Como gerir a criação do seu produto digital

Jefferson Olyntho Neto
ioasys-voices
Published in
12 min readSep 29, 2020

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Neste artigo, vou explicar sobre como gerir a criação do seu produto, focando na agilidade, nos métodos e nas práticas.

Mundo VUCA

Sabe aquela sensação de que tudo muda a todo momento, pessoal? Pois é, ela explica bem o mundo VUCA, que é um conceito utilizado para ilustrar o contexto de caos e imprevisibilidade que a gente vive hoje. Em especial, neste momento de pandemia, né?

VUCA é um acrônimo do Inglês, representado pelas palavras volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade.

É uma ideia que teve origem nos anos 90, na época da guerra fria, e buscava explicar a complexidade e as incertezas da situação geopolítica mundial. Em 2008, em função da crise econômica mundial, esse conceito do Mundo VUCA passou a ser aplicado mais fortemente, também, nos ambientes corporativos; e de negócios.

Para se manterem competitivos, os profissionais, os gestores e as empresas vão precisar inovar, buscar estimular a troca de ideias e o trabalho em equipe. Assim, poderão se concentrar na construção de Visão, Entendimento, Clareza e Agilidade para lidar e superar os impactos do mundo VUCA. Um bom exemplo recente é das empresas que se juntaram para construir respiradores artificiais que são tão necessários no combate à COVID-19 nos seus estágios mais avançados. Essas empresas precisaram, definitivamente, saírem de sua zona de conforto, promovendo a colaboração na busca de ideias para solucionar os problemas complexos que estamos enfrentando.

O que é ser ágil?

Ágil é um mindset! Um modelo mental definido por valores, guiado por princípios e manifestado por práticas. Ser ágil é ter a capacidade de criar e responder à mudanças contínuas. É uma maneira de lidar com o ambiente incerto e turbulento do mundo VUCA, e ter sucesso, claro!

A compreensão desse modelo mental é necessária para conseguir cultivar equipes de alta performance. Então, essas equipes vão ter como seu principal objetivo oferecer um valor incrível para os seus clientes, com foco no resultado.

É importante destacar que as experiências que mudam pensamentos e não os pensamentos que mudam as experiências. Aprender com nossos os erros e fracassos, exercitar a nossa capacidade de adaptação, ter foco na entrega de valor e orgulho dessas entregas, exemplificam bem esse mindset.

Ciclo de feedback do Lean Startup

O ciclo de feedback do Lean Startup ilustra bem uma forma de colocar em prática o mindset ágil. Por meio deste ciclo, trabalhamos para minimizar o tempo total de entrega de um produto, aplicando inovação continuamente.

A partir de uma hipótese, buscamos testar ideias com a construção do produto, que seja mínimo e viável: um MVP! Entregamos o produto para um público experimentar e medimos suas percepções. Coletamos dados através de feedback para aprender mais sobre o público, seu comportamento e sobre o próprio produto.

Nossos esforços devem ser direcionados para acelerar esse ciclo contínuo de feedback. Assim, eliminamos incertezas e procuramos entender se é preferível incrementar, pivotar ou recomeçar do zero, até encontrar algo que os clientes realmente vão gostar.

Metodologias ágeis
Adaptar as coisas conforme sua realidade.

Metodologias ágeis são abordagens que habilitam formas de gerenciar projetos e de desenvolver produtos mais adaptáveis à mudanças e estão alinhadas aos valores e princípios do Manifesto Ágil.

Suas principais características são:

● Ciclos curtos;
● Entregas rápidas e frequentes;
● Processo incremental;
● Equipe pequena, autogerenciável e multidisciplinar;
● Foco na qualidade e simplicidade;
● Entrega de alto valor para o cliente.

Manifesto ágil

O Manifesto Ágil é uma declaração de valores e princípios essenciais para o desenvolvimento de software. O documento foi concebido nas montanhas de Utah, nos Estados Unidos, em 2001, por 17 profissionais que praticavam diferentes métodos ágeis, mas compartilhavam os mesmos fundamentos. Abordando valores que todos os profissionais que estavam ali reunidos concordaram em seguir e disseminar.

O Manifesto Ágil declara que:

"Estamos descobrindo maneiras melhores de desenvolver software, fazendo-o nós mesmos e ajudando outros a fazerem o mesmo”.

