O dia que finalmente descobri quem eu sou
Dia 23/12/2016 foi o dia em que eu tirei um peso das minhas costas, um peso que eu carreguei por longos anos.
Nesse dia eu comecei a ler um livro chamado O Poder do Quietos, da Susan Cain. O que me levou a este livro foi uma curiosidade sobre mim que nos últimos meses parecia ter aumentado exponencialmente: meu gosto por ficar sozinha.
Eu sempre nutri a ideia de que o correto era ter vários amigos, gostar de socializar, rir com facilidade, ser persuasiva, assertiva, comunicativa e exageradamente expressiva. E por várias vezes eu tentei ser assim, eu me forcei a ser assim. Não foi bom, não deu certo e eu não recomendo.
E apesar de eu sempre ter gostado da solidão e da contemplação, eu não compreendia porque eu era assim. Eu pensava que, por eu gostar de me isolar, havia algo de errado comigo e quando eu finalmente começasse a me sentir confortável no meio de uma roda imensa de pessoas, então eu estaria com a mente e com o espírito em ordem.
Popularidade deve ser sinônimo de sucesso interno. Somente as pessoas bem resolvidas devem conseguir ser populares, pois popularidade requer uma engenharia interna que eu não tenho. Um dia eu vou ter — eu pensava ingenuamente.
We’re conditioned from early education to believe that the traits typically associated with extroversion are desirable if we want to be leaders in business: openness, outgoing nature, and oodles and oodles of confidence. (…) After all, it takes a great, big personality to dominate a negotiation, inspire an investor, or motivate an entire company of workers. But…what if that didn’t really matter after all?
One Surprising Truth About Introverts — Larry Kim
E nos últimos meses meu gosto pela solidão havia aumentado ou, talvez não, talvez eu apenas estivesse me tornando mais consciente sobre meu gosto pela solidão. É possível que seja a última opção.
E foi por essa percepção que eu comecei a ler esse livro. Com ele, eu comecei a entender que eu sou introvertida. Bom, isso eu já suspeitava, porém eu não sabia ao certo o que significava “introversão”. Pra mim, introversão era um estado emocional e não um temperamento — um traço imutável do comportamento. Foi quando eu entendi que nascer introvertida equivale a nascer destro ou canhoto, por exemplo, que o peso todo desapareceu. Pra quem não sabe, lá vai uma breve explicação:
Introvertidos recarregam suas energias ficando sozinhos enquanto extrovertidos recarregam socializando.
O oposto é válido: se você quer exaurir a energia de um introvertido, o faça socializar; se você quer exaurir a energia de um extrovertido, o deixe na solidão.
E não, um introvertido não se torna um extrovertido. É possível melhorar os skills sociais, é claro, mas apreciar o convívio social como faz um extrovertido, jamais. Compreenda que nascer intro ou extrovertido é como nascer com olhos castanhos, olhos puxados, sobrancelhas pretas.. não é possível mudar tais características.
Então eu revisitei toda a história da minha vida, minha infância e meu desespero de ir à escola, minha adolescência e meu gosto de ficar em casa ouvindo música e por último, minha fase adulta, onde passo boa parte do tempo sozinha, seja escrevendo, ouvindo música, lendo ou contemplando a chuva, árvores, pôr do sol, etc.
I’m introverted, that’s the problem.
Actually, that’s not it.
The problem is I know I’m introverted.
I’ve started using it as a crutch, as I suspect most self-proclaimed introverts often do.
‘Introvert’ or coward? — Patrick Wiltse
Eu, diferentemente deste texto, não encarei minha introversão como muleta, na verdade, meu autoconhecimento me trouxe liberdade. Liberdade por compreender que quando me chamam para sair e eu não quero, é porque eu prefiro minha própria companhia e não porque há algo de errado comigo. No texto acima, o autor começou a usar sua introversão como desculpa para se esquivar de algumas situações, comigo foi diferente: antes de eu saber que era introvertida, eu me forçava demais a “ser extrovertida”. E eu saía da situação me sentindo infeliz, cansada e derrotada — por mais que eu me esforçasse em aparentar extroversão, eu sentia que eu não conseguia ser extrovertida o suficiente. Esta cobrança de “ser extrovertida” me incomodou durante todo esse tempo. Em resumo, eu não me aceitava do jeito que eu sou, porque na minha concepção, baixo skill social estava associado a algum problema emocional ou psicológico. E quando eu finalmente descobri que apreciar a própria companhia significava que este é o meu temperamento e que em vez de eu rejeitar, eu preciso me aceitar e desfrutar de ser quem eu sou, eu tirei um grande peso das costas. Eu me senti encontrando a liberdade. Foi magnífico.
Após essa descoberta, se tornou mais fácil eu rejeitar convites para sair, falar com mais segurança “eu não quero ir, eu quero ficar em casa”, se tornou mais fácil perceber a exaustão que a socialização me gera e eu finalmente descobri que para recarregar minhas baterias, algumas horas isolada do mundo é o suficiente.
O livro da Susan Cain foi importantíssimo para descobrir quem eu sou. Se você acha que é introvertido, ou talvez tímido, eu recomendo fortemente a leitura. Leia e depois venha me contar o que achou, ok? ❤