Por que ansiosos, depressivos e bipolares negam ajuda?
Frequentemente eu recebo no meu e-mail — e antigamente, no meu Facebook — pedidos de ajuda sobre como lidar com pessoas que têm depressão ou transtorno bipolar.
Antes de começar o texto, vou postar aqui outros textos que abordam o tópico depressão, ansiedade e transtorno bipolar.
Recomendo fortemente que você os leia para adquirir uma boa bagagem sobre o que é a depressão e a bipolaridade. Depois você volta aqui para saber como ajudar.
Então, vamos começar.
Este texto tem o propósito de auxiliar pessoas que namoram, são casadas, ou tem amigos, e querem ajudá-las.
A primeira coisa que você deve avaliar é se a pessoa QUER AJUDA.
Isso precisa ser muito claro para você. Pessoas só melhoram quando querem receber ajuda. Não adianta você querer ajudar e a outra parte não querer receber.
Por que meu/minha parceiro(a) não quer receber ajuda?
Respondendo de modo objetivo e honesto, eu não sei. Nós podemos especular, levantar hipóteses, mas nada é certo.
Você já perguntou o motivo de a pessoa não querer receber ajuda? Deixou a pessoa se explicar?
Encarar um transtorno é algo muito difícil, que exige muita coragem para se enfrentar. Olhar para dentro é assustador. Não é bonito e não é divertido.
Quando falamos em transtornos, falamos apenas dos defeitos e das fraquezas da pessoa. Ninguém é elogiado ou admirado por ter acabado de cortar os pulsos, por ter virado a noite acordado por causa de uma crise de mania, por ter brigado com alguém sem motivo algum.
É cruel ter suas fraquezas expostas, suas inseguranças, receios, traumas, e ter que ficar martelando nestes assuntos o tempo todo.
Quando você decide enfrentar o seu diagnóstico, você precisa refletir profundamente sobre o seu pior lado, seja com o psiquiatra, psicólogo, com os amigos mais próximos e familiares. É uma constante exposição do seu lado mais fraco. É ruim.
Não querer se submeter a essa rotina expositiva pode ser um dos motivos pelos quais a pessoa não quer receber ajuda. Talvez a pessoa encare essa exposição como algo humilhante.
Existe ganho até na perda.
Outra possibilidade aborda os ganhos que a pessoa pode ter ao se fazer de vítima.
Anos atrás, quando eu fazia meditação, eu aprendi um termo, se chama “vítima tirana”. Já conheceu alguma pessoa doente que tiraniza todo mundo sob o argumento de estar doente?
“Faça aquilo para mim, você sabe que eu não consigo fazer, eu estou doente!”
“Você é egoísta porque não me ajuda, e deveria me ajudar porque estou doente!”
“Você precisa esperar que eu te peça para fazer? Não está vendo que eu estou doente?”
Talvez, veja, talvez, o seu parceiro seja uma vítima tirana.
Existe um conforto na doença, não se pode negar. É comodo estar doente, pois os esforços não partirão mais do doente, mas das pessoas próximas a ele.
Negar ajuda significa manter-se na situação e usufruir da boa vontade das pessoas. Tem o seu benefício, não é mesmo?
A crença de que pedir ajuda é errado.
Outra possibilidade é de que a pessoa acredite que é capaz de dar conta dos problemas sozinha;
De que não tenha dimensão da gravidade que é receber um diagnóstico de bipolaridade, ansiedade e depressão — e por isso está tentando se resolver sozinha em vez de pedir ajuda;
Ou acredite que pedir ajuda é errado e que deve se virar.
Pedir ajuda é para poucos.
O que é pedir ajuda? Vamos entender.
- É preciso perceber que tem um problema;
- Perceber que o problema é maior do que a sua capacidade de resolvê-lo sozinho;
- Ser humilde e pedir ajuda;
- Saber que é normal precisar de ajuda. Não acreditar que precisar de alguém é errado.
De forma bem simples, é assim que pedimos ajuda. Se uma pessoa não consegue se resolver sozinha e ainda assim insiste em não pedir ajuda, talvez ela esteja com dificuldade em enfrentar alguma dessas etapas.
Cabe a você, como companheiro(a) tentar descobrir em qual dessas etapas a pessoa está com dificuldade em se resolver. Mas, lembrando, pode ser algo bastante consciente e determinado, pode ser que a pessoa não queira ajuda, que queira permanecer do jeito que está. E aí, infelizmente, não há nada que possamos fazer.
Nesse caso, eu te passo outra atividade, a de você, como pessoa que quer ajudar, fazer uma autoavaliação e perceber se é saudável manter um relacionamento (seja um namoro, casamento, amizade) com alguém que, não somente recusa ajuda, mas contamina as pessoas que estão ao seu entorno.
Relacionar-se com pessoas que recusam ajuda e não querem melhorar tem um nome, se chama relacionamento tóxico. O que também pode evoluir para um relacionamento abusivo.
Reflita a respeito de tudo o que eu escrevi aqui. Você acha que vale a pena?
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