Valores do Manifesto Ágil

O Manifesto Ágil sugere que passemos a valorizar:

"Indivíduos e interações mais que processos e ferramentas
Software em funcionamento mais que documentação abrangente
Colaboração com o cliente mais que negociação de contratos
Responder a mudanças mais que seguir um plano"

Dessa forma, ele estabelece que mesmo havendo valor nos itens à direita, valorizemos mais os itens à esquerda.

Essa visão dos 4 valores pode nos ajudar a compreender algumas diferenças entre a gestão de projetos clássica e a gestão de projetos ágil.

Princípios do Manifesto Ágil

O manifesto Ágil se tornou uma referência em agilidade, para a comunidade, e está baseado em 12 princípios:

  1. A mais alta prioridade é a satisfação do cliente através da liberação mais rápida e contínua de software de valor.
  2. Processos ágeis devem admitir mudanças que trazem vantagens competitivas para o cliente.
  3. Libere software com a frequência de duas semanas a dois meses, com preferência para a escala de tempo mais curta.
  4. Mantenha as pessoas dos negócios e os desenvolvedores trabalhando juntos a maior parte do tempo do projeto.
  5. Motive o time, dê a eles o ambiente e suporte que precisam e confie neles para ter o trabalho realizado.
  6. O método mais eficiente e efetivo de repassar informação
  7. Software funcionando é a principal medida de progresso.
  8. Os patrocinadores, desenvolvedores e usuários devem ser capazes de manter conversação pacífica indefinidamente.
  9. A atenção contínua para a excelência técnica e um bom projeto aprimora a agilidade.
  10. Simplicidade — a arte de maximizar a quantidade de trabalho não feito — é essencial.
  11. As melhores arquiteturas, requisitos e projetos emergem de equipes auto-organizadas.
  12. As equipes devem refletir sobre como se tornarem mais efetivas, e então refinar e ajustar seu comportamento.

Scrum

Origem e conceitos

O nome Scrum foi inspirado na jogada de reposição de bola parada, do Rugby. É um framework para aplicação na criação de produtos, ajudando projetos complexos a entregar mais valor de forma mais ágil e transparente

Sem dúvida, é a abordagem mais usada nos dias de hoje. Não é um processo, técnica ou um método definitivo. Porém, permite o emprego de diversos processos ou técnicas em qualquer ambiente de trabalho.

Seja no rugby ou como framework de desenvolvimento de produtos, sempre vai representar o trabalho em equipe, a sincronia, força e a inteligência utilizadas juntas para algum objetivo: resolver problemas complexos em geral.

Consiste de times Scrum associados a papéis, eventos, artefatos e regras. Cada componente dentro do framework serve a um propósito específico e emprega uma abordagem iterativa e incremental para aperfeiçoar a previsibilidade e o controle de riscos.

Pilares

Scrum está apoiado em 3 pilares de controle principais:

Transparência: Definição padrão comum, para que todos tenham o mesmo entendimento, sejam eles os responsáveis pelo trabalho ou observadores.
Inspeção: O time deve, constantemente, inspecionar artefatos e progresso em direção ao objetivo para detectar variações indesejadas. As inspeções não devem ser frequentes a ponto de atrapalhar o objetivo dos trabalhos.
Adaptação: Se um inspetor determina que um ou mais aspectos desviou para fora dos limites aceitáveis, o resultado do produto será inaceitável, então o processo ou o material produzido deve ser ajustado.

Time

O time Scrum é auto-organizável e multifuncional. É composto por papéis bem definidos:

● Product Owner;
● Scrum Master;
● Time de desenvolvimento;

Eles incorporam e vivem os valores do Scrum, que são:

● Comprometimento;
● Coragem;
● Foco;
● Transparência
● Respeito.

O Product Owner representa a visão e a necessidade do cliente e os demais envolvidos. É responsável por:

● Gerenciar o backlog do produto;
● Definir as funcionalidades do produto;
● Apresentar às funcionalidades para o time construir;
● Maximizar o valor do produto e o trabalho do time.

O Scrum Master é responsável pela operação. É líder e servidor ao time, ajudando eles a focar nos itens de trabalho. Busca cumprir:

● As metas diárias;
● As metas da sprint;
● Os compromissos assumidos pelo time com o PO.

