Coluna em arco — Gyrotonic.com

Como o movimento corporal pode ajudar sua mente

Míriam Medeiros Strack
Introverso
Published in
4 min readSep 17, 2018

--

Para além dos neurotransmissores

Hoje em dia há inúmeras pesquisas associando a realização de atividades físicas com a melhora da depressão, melhora do humor, entre outros, por causa do aumento de neurotransmissores como a dopamina e a endorfina. Porém, são recentes os estudos que percebem como um trabalho corporal específico pode nos ajudar a melhorar nossos estados emocionais ou mesmo melhorar enquanto pessoas. Vou explicar.

Eu danço ballet desde muito criança. Sou formada em dança e dou aulas nessa área há anos. Sempre tive dificuldades em fazer cambré (um movimento em que fazemos uma extensão de coluna, curvando as costas para trás e abrindo o peito — similar ao da foto acima). Descobri recentemente inclusive, que tenho uma retificação na coluna torácica. Ou seja, não consigo fazer esse movimento do cambré ou andar por aí “de peito aberto”, porque minha retificação torácica me impede.

Por esse e outros motivos, comecei esse ano a fazer Gyrotonic, uma atividade física criada por um bailarino romeno, que se utiliza dos princípios da dança, do yoga, da natação e do Tai Chi Chuan. Dentro desses exercícios, fazemos muitos movimentos com a coluna em arco e em curva (“dobrando” a coluna para frente e para trás). Com isso, comecei a “mexer” nessa região. O movimento de arco em especial é semelhante ao cambré que falei anteriormente. Ou seja, nos obriga a abrir o peito para fazer tal exercício.

Acontece que há anos que ando com o “peito fechado”, tanto em termos posturais mesmo, quanto em termos de me abrir para o mundo, mostrar quem sou, falar o que penso, etc. Essa ideia de abrir o peito para o mundo me assustava de mais. Dessa forma, no dia da minha primeira aula de Gyrotonic, após muitos arcos e curvas, cheguei em casa e chorei! Chorei porque eu sabia que eu estava mexendo com muito mais coisa do que só a coluna: estava mexendo com meu medo de me abrir para o mundo.

Faço uma breve pausa aqui para falar um pouco sobre a terapia morfoanalítica. Essa terapia foi criada por um fisioterapeuta francês e parte da análise das posturas corporais para curar tanto o corpo quanto a mente. A base dessa terapia é entender que os nossos estados emocionais, principalmente na infância, causam excesso de tensão e retração da musculatura. Assim, “na hora do “descongelamento” do corpo real, o reencontro com as sensações libera a memória emocional aprisionada”*.

Sobre esse “descongelamento”, posso dar um exemplo de um aluno, homem, que acompanhei. O mesmo fazia aulas de dança de salão comigo e, naquele dia, passei alguns exercícios de soltura de quadril. Ele fez sem maiores problemas, porém, a noite, em casa, o mesmo relatou ter uma crise de choro, ao mesmo tempo em que sentia toda a repressão que foi feita em cima dele, ainda menino, sobre mexer o quadril. Após refletir, o mesmo percebeu que, a partir daquele instante, diminuíra nele o medo de demonstrar fragilidade.

Voltando ao meu caso, por eu trabalhar com dança há anos, eu sabia que esse choro, essa liberação de emoções a partir do movimento era perfeitamente possível e necessária, tanto no aluno, quanto em mim. Dessa forma, não me assustei com isso e segui, semana após semana, fazendo meus arcos e curvas, sabendo que em breve eu começaria a ver os resultados disso na minha vida. E eles vieram… Apenas para ilustrar, um dos maiores resultados que vi foi justamente eu ter perdido o medo de publicar o que escrevo e ter iniciado essa coluna. Não que eu não tenha mais medo de críticas e julgamentos, todos temos. Mas agora o medo não me paralisa mais.

Para concluir, trago aqui uma reflexão. Às vezes achamos que nossa postura advém de como estamos nos sentindo, e nem sempre pensamos que podemos estar nos sentindo de determinada maneira por causa de uma postura adotada por anos. Não sugiro aqui que você apenas “endireite sua coluna”, pois isso seria uma solução simplista. Sugiro que você se movimente, de formas variadas, em casa, na rua, nas suas atividades cotidianas, em uma atividade física específica. E então preste atenção ao que o seu corpo diz. Creio que se iniciarmos com uma reflexão acerca de qual dor está escondida por debaixo daquela camada de tensão muscular, de desconforto ao movimentar, poderemos ter algumas pistas de para onde seguir.

Deseja receber todos os meus textos da semana compilados em seu e-mail? Assine minha newsletter e não perca nada. Autoconhecimento, livros, feminismo e ficção.

Quer ficar por dentro do que rola no Introverso? Tem newsletter também! Só clicar aqui.

Gostou do texto? Você pode deixar de 1 a 50 claps ou comentar abaixo. ;)

Este post não é um publieditorial.

*GONÇALVES, Márcia Castanho Lavaqui. Entre o objetivo e o subjetivo. Mente e Cérebro: Psicologia. Psicanálise. Neurociência, São Paulo, n. 274, p.32–37, nov. 2015.

--

--

Míriam Medeiros Strack
Introverso

Escritora, professora, bailarina, artista. Falo sobre consciência emocional, consciência corporal e autenticidade. Insta: @miriam.mest