Guia Completo Para Tocar o Foda-se

Jacqueline Lafloufa
Interwebz
Published in
9 min readJan 6, 2014

Tradução para o português do original de Julien Smith.
Original: The Complete Guide to Not Giving a Fuck
Tradução: Jacqueline Lafloufa

Ok, tenho uma confissão a fazer.

Eu gastei quase minha vida inteira — 31 anos — me importando demais com as pessoas ficarem ofendidas, me preocupando se eu era bacana o suficiente para elas, ou perguntando a mim mesmo se elas estavam me julgando.

Não dá mais. É idiota, e não é bom para meu bem estar. Isso me transformou em um saco de pancadas — um covarde volúvel e nervoso. Mas, pior que isso, me tornou alguém que não tem um posicionamento para coisa alguma. Esse comportamento fez de mim alguém que fica em cima do muro por tempo demais, não tomando a posição que eu gostaria de tomar, por medo de afastar as pessoas. Não mais. Não hoje.

A partir de hoje, senhoras e senhores, será diferente.

Nós vamos falar sobre a cura. Vamos falar sobre o que é necessário. Nós vamos falar sobre a verdade.

Você já se perguntou se estavam falando merda sobre você? Se seus amigos iriam lhe aprovar? Você se tornou uma pessoa que evita conflitos? Maria vai com as outras?

Bom, já era hora de você tocar o foda-se.

FATO NÚMERO 1. As pessoas estão te julgando neste instante.

Sim, isso está acontecendo exatamente neste momento. Algumas pessoas não gostam de você, e, adivinha só? Não há nada que você possa fazer sobre isso. Nenhuma quantidade de coerção, bajulação ou puxa-saquismo vai resolver isso. Na verdade, o oposto é frequentemente verdadeiro; quanto mais você se posicionar, irão te respeitar mais, mesmo que seja de má vontade.

O que as pessoas realmente respeitam é quando você define limites e deixa claro que o outro “não vai passar dali”. Eles podem não gostar desde comportamento, mas e daí? Essas pessoas não gostam de você de qualquer maneira, por que você deveria tentar satisfazer pessoas que nem mesmo se importam com você?

Exatamente. Daí existem os trolls na Internet. O que é algo completamente diferente.

Pessoas normais são mais fáceis - você não realmente as ouve quando elas falam pelas suas costas. Mas na web você realmente vê o que elas dizem, o que faz com que as coisas mudem completamente. Isso tem um impacto, porque elas sabem que você faz aquelas buscas vaidosas por si mesmo, etc. Mas o problema real com haters da Internet é que eles confirmam as suas ilusões paranoicas de que todo mundo te odeia secretamente.

Felizmente, isso não é verdade. Assim, a primeira grande verdade é que a maioria das pessoas não se importa nem mesmo se você está vivo. Aceitem isso, meus amigos, porque a verdade é libertadora. O mundo é vasto e você é pequeno, e conseqüentemente você pode fazer o que bem entender, e colocar de lado as opiniões das pessoas que não gostam do que você faz.

FATO NÚMERO 2. Você não precisa que todos gostem de você.

Parece meio maluco, eu sei, mas tudo bem, você vai se acostumar com isso. Outra coisa: não apenas a maioria das pessoas nem sabe que você existe, e alguns estão te julgando, e mesmo que estivessem, isso não tem a menor importância.

Talvez você nem tenha percebido o quão libertador isso é, mas você vai chegar lá. Saca só: quando as pessoas não gostam de você, não acontece exatamente nada. O mundo não acaba. Você não sente que eles estão logo atrás de você. Na verdade, quanto mais você os ignora e apenas segue a sua vida, melhor pra você.

Sabe quando dizem que “a melhor vingança é viver uma vida bem vivida”? Então, é verdade, mas não é toda a verdade. Uma vida bem vivida é ótima, sim, mas ela não consegue acontecer enquanto você estiver preocupado sobre quem são as pessoas que te odeiam e o que elas pensam sobre você. O que você tem que fazer, o que você não tem nenhuma escolha a não ser fazer, é aceitar isso e seguir em frente.

Assim, tocar o foda-se não é apenas necessário, como é também um pré-requisito para dar ter uma boa vida. Não dá pra ter uma vida boa sem tocar o foda-se. E é por isso que você tem que começar hoje.

FATO NÚMERO 3. São as pessoas que se importam com você que importam.

Pronto, você já aceitou o fato que a maioria das pessoas no mundo mal estão cientes de sua existência, e você também ficou consciente de que aqueles que não gostam de você são uma obscena minoria que realmente não importa. Maravilha. Agora você precisa entender que são as pessoas que se importam com você que merecem a sua atenção, e ninguém mais.

