Introversão segundo Jung

Daniela Amadeu
Introverso
Published in
4 min readMay 10, 2017
Wikimedia

Jung acredita que todos os seres humanos carregam em si um pouco dos traços da introversão e da extroversão, mas quando uma das características é mais exercida que a outra, a menos exercida será oculta e assim um tipo crônico será criado, ou seja, a pessoa terá traços evidentes de introversão ou extroversão.

Todo introvertido consegue viver a experiência de ver o mundo pelo lado de fora (extroversão), mas para que isso seja possível, é preciso exercer alguma força além do seu natural. Podemos dizer que o traço introversão e extroversão são traços intrínsecos, porém sua intensidade, ou seja, o quão introvertidos ou extrovertidos seremos, depende da nossa escolha consciente pelas experiências internas e externas. Quanto mais um dos traços executamos, mais habilidosos nos tornamos, assim definimos a intensidade de nossos aspectos introvertidos e extrovertidos.

Para Jung a introversão é dividida em 4 faces: pensamento, sentimento, sensação e intuição. Sendo algumas dessas variações mais direcionadas a introversão e outras mais direcionadas a extroversão. Assim há um equilíbrio na composição introversão e extroversão no indivíduo.

Se pensamento é uma característica fortemente introvertida, podendo levar inclusive à misantropia, o sentimento, sensação e intuição são características de oposição, traços mais extrovertidos.

Quando você conversa com alguém, o que você conscientemente decide escolher: o apreço pela presença da pessoa ou a experiência emocional e racional que a presença daquela pessoa traz a você?

Se você responder que aprecia tanto a presença da pessoa quanto a experiência que aquela pessoa te traz, qual das duas opções é mais intensa em você?

Experiências e sensações

Segundo Jung, o introvertido se relaciona mais com as experiências e sensações fornecidas pelo objeto do que com o objeto em si. Para o introvertido o objeto é apenas um meio para ele acessar suas emoções e seus pensamentos, sendo o objeto algo de importância secundária. O objeto é tão coadjuvante na vida do introvertido que há inclusive uma sensação de indiferença, desprezo e aversão ao objeto.

Introversão: uma relação com o subjetivo

Ou seja, o introvertido tem uma profunda relação com o subjetivo quando em contato com o objeto, diferentemente do extrovertido, que se relaciona com o objeto. E por objeto, compreenda que pode tanto ser uma pessoa quanto um mero objeto.

O Subjetivo e as decisões

Sendo o subjetivo algo tão relevante na vida do introvertido, compreende-se que o introvertido tende a considerar a subjetividade em detrimento dos fatos e dados concretos.

Essas características todas podem nos tornar pessoas egoístas e egocêntricas, mas Jung discorda daqueles que reduzem a introversão a tais adjetivos, pois para ele há uma compreensão maior no que move o introvertido a seus interesses, que é justamente a sua subjetividade.

Eu confesso que vejo essa característica como algo muito cruel. E Jung ainda diz que o introvertido nutre alguma aversão e repulsa pelo objeto. Imagina meus amigos lendo esse texto e pensando: “então, Daniela, o que você aprecia não é a minha amizade, mas as suas próprias experiências acerca da nossa amizade?”

Não parece cruel a vocês — como parece para mim — a compreensão de que pessoas são meramente um veículo para as suas próprias sensações?

É como o álcool: o que você aprecia (e isso serve tanto para os introvertidos como para os extrovertidos) não é o álcool, mas os efeitos gerados pelo seu corpo. Cada indivíduo terá sensações diferentes ao consumir a mesma bebida na mesma quantidade. Então o que é apreciado é a nossa sensação (induzida pela bebida) e não a bebida. Imaginar pessoas por essa mesma perspectiva me soa muito cruel.

Quero dizer, eu compreendo que meus amigos introvertidos me enxerguem assim, como um veículo. Eu também os vejo dessa exatamente mesmíssima forma. Mas os meus amigos extrovertidos.. bom, acho que eles devem estar com más impressões a meu respeito agora.

Talvez você pense: “nossa, Daniela, você está enxergando um problema que nem existe. Larga mão.” Não sou a única a enxergar assim não, para Otto Weininger, o introvertido é um ser egoísta, egocêntrico e subjetivista.

E somos vistos como egoístas e egocêntricos justamente por prezarmos experiências subjetivas e não por fatos objetivos como os nossos amigos extrovertidos fazem.

Mas eu tenho uma explicação para essas criticas tão pesadas a nosso respeito: eu tenho amigos. Se eles são apenas o veículo para as minhas próprias sensações, por que eles são importantes? Porque a sensação que eles me trazem são únicas e insubstituíveis. De todas as interações que eu já tive na vida, nenhuma foi idêntica. Nunca me ocorreu de dizer: eu sinto exatamente as mesmas coisas quando interajo com A e B.

E de fato, compreender que um indivíduo é capaz de originar sensações tão boas dentro do outro é algo tão admirável. Há pessoas que, não importa o que façam e o quanto se esforcem, não conseguem despertar uma emoção sequer dentro do introvertido, mas outras, não precisam fazer muito para abrir um mar de sensações. A sensação pode estar no introvertido, mas a capacidade de induzi-la está no outro: no tom da voz, na maneira de utilizar as palavras, nos gestos e na expressão facial. Então diferentemente do que Weininger ou Jordan pensam a respeito de nós introvertidos, nós somos seres sensíveis que se deixam conduzir racional e emocionalmente pelos passos do outro.

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