O time de desenvolvimento é responsável pela construção e entrega do produto para o PO. São auto-organizados, multidisciplinares e devem se esforçar para desenvolver tais competências ao longo do tempo. Fazem o que for necessário para materializar a entrega do produto.

A sprint e seus eventos

O Scrum busca decompor o produto em entregas menores, gerando incremento potencialmente liberáveis a cada sprint.

As sprints são organizadas em torno de 4 eventos que permitem ao time criar regularidade, inspecionar, adaptar o trabalho e cumprir sua meta. Elas podem ser semanais, quinzenais ou mensais. O importante é que tenham datas de início e fim bem definidas.

Sprint planning

O primeiro evento é o Sprint Planning, que acontece no primeiro dia da Sprint. É o momento em que definimos o backlog da sprint, a partir de um recorte de funcionalidades, características e regras de negócio priorizadas do backlog do produto.

Na primeira parte, realizamos o entendimento dos itens do backlog apresentado pelo Product Owner. Já na segunda parte, o time estima o tamanho do backlog, decompondo nas tarefas que serão realizadas ao longo da sprint. O backlog da sprint, representa o que deve ser entregue ao final da sprint. É a meta do time!

Daily meeting

Realizamos, diariamente, a Daily meeting. É um evento em que o time relata o que fez no dia anterior, planeja o que será feito no dia atual e destaca situações, problemas que estão impedindo a entrega das atividades planejadas. Então, o Scrum Master atua para remover estes impedimentos e, principalmente, protegendo sua produtividade. Ela tem uma duração de 15 minutos e é realizada sempre no mesmo horário e no mesmo local.

Review e retrospectiva

Ao final de cada sprint, realizamos 2 eventos.

Na sprint review, o time apresenta os resultados da sprint. Buscando, também, obter feedback, e identificar o que foi finalizado e o que não foi. Assim, podemos definir o que deve ser feito a seguir e decidir se o que foi entregue deve continuar a ser aprimorado por mais uma Sprint ou se deve ser liberado em um release, que pode ir para produção, ou não.

O último evento é a retrospectiva. Nele, o time busca refletir sobre a condução das atividades, reconhecer o que funcionou e o que não funcionou. Assim, conseguimos levantar ações que poderão ser colocadas em prática para adaptar e melhorar o processo de trabalho, seu relacionamento e o uso de suas ferramentas.

Então, encerramos a sprint para iniciar outra, seguindo esta mesma dinâmica.

Kanban

Origens e conceitos

O nome Kanban vem da palavra japonesa que representa um “cartão visual”, utilizado para registrar ações. Tem origem no modelo de controle de linha de produção e de gerenciamento de estoque, das indústrias de manufatura da década de 60.

O Kanban é um método que nos mostra como funciona a nossa maneira de trabalhar. Tem como objetivo visualizar o trabalho, limitar o trabalho em andamento e maximizar a eficiência do processo. Se preocupa com o design, gestão e melhoria dos sistemas de fluxo para o trabalho do conhecimento.

As equipes do Kanban se concentram em reduzir o tempo necessário para levar um projeto do início ao fim. Elas fazem isso usando um quadro visível a todos (um kanban físico ou virtual), buscando melhorar continuamente seu fluxo de trabalho e refletir a realidade.

Princípios

O método Kanban está apoiado em 4 princípios:

  1. Trabalho visual para aumentar a comunicação e a colaboração;
  2. Parar de começar e começar a terminar. Limitar os trabalhos em progresso para evitar uma sequência de tarefas não prioritárias sem fim;
  3. Medir e otimizar os fluxos de trabalho, coletar métricas e prever problemas futuros;
  4. Visar a melhoria contínua como o resultado dessas análises.

Scrum x Kanban

No Scrum, empregamos um ritmo de trabalho cadenciado por meio da realização de sprints regulares e de duração definida. Já no Kanban, o fluxo de trabalho é contínuo.

Enquanto no Scrum temos papéis bem definidos (Product Owner, Scrum Master e Dev Team), no Kanban não há papéis definidos.

No Scrum, temos entregas ao final de cada sprint. Uma release do produto é entregue e pode ser aprovada, ou não. Já no Kanban, temos entregas contínuas.

Enquanto no Scrum o time precisa lidar com as mudanças e se preocupar que elas não comprometam a meta da sprint, no Kanban as mudanças podem ocorrer a qualquer momento.

