimos incompletos. Parece que ainda há tanta vida para viver, mas nós somos chamados a isso, seja lá o que ‘isso’ for.

O mito do empreendedorismo também não ajuda. Essa fantasia americana de que você pode fazer seus sonhos se tornarem realidade, tudo o que você precisa fazer é tentar.

Isso não é a realidade. O real é que as contas precisam ser pagas, a vida precisa ser vivida, e não importa o que você está fazendo hoje em dia, não há descanso. Seus pais saíam do escritório às 5 da tarde e o trabalho estava acabado, e não recomeçava até que eles entrassem no escritório novamente na manhã seguinte.

Hoje, é praticamente uma regra de que não importa o que você está fazendo, você deve amar fazê-lo. Ou então você não estaria respondendo emails à meia-noite ou dormindo com o seu telefone no criado mudo.

E então você fica mais velho, e ao passar os anos plugado nessa matrix onde tudo é trabalho, trabalho, trabalho — onde a sua mente nunca tem a oportunidade de desligar — você envelhece bastante. Talvez não em anos físicos, como se você tivesse realmente 60 anos. Mas você tem 30 e de alguma maneira conseguiu enfiar o dobro de trabalho nesse período de tempo.

Você está velho mentalmente.

Seus pais não precisavam lidar com esse tipo de coisa. Tenha certeza de que eles tinham sonhos e objetivos como você, mas eles podiam passar algumas horas no fim de semana ou de noite apenas se entretendo com esses projetos. E eles não estavam respondendo emails nesse meio tempo.

Eles certamente não estavam ociosos, assistindo o que os seus antigos colegas de colégio estavam fazendo, se sentindo uma droga nesse meio tempo. Caramba, eles provavelmente precisavam ir até o escritório apenas para usar um computador!

Portanto, não estar satisfeito e querer mais da vida não é um problema dos millenials, ou uma questão hipster, ou um questionameno da ‘qualquer que seja a nova palavra que os marketeiros estão usando para descrever a nova geração de jovens’. É realmente o problema de estar conectado o tempo todo, de nunca ter a liberdade de desligar.

Porque a sociedade tem um problema com o lazer. A ideia de ficar sem fazer nada por aí não parece sexy. Vencedores nunca desistem. Dê o seu melhor ou vá pra casa. Esteja sempre atento. Ou alguma coisa desse tipo.

Não importa.

Você precisa de um tempo. Apenas se aposente. E então comece algo novo. Você pode falhar. Mas no final, você vai se agradecer por isso.

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Jacqueline Lafloufa
Interwebz

Jornalista, consultora e curiosa. Editora da @interwebzbr. De olho em inovação, tecnologia e comunicação. Atende por @jacquelinee nas redes sociais