Desative as suas notificações. Todas elas.

Jacqueline Lafloufa
Interwebz
Published in
7 min readJan 19, 2018
HOTLITTLEPOTATO

As notificações estão arruinando minha vida. Eu aposto que estão arruinando a sua também.

Original: “Turn off your push notifications. All of them”, por David Pierce, na Wired
Tradução: Jacqueline Lafloufa
Revisão: Natália Weber

As notificações estão arruinando minha vida. Estão arruinando a sua também, eu aposto. Baixe alguns poucos apps e as notificações viram uma cachoeira infinita e cacofônica de besteiras. Segue o que recebi em menos de uma tarde no meu celular:

“Olá, David! Nós encontramos novos broches de jóias de coroa e de tampinhas de garrafa pra você!”

“Todo mundo está comentando sobre o novo livro de Bill Nye, Tudo Ao Mesmo Tempo Agora. Leia um trecho grátis.”

“Alex acabou de postar pela primeira vez depois de muito tempo.”

Eu recebo notificações quando um conhecido comenta em um post de Facebook de um desconhecido, quando séries com as quais eu não me importo estreiam na Netflix, e todo santo dia às 6 da tarde, quando uma nova palavra-cruzada é disponibilizada. Recentemente, eu recebi um “buzz” dos meus amigos mais próximos no Yelp. “Encontramos um novo negócio espetacular para você”, dizia a mensagem. Eu abri a notificação, pensando que talvez o Yelp tivesse finalmente encontrado o novo negócio espetacular que eu estava esperando. Não. Ele não encontrou. Então eu fechei o Yelp, olhei fixamente no ar por um segundo, e abri o Instagram. Acabou a produtividade.

Nos últimos anos, existe um chamado cada vez mais alto para uma re-avaliação da relação entre seres humanos e smartphones. Ainda que esses aparelhos nos ajudem muito, o controle que eles têm sobre os nossos olhos, ouvidos e pensamentos cria problemas reais e sérios. “Eu sei o que acontece quando afasto a tecnologia das minhas crianças,” foi o que disse em entrevista recente Tony Fadell, ex-vice presidente sênior da Apple, que ajudou a inventar tanto o iPod como o iPhone. “Elas [as crianças] literalmente se sentem como se você estivesse arrancado um pedaço delas e levado para longe. Ficam abaladas, muito abaladas. Entram em abstinência por dois a três dias.”

Smartphones não são o problema. O problema são todos os toques e vibrações que ficam infinitamente atraindo a sua atenção. Um estudo da Deloitte em 2016 descobriu que as pessoas olham para seus telefones 47 vezes por dia em média; para os jovens, esse número é mais próximo de 82 vezes ao dia. A Apple anunciou orgulhosamente em 2013 que 7,4 trilhões de notificações tinham sido entregues aos usuários através dos servidores da empresa. E os últimos 4 anos não reverteram essa tendência.

No entanto, existe uma solução: acabe com as suas notificações. Sim, de verdade. Desligue todas elas. (Você pode deixar as notificações ativadas para telefonemas e mensagens de texto, se for preciso, e nada mais.) Você vai descobrir que não sente falta da enxurrada de notificações enchendo a sua tela, porque elas nunca existiram para seu benefício. Elas foram criadas para marcas e desenvolvedores, como métodos que os sedentos profissionais que se responsabilizam pelo crescimento de acessos (os growth hackers) possam usar para ganhar a sua atenção a qualquer momento que quiserem. Permitir que um app te envie notificações é como permitir que um atendente te pegue pela mão e te arraste até a loja. Você está deixando alguém inserir um comercial em sua vida quando bem entende. É hora de acabar com isso.

Puxa e empurra

Originalmente, as notificações “push” foram projetadas para que você não precisasse ficar o tempo todo no celular, ao contrário de estimular insistentemente o uso. Quando a Blackberry lançou as notificações de email em 2003, os usuários adoraram: eles não precisavam verificar constantemente suas caixas de entrada com receio de que estivessem perdendo alguma mensagem importante. “Quando um email chegar”, prometia a Blackberry, “o seu telefone vai avisá-lo. Até lá, não se preocupe com isso”.

A Apple implementou notificações nativas em seus sistemas em 2008, e a Google fez o mesmo logo em seguida. De repente, havia uma abertura para que qualquer um pudesse “pulular” na tela do seu celular quando quisesse ganhar sua atenção. As notificações se tornaram um dos sonhos dos profissionais de marketing: é funcionalmente impossível diferenciar um texto de um email sem dar uma boa olhada, ou seja, você primeiro precisa olhar pra depois desconsiderar aquela notificação. “As mensagens em notificações servem um papel importante no engajamento de um usuário com um app”, escreveu a empresa de marketing digital Localytics em 2015, “e não há sinais que apontem para uma diminuição do uso das notificações tão cedo.”