Podemos dizer que o método Kanban foca mais no acompanhamento visual dos processos; e o framework Scrum no gerenciamento do produto. Por isso, a adoção em conjunto dos dois é muito utilizada.

Linha do tempo da agilidade

O conceito de agilidade evoluiu naturalmente ao longo dos anos e tomou força nos anos 90. Resultando na criação de diferentes modelos que dão suporte à projetos. As melhores práticas de desenvolvimento de software só começaram a ingressar no caminho da agilidade no início dos anos 2000.

Podemos observar sua história como um movimento social compreendido em 3 ondas. Cada onda representa uma fase de desenvolvimento na prática da agilidade e o aumento de sua influência. Quando as práticas se estabilizam, está formado o consenso sobre como aplicá-las para obter bons resultados. Então, uma nova onda começa e o ciclo se repete.

Na primeira onda, o foco foi na formação de pequenos times ágeis para produzir softwares melhores, a partir da publicação do Manifesto Ágil, em 2001. Bons exemplos de métodos ágeis desta onda são o Scrum e o XP.

Na segunda onda, o foco foi na integração e coordenação do trabalho entre os times ágeis nas organizações maiores em escala. Ela teve início a partir da publicação do livro “The Enterprise and Scrum”, em 2007. Esta onda ganhou força em 2008 com outra publicação, “Scaling Lean and Agile Development”, e segue em seu desenvolvimento.

O desenvolvimento das transformações ágeis em escala apontou o surgimento de uma terceira onda, com foco na agilidade nos negócios (ou Business Agility). Esta onda busca transformar a forma como as organizações são lideradas e gerenciadas com a promoção de uma cultura de aprendizado organizacional e adotando operações ágeis em toda a organização. Teve seu início em 2010, com o Management 3.0, e ganhou força com o Lean Startup, em 2011.

Outras metodologias

Como vocês podem observar, existem diversas abordagens ágeis por aí. Eu acredito que elas permitiram que muita coisa mudasse, melhorasse e evoluísse. Começando no mundo da computação e se estendendo para o mundo dos negócios.

Ainda há muita discussão sobre qual a melhor, qual a mais indicada para determinado cenário. Mas “não há bala de prata”. Elas estão disponíveis para que a gente consiga ter o nosso trabalho entregue.

Outro aspecto importante a ser destacado, é que muitas destas abordagens têm sido utilizadas em conjunto, muitas delas inspiram outras. O importante é buscar compreender seus pontos fortes e experimentar e ajustar ao seu modo de trabalho na busca pela agilidade.

Ideias chave

Gostaria de apresentar a vocês algumas ideias-chave, algumas provocações para despertar interesse na adoção de práticas ágeis e na mudança de mindset.

● Pense simples e aja rápido.
● Experimente. Explore. Adapte.
● Seja transparente.
● Otimize a comunicação.
● Não cometa os mesmos erros.
● Falhe rápido e aprenda mais rápido ainda.
● Métricas moldam comportamentos
● Agradeça, reconheça e recompense bons comportamentos.
● Lidere dando o exemplo.
● Trabalhe em equipe e busque multidisciplinariedade.
● Um time, um só objetivo.
● Auto organização do time aprimora a agilidade e eficiência na entrega.
● Termine as atividades que sejam de maior valor primeiro.
● Torne as atividades visíveis e monitore.
● Reduza ou elimine atividades que não agregam valor para o cliente.
● Feedbacks recorrentes são essenciais para a melhoria.
● Execute o trabalho incrementalmente e verifique os resultados a medida em que você avança.
● Alinhe restrições importantes e resultados esperados.
● Busque entender o que os seus clientes valorizam.
● Reduza o risco entregando frequentemente e tendo o cliente por perto.
● Trabalhe para alcançar ótimos relacionamentos com os clientes.

Para concluir, quero apontar que a agilidade e suas abordagens não vão resolver os seus problemas, mas sim destacá-los. Ela vai nos estimular a aprender durante o decorrer do próprio trabalho e a tomar decisões melhores com base neste aprendizado.

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Jefferson Olyntho Neto
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Computer science graduate. IT & Project Management postgraduate. IT Expert acting as Delivery Manager in Agrotech. CSM + CSPO + KMP-1 + M3.0 + S@S.