Tristeza — filme Divertida Mente (Inside Out) da Pixar.

A importância da tristeza

Míriam Medeiros Strack
Introverso

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Não fuja dela

(Contém Spoiler)

Divertida Mente é um dos meus filmes preferidos de toda a vida. Já assisti a ele várias vezes e sempre choro e rio muito com ele. Quem já assistiu ao filme deve lembrar que o mote dele é falar sobre a importância da tristeza em nossa vida. No filme, a Tristeza é apresentada como uma das nossas emoções base, junto com a Alegria, o Raiva, o Medo e a Nojinho.

O filme foi lançado em junho de 2015, justamente na época em que eu tinha retomado a terapia, com uma nova psicóloga, em Belo Horizonte, já que tinha me mudado para lá há pouco tempo. Porém, antes de assistir a ele, minha psicóloga pediu para que eu fizesse uma tarefa de casa, escrevendo de um lado de uma folha as coisas ruins que a tristeza trazia e, do outro, as coisas boas que a tristeza trazia. Confesso que, como não tinha visto o filme ainda, tive bastante dificuldade em encontrar “pontos positivos” na tristeza e precisei da ajuda da minha psicóloga para encontrá-los. Dessa forma, trago aqui nesse texto três benefícios da tristeza em nossa vida, baseando-me tanto no filme, quanto em minhas sessões de terapia.

(Antes de começar, lembre de não confundir tristeza com depressão. A tristeza é uma emoção natural que sentimos e tem seu papel no nosso desenvolvimento. Normalmente “passa rápido” e pode ser “resolvida” com um abraço, um chá quente ou uma noite cheia de vaga-lumes. Já a depressão é uma doença que deve ser tratada. Não “passa” com facilidade e sua “resolução” costuma envolver muita terapia, autoconhecimento, meditação, entre outros).

1. A tristeza aproxima as pessoas

Isso vale especialmente para as pessoas que você ama e que te amam também. Quando vemos alguém triste, chorando, nossa reação natural é nos aproximarmos dela e sentirmos empatia. A descoberta recente dos neurônios espelho explica o desenvolvimento da empatia nos humanos, bem como a importância que isso teve para nós enquanto grupo e sociedade. A empatia com os sentimentos dos outros nos aproximou, fazendo com que os grupos se fortalecessem e protegessem uns aos outros.

Isso fica bem claro no filme Divertida Mente quando a Alegria vê a cena em que a personagem principal está feliz com sua família e seu time e a Tristeza diz que também gosta dessa memória, pois foi o dia em que a menina perdeu um gol decisivo na final do campeonato. A Alegria se dá conta, então, que a família e o time só vieram abraçar e “alegrar” a menina, demonstrando à ela o seu amor, por causa de um acontecimento que a deixou triste. A tristeza dela aproximou as pessoas e as fez demonstrarem todo o seu amor.

2. A tristeza aumenta nossa espiritualidade

Isso não aparece no filme, mas foi uma das conclusões a que cheguei junto com minha psicóloga. Sem entrar no mérito de religiões, a espiritualidade, ou a crença em algo maior e mais forte, vem ajudando a humanidade há milênios a se sentir melhor. Independente se sua crença o faz rezar, orar, meditar, ajudar os necessitados, ir a igreja, cantar ou jejuar, você faz isso porque se sente bem fazendo isso. Isso traz bem estar a você. Porém, em momentos em que está “tudo bem” em nossa vida, tendemos a deixar a espiritualidade de lado. Da mesma forma, quando, por algum motivo, nos entristecemos, lembramos de buscar por algo superior à nós.

O entendimento de que há uma força maior guiando tudo, por muitas vezes, tira o peso da culpa e do medo de cima das pessoas e faz com que a resolução dos problemas seja mais leve. Além disso, como já falado, as práticas espirituais trazem bem estar pra a nossa vida e nos colocam em busca de ser uma pessoa melhor.

3. A tristeza aumenta o autoconhecimento e nos faz crescer

Apesar de ter percebido isso nas conversar com minha psicóloga, foi somente depois de assistir ao filme Divertida Mente umas três vezes que notei que isso aparece no filme também. Nele, a Alegria, querendo impedir que a Tristeza se manifeste, pede para ela ocupar-se lendo os Manuais da Mente. Depois, quando Alegria e Tristeza “se perdem” entre as memórias de longo prazo, dentro do cérebro da personagem, é a Tristeza quem vai guiando as duas pelos caminhos e labirintos para voltarem a torre de comando. Ela é quem tem o conhecimento de como o cérebro da menina funciona.

Pensando em nossas vidas, podemos notar que ficamos mais reflexivos ao entristecer. A tristeza nos faz pensar nas coisas que aconteceram e nos deixaram naquele estado, se estivermos dispostos a isso. Como o senso comum costuma dizer, sempre podemos tirar algo bom de algo ruim, sempre podemos crescer com o sofrimento.

Tristeza e Bing Bong (o amigo imaginário) do filme Divertida Mente (Inside Out) da Pixar.

Extra: benefício do choro

No filme, a Alegria reclama que a Tristeza vive chorando e essa se justifica dizendo que chorar ajuda a suportar o peso dos problemas. Isso fica claro quando Bing Bong, o amigo imaginário da personagem principal, fica triste por ter perdido o seu foguete. A Alegria faz de tudo para animá-lo, mas o amigo só fica bem depois de chorar ao lado da Tristeza.

Pela minha experiência, também sei o quanto o choro pode ser benéfico. Ele realmente alivia o peso das coisas, fazendo com que a gente consiga olhar para os problemas com mais tranquilidade. E não só com mais tranquilidade, mas também com mais clareza. Já falei em outros textos que, normalmente, é só quando eu choro que consigo ver realmente qual o cerne do meu problema.

Resumindo, o primeiro ponto de benefício da tristeza é o estreitamento dos laços, a aproximação das pessoas que nos amam, por virem nos amar e proteger quando demonstramos vulnerabilidade. O segundo benefício é o aumento da nossa espiritualidade, seja ela do jeito que for. O terceiro benefício é o autoconhecimento que adquirimos a cada vez que nos entristecemos e nos permitimos refletir sobre as coisas que nos aconteceram. E você? Consegue ver mais algum benefício que a tristeza nos traz? Compartilhe nas respostas.

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Míriam Medeiros Strack
Introverso

Escritora, professora, bailarina, artista. Falo sobre consciência emocional, consciência corporal e autenticidade. Insta: @miriam.mest