Para ser justo, as plataformas e empresas responsáveis por essa bagunça tentaram, intermitentemente, reduzir o ruído e dar uma “limpada” no ambiente. O Apple Watch foi concebido inicialmente como uma forma de mantê-lo “fora” de seu telefone, oferecendo filtros inteligentes e até mesmo vibrações adaptáveis para ajudar a diferenciar entre as notificações com as quais você se importa e aquelas que não são tão relevantes. Em vez disso, o relógio transformou seu pulso em outra superfície “acionável” e, desta vez, ainda mais difícil de ignorar. Depois de anos torturando os usuários, a Apple finalmente tornou mais fácil a opção de descartar todas as suas notificações ao mesmo tempo. Enquanto isso, o Google recentemente simplificou o processo de desligar notificações para aplicativos específicos, e têm planos de, na próxima versão do Android, dar aos usuários mais controle sobre quais notificações eles querem receber.

Ainda assim, dá pra perceber que tudo isso poderia ser mais eficaz. Você poderia dizer ao Outlook para notificá-lo somente quando você receber algo do seu chefe ou parceiro. Poderia dizer “nunca me enviar cupons,” e pedir a cada app para cumprir com essa exigência. Você poderia ter algumas notificações durante o trabalho e desligá-las todas quando chegar em casa. O Facebook poderia descobrir com quem você se importa realmente e notificá-lo de acordo com esse critério. Em cada caso, isso conduziria a poucas e melhores notificações. Ótimo para você, péssimo para as companhias que tentam roubar sua atenção.

Neste momento, o gerenciamento de notificações é uma batalha perdida. As empresas de notícias enviam mais e mais notificações, tentando te convencer a utilizar os aplicativos delas em vez dos apps dos concorrentes. Os jogos imploram para você jogar mais, pois assim você gastará mais nas compras dentro do app. Apps baseados em anúncios precisam que você os abra para que os anúncios sejam mostrados Você pode desligar as notificações do Facebook que não desejar (supondo que você saiba como fazer isso), mas o Facebook simplesmente inventará novos tipos de notificações e vai acioná-los para você automaticamente. Não há nenhum motivo para que qualquer empresa reduza o ritmo das suas notificações, nem do Google e nem da Apple, que ficam bem satisfeitos quando você checa o seu celular tantas vezes. Nada vai ficar melhor sem que você tome uma atitude.

Paz e Tranquilidade

Nem o Android nem o iOS oferecem uma forma fácil de desligar as notificações “em massa”. Em ambos os casos, você tem que mergulhar profundamente em Configurações e, em seguida, ir de app em app para desligá-las. É um enorme incômodo, mas vale muito a pena. Coloque pra tocar um episódio de Glow (minhas notificações avisaram que já está disponível na Netflix, a propósito) e vá em frente. Desative notificações sobre todos os apps sociais, aplicativos de compras, apps fitness, as notificações da Netflix, Spotify e Kindle. Se você quiser deixar o WhatsApp, telefonemas e mensagens de texto, tudo bem. Todo o resto tem que ir.

Se você realmente não pode lidar com a ideia de perder as notificações, aqui está uma alternativa: No iOS, desligue tudo, exceto “Mostrar na Central de Notificações”. Sem sons, sem badges, nada na tela de bloqueio, nenhum alerta de banner. Nada irá interrompê-lo, mas todas as notificações ainda aparecerão quando você desliza para baixo a tela do seu iPhone. No Android, você pode escolher “Exibir silenciosamente,” uma configuração que funciona de forma semelhante.

Não é como se desligar as notificações te impedisse de usar os apps que você gosta. Isso apenas te coloca no controle; você fica no seu celular quando você quiser, não quando dados da Amazon dizem que é provável que você vá comprar alguma coisa. Eu ainda vejo o Twitter o tempo todo, mas não sou forçadamente jogado no Twitter porque quatro pessoas, por um acaso, curtiram a foto de alguém. Aplicativos como o Instagram e Facebook são configurados para mostrar conteúdos mais relevantes toda vez que você abre o app — você não vai perder muito ao ignorar as notificações. E se a falta de notificações fizer com que você esqueça de abrir um app ou conferir seu telefone por um tempo? Bom, de nada!

Eu desliguei as notificações em cada app no meu celular, exceto para alguns deles: telefonemas, mensagens de texto e meu calendário, além do Outlook e do Slack, porque eu sou viciado em trabalhar. E eu estou muito mais feliz assim. Você talvez pense que eu sou louco, que estou perdendo todas as coisas boas acontecendo no mundo, já que nada vai “me alertar”. Fique à vontade pra me contar o que você acha disso! Verei na próxima vez que conferir o Twitter. Que será quando eu estiver afim, e nem um segundo antes disso.

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Jacqueline Lafloufa
Interwebz

Jornalista, consultora e curiosa. Editora da @interwebzbr. De olho em inovação, tecnologia e comunicação. Atende por @jacquelinee nas redes sociais