A cultura da extroversão
E o desempenho dos introvertidos fora da curva
A nova economia pede um novo tipo de homem — um vendedor, um operador social, alguém de sorriso fácil, um aperto de mão imponente e a capacidade de se dar bem com os colegas ao mesmo tempo em que os eclipsa.
O Poder dos Quietos — Susan Cain
E assim os que nasceram nos séculos XX e XXI desenvolveram a crença de que o ideal a se buscar é o de pessoa segura, confiante e extrovertida, capaz de levar as multidões ao delírio. Nós vemos esse personagem constantemente, é o youtuber, o líder da igreja, a webcelebridade ou os personagens de filmes, livros e seriados. Todos estes meios possuem seus personagens populares, que comumente são muito queridos, expressivos, falam alto e olham nos seus olhos de modo confiante. O personagem mais querido também é o mais intimidador. Estas são as pessoas que estão em evidência. Essas são as pessoas admiradas, lembradas e queridas.
Extroverts are memorable. Dynamic. Gregarious. Engaging.
Think of someone you interacted with today. Who’s the first person that comes to mind? They came to mind quickly because your interaction was memorable.
He told a joke and made you laugh.
She complimented you and made you smile.
They did something… something extroverted…. that made you feel better about yourself.
As an introvert, the only way I tend to make other people feel is ignored. Not so memorable.
Act Like an Extrovert and Get More Done — Christopher Sowers
E então nos deparamos com um dilema: as pessoas só notam os extrovertidos? Eu preciso agir como um para ser querido? E assim nós acabamos por reprovar nossa(o):
- opção pela ausência do convívio social;
- modo contido/reservado;
- jeito pouco expressivo.
And so on. Mas a resposta, como você irá ver a seguir, é que não precisamos suprimir e nem reprovar os nossos traços introvertidos, o traço tem suas vantagens. Introvertidos são bons comunicadores porque são bons observadores, e isso nos dá um ponto extra quando precisamos socializar.
E como surgiu a cultura da extroversão? Onde e como se deu o seu início?
Os Estados Unidos mudaram do que o influente historiador de cultura Warren Susman chamou de Culto ao Caráter para o Culto à Personalidade. (…)
No Culto ao Caráter, o caráter ideal era o de alguém sério, disciplinado e honorável. O que contava não era tanto a impressão que alguém causava em público, mas como o indivíduo se portava na esfera privada. A palavra “personalidade” não existia em inglês até o século XVIII, e a ideia de “ter uma boa personalidade” não foi difundida até o século XX.
Mas quando abraçaram o Culto à Personalidade, os norte-americanos começaram a focar em como os outros os viam. Tornaram-se atraídos por pessoas que são ousadas e divertidas. “O papel social requerido de todos no novo Culto à Personalidade era o de um performer” escreveu Susman.
O Poder dos Quietos — Susan Cain
Contudo, saiba que não é no mundo todo que as pessoas têm preferência pelos extrovertidos. Como o nome já diz, é uma cultura, ou seja, a preferência pelos extrovertidos está nos comportamentos que aprendemos a ter e nos tipos de pessoas que aprendemos a valorizar e a admirar no ambiente em que crescemos.
Xinyin Chen and Kenneth Rubin of the University of Waterloo in Ontario, Canada, and Yuerong Sun of Shanghai Teachers University compared 480 schoolchildren in Shanghai to 296 in Canada to see what traits made children most popular. In China “shy” and “sensitive” children were among those most chosen by others to be friends or playmates. (In Mandarin, the word for shy or quiet means good or well-behaved; sensitive can be translated as “having understanding,” a term of praise.) In Canada, shy and sensitive children were among the least chosen. Chances are, this is the kind of attitude you faced growing up.
The Highly Sensitive Person — Elaine N. Aron
Muito embora às vezes pareça que o mundo inteiro rejeite os quietos e enalteça os de humor expansivo, a verdade não é bem assim. Uma vez que os introvertidos decidem fortalecer seus traços sociais, eles conseguem tanto ou até mais destaque em posições de comunicação e liderança que os extrovertidos.
Falar em público nada tem a ver com extroversão, e sim com performance.
Você, sendo um introvertido, continua tendo suas ambições e desejos. Talvez alguns destes desejos necessitem de comunicação para obtê-los. E os introvertidos são os que mais precisam aperfeiçoar seus skills sociais, pois comunicação é performance, atuação e observação. Uma vez que você consiga compreender as características presentes naquele bom orador, você é perfeitamente capaz de reproduzir as mesmas características.
Pessoalmente, eu não acredito que devamos anular nossas preferências e ceder a cultura da extroversão, assim como não penso que devamos abrir mão de nossos sonhos porque para consegui-los talvez precisemos interpretar um personagem extrovertido.