Nossas personas
O que é persona?
Segundo Jung, persona é a face que nós apresentamos ao mundo. É essa fantasia que nós vestimos quando vamos a uma reunião de pais na escola, ao trabalho, faculdade e até mesmo em nossas relações mais próximas. Uma mesma pessoa que é filha, mãe, esposa e profissional utiliza de diversas personas inclusive em sua relação com seus pais, filhos, marido e colegas de trabalho. Todos nós utilizamos desse recurso, mas sem o devido conhecimento a respeito, nem todos nós sabemos identificar nossas próprias personas.
Minha relação com as personas
Eu tenho algumas personas, as mais evidentes são: a moça que escreve sobre introversão no medium, a descompromissada do twitter e a louca da lowcarb no Facebook. Mas a faceta mais forte dentro de mim é a de aluna aplicada, inteligente e extrovertida. E por forte eu me refiro a solidificada. É a faceta que eu mais investi energia para construir — e consegui — e agora é a faceta que mais tenho dificuldade em destruir.
Quanto tempo dura uma persona?
Nós exibimos uma parte de nós ao mundo, uma parte minúscula. E muitas vezes investimos pesado para que o mundo compre essa nossa característica. Porém é comum mudarmos ao longo da vida. É comum percebermos num determinado momento que aquele lado muito específico que mostramos ao mundo já não nos representa mais. Nesse momento a nossa persona expira, tem o seu prazo de validade vencido.
Meus problemas com minhas personas
Como eu passei alguns anos investindo na minha persona de aluna aplicada e extrovertida, as pessoas compraram-na. Agora que eu não a quero mais, as pessoas me empurram a persona de volta. (Eu sinto como se me devolvessem a minha própria batata quente)
É assim: apesar de hoje minhas interações serem honestas, sem personas, as pessoas desconhecem minha nova reação e aguardam que eu corresponda a interação com a persona. Uma persona que não existe mais.
Manter uma persona consome energia, portanto é uma tarefa cansativa. Veja, a Daniela que escreve sobre introversão é apenas uma parte de mim. Quando eu sento para escrever sobre o assunto, eu foco todas as minhas habilidades em uma única tarefa: pensar acerca do tema introversão. Essa dedicação total a minha persona introvertida pode saturar ou então eu posso perceber que não é mais essa faceta que eu quero mostrar aos outros.
E seguramente é um problema que todos nós enfrentamos, em alguma ocasião.
Incongruência e desintegração
Às vezes apresentar termos novos nos ajuda a pesquisar mais sobre o assunto. E sobre os problemas que as personas podem nos trazer nós temos dois termos:
Incongruência é um termo definido pelo psicólogo americano Carl Rogers, que dizia que um indivíduo precisa ser congruente, ou seja, ter a sua autoimagem de acordo com o seu ideal de imagem. Por exemplo: o introvertido que se força a agir como extrovertido. Assim há uma incongruência, pois a autoimagem (quem eu sou) está em desacordo com a imagem ideal (quem eu gostaria de ser).
Desintegração é um termo cunhado por Jung. A desintegração ocorre quando as ideias coletivas ofuscam a individualidade. Por exemplo: algumas pessoas na faculdade compraram tanto a ideia de que sou uma aluna aplicada E extrovertida, que quando eu finalmente quero me livrar da persona, elas me devolvem a expectativa que criaram sobre mim. Essa expectativa, digamos assim, oprime a minha natureza.
Como conviver com as personas?
As personas são necessárias. Não é errado e não há mal em utilizar-se delas. O perigo está em se identificar em demasia com a persona. Jung chama o evento de identificação. Lembre-se: a persona é uma parte do todo. É uma parte que você pega, amplia 200x e aplica em determinado ambiente/situação. Fora do ambiente, você não é mais uma parte de você e sim você integralmente. Compreender quando utilizar uma parte de você e quando ser você por completo, honestamente, é uma prática fundamental para conviver de forma saudável com nossas personas.
Persona tem prazo de validade?
Minha opinião particular acredita que sim. Eu honestamente não sei o que a literatura diz a respeito. Eu penso que personas expiram quando aquela parte que nós ampliamos já não existe mais em nosso todo. Eu já vivi a persona da adolescente rebelde, mas hoje eu não sou mais nem rebelde e tampouco adolescente. Essa persona expirou. Eu não me identifico mais. Me seria nocivo manter um personagem que em nada tem a ver com a Daniela dentro de mim. Então eu acredito que, quando essa parte que nós ampliamos e mostramos à sociedade já não existe mais em nós, a persona expira.
Quando se desfazer das personas?
Será que, além do prazo de validade, existe um momento adequado para se desfazer das personas? Qual a sua opinião?
Novamente, minha opinião pessoal é: eu também acredito que sim, existe um momento adequado para nos desfazermos de nossas personas. Às vezes a característica em nós não expira, mas o ambiente que aplicamos a nossa persona se transforma.
Pode ser uma mudança de ambiente, uma mudança de status, título, etc. Uma promoção no trabalho seria argumento suficiente para alguém mudar sua persona profissional. A mudança de namoro para casamento também traria novas personas ao casal. Mudar de cidade ou de país. Ter um novo emprego. Etc..
Conclusão:
Talvez você nunca enfrente uma situação que te faça querer abandonar a sua persona. E se assim for, ótimo. Contudo, podem haver situações em que sua transformação foi tão grande que você já não se identifica mais com a persona que construiu e que vem mantendo ao longo dos anos. Acerca das personas, este me parece o maior problema que elas podem trazer. E se isso ocorrer, aos poucos se desfaça da persona anterior, mas não a substitua já de pronto por sua nova persona; se permita um tempo para respirar, para ser você, sem persona. Até para conhecer o seu novo eu na prática e perceber quais nuances e qual a intensidade da sua nova persona você deve exibir. E claro, esteja sempre preparado para o momento em que a nova persona ficará velha e você deverá substitui-la por outra.