Deveríamos falar sobre os extrovertidos?
Desde que Susan Cain publicou seu livro sobre introversão, um grande movimento favorável a introversão surgiu. Eu descobri o que é introversão e há chances de que você também tenha descoberto ao ler O Poder dos Quietos. Artistas começaram a se expressar sob a perspectiva da introversão, outros livros com a mesma temática surgiram e até autores que antecederam Susan Cain foram descobertos graças ao seu livro.
E finalmente, eu acho que posso dizer que livros sobre introversão, blogs, redes sociais e tirinhas com o tema vieram para tirar um peso de nossas costas: nós sabemos porque somos assim, somos incentivados a continuarmos sendo assim e há conteúdo produzido pensado para nós e por gente como nós.
E nesse movimento pró introversão que surgiu, quem são os extrovertidos? Sim, quem são eles? Ainda que você tenha lido O Poder dos Quietos ou outros autores sobre o tema, é provável que você tenha passado batido acerca do assunto extroversão. Você pode ter uma ideia superficial a respeito deles, talvez admirá-los, mas as chances são de que você não os conheça a fundo. E aí entra um ponto negativo do movimento pró introversão: talvez você não compreenda — e nem queira— os extrovertidos.
Quando eu li O Poder dos Quietos eu fiquei tão fascinada pelo assunto que fui correndo procurar livros que falassem especificamente sobre extroversão e pasmem, eu não encontrei nenhum!
Muitos argumentam como se introvertidos fossem autossuficientes e como se a melhor relação possível é a que se dá entre introvertidos. Isso não é verdade. Aliás, um outro erro é que introvertidos tendem a expor as características dos extrovertidos de forma jocosa. Procure por conteúdo sobre o tema introversão e você irá perceber o que eu digo.
Não, essa tirinha não trata do assunto de forma jocosa, porém de forma reducionista. Então todo som de balada induz um extrovertido a querer festejar? Extrovertidos só pensam em festas e socialização?
E então, eu me pergunto: deveríamos falar sobre os extrovertidos? Ou deveríamos continuar sem entendê-los porém exigindo que eles nos entendam porque “nós somos assim” e “é da nossa natureza sermos quietos”?
A cultura da vítima: ser quieto e “ficar na sua” foi — e ainda é — por muito tempo visto como defeito. Minha mãe passou por isso e eu também. Quero dizer, pessoas nos criticando por sermos assim é algo de longa data. Mas essa “virada do jogo” não pode ser utilizada como forma de desprezarmos o diferente. O fato do tema introversão estar em alta hoje não pode servir para que deixemos os extrovertidos em segundo plano.
Veja, recentemente aconteceu algo muito interessante comigo: eu reencontrei minha melhor amiga. Sabe aquela amiga da vida toda? É ela. Ela é a típica extrovertida. Tudo o que eu já pontuei sobre extroversão aqui no Introverso, é uma característica dela. E esses dias ela chegou e me disse: eu não ando bem, estou com alguns problemas. O mais difícil nisso tudo é que quando eu tenho problemas eu fico fazendo piadas, faço graça, faço todo mundo que está a minha volta se sentir bem e eu fico escondendo o que eu sinto.
Eu fiquei quieta — como era de se imaginar — , mas aquela informação me rasgou por dentro. E ela continuou: às vezes as pessoas falam que eu sou tão alegre e comunicativa e não enxergam que por dentro eu estou sofrendo. Eu pensei comigo mesma: quando eu estou triste, eu fico na minha, posso até não demonstrar, mas se for necessário, eu exponho o que me aflige. Agora, imagina estar infeliz por dentro mas ter uma natureza que te obriga a fazer o extremo oposto? Aquilo me soou tão duro que eu fiquei refletindo: quantos extrovertidos poderiam se beneficiar de um conteúdo que os informasse sobre extroversão, sobre quem eles são e sobre como serem pessoas melhores para eles mesmos? Quantas?
E assim eu termino o texto com a seguinte proposta de reflexão: deveríamos falar mais sobre os extrovertidos? Ou deveríamos continuar ignorando-os e tratando-os como pessoas que não tem problemas e que não precisam ser entendidas?
Honestamente, eu não concordo com a ideia de reduzir extrovertidos a bom comunicadores e ponto. Cada um tem sua forma de lidar com problemas e sentimentos e todos nós podemos nos beneficiar de mais informações sobre intro e extroversão. Eu quero ter empatia pela minha amiga, quero saber como ela reage as diversas situações e em que nós somos diferentes.
É muito bom navegar na internet e ver uma imensidão de conteúdo sobre introversão, mas é péssimo não ter acesso a boa informação acerca da extroversão.