Relacionamentos são estranhos. Assim que nos apaixonamos (com a família, um esposo ou esposa, o que quer que seja), nós começamos prontamente a sentir que aquela pessoa está garantida, e daí passamos a tentar impressionar outras pessoas — por exemplo, o nosso chefe. Então, uma vez que nós impressionamos o chefe, nós começamos a achar que também ele está garantido, e assim por diante, em um ciclo infinito de apatia. É como se nós preferíssemos sempre impressionar e encantar alguém novo, ao invés de trabalhar com o que já temos.

Só que essas pessoas — os seus paladinos — eles entendem a sua missão e a sua causa. Eles fazem com que você se sinta bem quando está perto deles, o fazem rir ou te deixam confortável para apenas ser você mesmo. Eles fazem você se sentir relaxado, confortável. Você compartilhou coisas com elas. Elas são importantes. Passe então a se concentrar nelas.

FATO NÚMERO 4. Aqueles que ligam o foda-se são aqueles que mudam o mundo. Não o restante.

Então eu estou lendo esse livro horrível do Stephen King chamado “Long Walk”. É uma competição onde as pessoas andam sem dormir ou descansar, e se pararem, são mortas. (O que é basicamente a história de todo livro do Stephen King — “Existe um palhaço, mas ele é assassino!”, “Existe um carro, mas ele é assassino!”, etc.)

Eu suspeito que este livro é um metáfora para a guerra, mas ele também mostra muito bem a perseverança. O que é preciso entender para seguir em frente é apenas compreender que o seu obstáculo não é importante, e que pode ser ignorado. Funciona também se você está correndo uma maratona ou tentando chegar a Marte.

Se você ignorar as coisas que não importam; se você remover da sua mente aquelas coisas e focar no que deve ser feito; se você compreender que seu tempo é limitado e se decidir trabalhar agora; somente aí você vai conseguir atingir a linha de chegada. Caso contrário, você será dissuadido a viver uma vida que nem mesmo te interessa.

Observação: Você precisa aprender a lidar melhor com o fracasso e o desconhecido. Você pode estar bem mal agora, se sentindo fracassado ou sozinho. Mas não se preocupe, todos já passamos por isso. Mas é hora de você entender o quão cotidianas essas coisas são, e que até mesmo as pessoas mais bem sucedidas e felizes do mundo também sentem isso. Essas pessoas superaram esses sentimentos, e você vai superar também.

Tudo está sendo vigiado.

E quer saber de uma coisa? Isso não diz respeito a mais ninguém. Tem tudo a ver com você.

Eu tive uma discussão com Jonathan Fields na semana passada, e era sobre o uso de palavrões (e a “voz verdadeira”) em blogs. Eu o via através do vídeo no Skype enquanto discutíamos, e eu pude realmente apontar o momento em que ele estava para dizer “foda-se”, mas quase se censurou. Foi surpreendente. Então eu demonstrei que tinha visto.“Você sentiu a necessidade de falar o palavrão agora mesmo, não foi?”

Todo mundo tem esse sistema interno de ‘vigia’. Esse vigia está sempre prestando atenção. Foi construído lentamente pela sociedade, em grande parte, e por seus amigos e família, e ele verifica você para ver se detecta algum comportamento inaceitável. Se você o tiver ao redor por tempo o suficiente, você começa realmente a acreditar que esse vigia é você, e que você “está sendo razoável” ou algum outro tipo de racionalização.

Mas esse vigia não é você em tudo. É uma prisão, e você justificou sua existência obedecendo a ele. Ele é forte porque você o deixa ser forte.

Mas o segredo, a parte que é surpreendente, é que ele não pode fazer qualquer coisa para parar você, mesmo se quisesse. É um vigia. Ele pode somente prestar atenção. O restante de você é livre para agir como bem entender.

Como reconquistar seu respeito próprio em cinco etapas fáceis

ETAPA 1. Faça coisas que você considera vergonhosas.

Minha namorada e eu temos experimentado o Vibram Fivefingers na preparação para a grande caminhada que estamos fazendo. Você alguma vez viu esses sapatos? São sensacionais para os seus joelhos e não lhe dão nenhuma bolha, mas são a coisa a mais feia que você já pode imaginar. Ontem, eu calcei-os e vesti também uma gravata borboleta feita com doces que eu fiz para a Páscoa. Eu parecia um maluco.

Como eu disse no começo deste post, eu estou profundamente ciente e posso ficar extremamente chateado com julgamento que as pessoas vão fazer de mim — acho que muitas pessoas também ficam, mas não admitem. Mas enquanto passava pelas pessoas com meu equipamento tecno-palhaço, ninguém olhou pra mim. Ninguém se importou, e eu lentamente compreendi que mesmo que as pessoas olhassem estranho pra mim, elas apenas passavam reto. Mais tarde, iam se esquecer completamente sobre mim.

