Introversão — Sensação
Sensação é uma das cinco características da introversão.
A partir de hoje uma série de posts explicará cada elemento da introversão descrita por Jung — que posteriormente originaram o MBTI — e que você pode conferir no livro Tipos Psicológicos. O objetivo é esclarecer as diferenças e compreender o que cada traço contempla.
Acompanhe:
26/09 — Sensação
03/10 — Pensamento
10/10 — Sentimento
17/10 — Intuição
Para Jung sensação é o sentimento irracional, que não se conhece e nem se compreende a origem.
Como surge no indivíduo
Todo objeto gera um estímulo. Para introvertidos o estimulo surge com suas interpretações acerca deste. Tomado pela sensação, o indivíduo captura o estímulo para si e o desvincula do objeto. Esse é o chamado estímulo subjetivo.
Ao introvertido o estímulo do objeto parece quase impenetrável. Como se ele visualizasse de modo bastante diferente ou se atesse a outras características que ninguém mais vê. Na verdade, ele percebe as mesmas propriedades que todo o mundo, a diferença é que ele não se contenta com a influência objetiva e se preocupa em extrair sua própria experiência.
Percepção subjetiva é marcadamente diferente da objetiva. O que é percebido não é sequer encontrado ou, em grande maioria, meramente sugerido pelo objeto.
Na arte, muitas vezes o agente gerador do estimulo nem está mais presente, mas a sua subjetividade sim.
Na arte
Eu sou uma grande fã do surrealismo e vejo na pintura uma representação da abstração humana. Surrealismo exige sensação e intuição. Quanto mais imaterial a experiência do sujeito, mais surreal será o resultado. Foi um movimento pautado pelos traços irracionais, para Jung. Os pintores da época alegavam terem sido inspirados pelas ideias de Freud a respeito das forças inconscientes.
Ver uma maçã onde não há ou onde não deveria haver exige que o objeto seja distorcido e manipulado na mente do artista.
Combinar elementos que são impossíveis de serem combinados na realidade é uma junção da compreensão do real somada ao caos presente na interpretação humana.
A preferência em retratar sonhos e distorções de experiências pessoais reforça o gosto do movimento por abstrações.
Como saber se você é um introvertido de sensação?
[1] Sensação é algo irracional, então você frequentemente sente algo que não sabe explicar;
[2] Você é muito apegado a experiências que ninguém parece dar tanta importância;
[3] Tem preferências e gostos que se repetem;
[4] Suas decisões às vezes são baseadas mais na sensação do que na razão;
[5] Não conseguir expressar suas opiniões e propensões com argumentos;
[6] Contemplação.
Alguns exemplos:
[1] O indivíduo de sensação pode se conflitar diante de uma simples pergunta “você se sente feliz?” — dado o fato de haver uma sensação positiva e não exatamente o sentimento de felicidade, ele não compreende ao certo o que sente, é capaz apenas de avaliar que sente algo bom;
[2] Isolar-se dos demais para escrever ou ouvir música, sentar no banco de uma praça sozinho para observar, passar muito tempo pensando, refletindo ou lendo;
[3] Ouvir a mesma música ou o mesmo trecho, olhar uma foto, assistir ao mesmo filme, fazer o mesmo ritual ao iniciar uma atividade ou simplesmente ter um ritual que sejam movidos pela expectativa em se obter uma sensação ou um “sentimento agradável”;
[4] Na busca pela sensação agradável, a pessoa decide que irá fazer alguma coisa ou que não irá fazer;
[5] Geralmente a explicação parece se resumir a algo como “eu gostei”, “é bom”, “eu achei legal”, porque é o máximo do compreensível que é possível externar;
[6] Contemplar é admirar, olhar fixamente para algo. Na sensação o objeto admirado tem pouco valor, o introvertido preza pela sensação que o objeto transmite a ele.
No item 6 eu tenho um exemplo: olhar nuvens me faz sentir algo bom. E eu olho pra elas fixamente na esperança de que a sensação permaneça em mim por mais algum tempo.
Jung é muito enfático ao dizer que introvertidos têm desprezo pelo objeto. O que o introvertido captura são sugestões que o objeto pode dar e vê detalhes que passam desapercebidos. Essa informação distorcida que o introvertido obtém cria as sensações.
E há alguma vantagem na sensação?
Sim, tem! Se você trabalha ou ao menos aprecia arte e criação, subjetividade é um diferencial. A sensação (subjetividade) alimenta o senso criativo de uma forma que objetos não podem alimentar.
Eu escrevi no Writing Cooperative (e eu recomendo fortemente que você leia) os benefícios de ser escritor introvertido. Por ser muito observador e atento aos detalhes ele infere mudanças e consegue deduzir padrões e comportamentos que ninguém mais faz pois ninguém está disposto a observar. Tal característica coloca-o sempre um passo a frente dos demais seja na criação ou em qualquer outra área.