Você deveria tentar isso. Encontre seus filtros internos e quebre-os, um de cada vez. Observe como a sociedade, como um oceano, alisa sobre as ondas que você faz, até que o que quer que você faça seja eliminado, ou se transforme em status quo. Trabalhe com isto.

ETAPA 2. Aceite, ou lide com, o constrangimento.

É sabido que os entrevistadores conseguem os melhores materiais ao ficarem quietos e permitirem que o silêncio force políticos ou celebridades a falarem algo.

Você pode ficar desconfortável com o silêncio. Eu sei que eu ainda fico. Mas eu tenho trabalhado com isso e tenho que dizer que é um estado muito mais sereno de estar do que tentar disfarçar com blablablá aleatório apenas para preencher esse vazio. Este é um tipo de constrangimento, um tipo que você deve se sentir confortável e aprender a viver com.

Um outro tipo de constrangimento social é este espaço no meio, onde você pode ter feito algo errado ou tratado alguém injustamente, mas não diz qualquer coisa. Eu tive algumas algumas lições ásperas sobre isso e venho compreendendo que a liberdade que vem ao falar sobre uma verdade incômoda é melhor do que o conforto de evitar essa conversa completamente.

Alguém me disse recentemente que o método do Clintons’ para ganhar o respeito na política é este: se alguém o empurrar, empurre-o duas vezes mais forte. Isto é muito melhor do que o constrangimento. Fica claro, não é passivo agressivo, e você sabe qual é o seu posicionamento. Comece a fazer isto imediatamente.

http://www.youtube.com/watch?v=XfUq9b1XTa0
http://www.youtube.com/watch?v=DeTsQQ22Uwc

(o segundo vídeo foi incluído porque o primeiro não toca no Brasil, por questões regionais de copyright)

ETAPA 3. Recuse limites.

O vídeo acima foi gravado em 1970, logo quando o Front de Liberação de Québec tinha matado o Premier Pierre Laporte e posto seu corpo no porta-malas de um carro. O “Just Watch Me”, de Trudeau é uma das frases mais famosas na história da política canadense. Os jornalistas estão tentando levá-lo a escolher, diante das câmeras, entre a segurança/estado de policiamento e direitos civis/liberdade, mas Trudeau se recusa a se sentir acuado.

O partido liberal do Canadá já não tem mais culhões, mas para nós ainda há esperança. Caminhe para onde você quer andar. Não aceite escolhas falsas. Não deixe as pessoas ditarem como você deve viver a sua vida. Definitivamente não escute o seu ‘vigia interno’.

ETAPA 4. Diga a verdade.

Você não precisa ser um cuzão, mas o mundo não necessita de mais pessoas que evitam conflito ou que são evasivas. Ninguém quer mais um indivíduo que siga as regras, assim como todos os outros. O status quo está bem sem você, então a escolha é sua de apontar quando ver alguma merda.

Não leia mentes também. Dizer a verdade significa ver a verdade, e não dourar a pílula ou adicionar uma camada de emoção suspeita no assunto.

ETAPA 5. Comece sua vida nova.

Esta etapa não pode acontecer sem as outras, mas uma vez que você chegou até aqui, você pode com segurança começar a explorar um mundo novo — onde qualquer coisa que você fizer é ok, contanto que não esteja machucando nenhuma outra pessoa. Quer explorar edifícios abandonados e velhos? Nenhum problema, contanto que você esteja pronto para viver com as conseqüências. Quer ser suspenso por ganchos ou ser chicoteado por uma dominatrix? Vá adiante, mas esteja seguro disso.

Uma vez que você começa neste trajeto, você começa a descobrir que praticamente todo mundo é capaz de compreender as coisas estranhas que você faz. De fato, fará com que você seja interessante e valha na pena prestar atenção, alimentando seus planos de dominação mundial, se é que você tem um.

Mas nada desse divertimento pode acontecer sem que você reconheça o seu vigia interno e passe batido por ele. Fazer isto é um ato poderoso de controle sobre o que constrói o momento e o que o faz forte.

Tome de volta o seu respeito próprio. Faça isso hoje — tente agora mesmo. Use alguma roupa feia. Faça algo estúpido. Diga a verdade a alguém.

Não importa.

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Jacqueline Lafloufa
Interwebz

Jornalista, consultora e curiosa. Editora da @interwebzbr. De olho em inovação, tecnologia e comunicação. Atende por @jacquelinee nas redes sociais