Como transformar suas relações pessoais e profissionais através da CNV?

Luana Ribeiro
ioasys-voices
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4 min readJul 15, 2020

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A técnica da Comunicação Não Violenta foi criada pelo psicólogo americano Marshall Bertram Rosenberg. Suas indagações se iniciam em 1943, quando este, ainda na infância, assiste ao estopim de um conflito racial marcado por uma série de violências na região onde vivia, e sofria agressões motivadas por suas origens judaicas.

O psicólogo passa a se preocupar então com duas questões, (1) “o que acontece que nos faz desligar da nossa natureza compassiva e nos leva a nos comportarmos de maneira violenta e baseada na exploração das outras pessoas?” e (2) “o que permite que algumas pessoas permaneçam ligadas à sua natureza compassiva mesmo nas circunstâncias mais penosas?” (ROSENBERG, 2006, pág 19).

Em seus estudos sobre a habilidade de nos mantermos compassivos perante as situações difíceis, Rosenberg identificou uma valiosa abordagem comunicativa baseada no falar e ouvir com compaixão. Baseando-se nas concepções de Mahatma Gandhi, de que a violência passiva, de natureza emocional, subestimada pelos seres humanos e muitas vezes gerada por palavras seria o combustível do ciclo da violência física, Rosenberg nomeou a abordagem estudada por Comunicação Não-Violenta.

A comunicação não-violenta (CNV) nos ajuda a empregar uma visão cuidadosa e empática sobre a forma com que nos comunicamos e ouvimos ao outro. Ela é baseada em técnicas de comunicação que impulsionam o uso das palavras de forma clara, honesta e conscientes em relação a mensagem que está sendo passada. A CNV estimula, por meio da observação interior e exterior, o acesso às nossas verdadeiras necessidades individuais e as necessidades dos outros, e desestimula as defesas baseadas no julgamento, nas críticas, nas negações de responsabilidade, nas comparações e no ataque.

O processo de aplicação da comunicação não-violenta se dá em quatro componentes ordenados em: observação, sentimento, necessidades e pedido. O primeiro passo é observar com clareza, sem julgamentos ou avaliações sobre o que está ocorrendo ao nosso redor. O segundo passo consiste em identificar e reconhecer o que estamos sentindo diante de tal situação. O terceiro é identificar quais necessidades estão ligadas ao sentimento provocado e por fim, após trazer a consciência os passos componentes anteriores, devemos realizar de forma clara um pedido específico.

Expressando sentimentos sem o uso da CNV

“Nossa, que milagre você aparecer! Você nunca vem me visitar! Vai chover hoje! Aconteceu alguma coisa? O que você está querendo?”

Expressando sentimentos com o uso da CNV

“Faz três meses que você não me visita (observação sem julgamentos), isto me deixa chateada (identificação dos sentimentos envolvidos), pois tenho a necessidade de receber afeto e de ter mais conexão com você (identificação das necessidades), você poderia vir me ver uma vez por semana? (pedido claro e específico)”.

Após exercer estes quatro componentes, precisamos também estar receptivos para receber tais informações dos outros indivíduos. A CNV acredita que ao praticar tais ações de forma contínua, a compaixão será despertada e manifestada naturalmente nos envolvidos. Essa comunicação não é um processo engessado, mas adaptável às situações cotidianas e aos diversos tipos de relação: profissional, familiar, escolar, terapêutico, entre outros.

Nestes tempos de trabalho remoto, a CNV pode ser uma grande aliada. Ao estarmos em casa, isolados das pessoas, as oportunidades para validar nossos pensamentos são reduzidas e assim ficamos mais próximos de nosso imaginário. Para garantir uma troca de informações efetiva, a comunicação clara é um fator crucial.

Um dica para ter efetividade nas comunicações à distância, de acordo com o ebook Guia Prático para um trabalho remoto Não-Violento, é que antes de se fazer propostas ou pedidos, como o de ligar a câmera em uma reunião por exemplo, se conecte mais intensamente com o outro. Essa conexão pode ocorrer com o simples ato de informar o que se deseja ao fazer aquele pedido ou proposta. “Olá pessoal, adoraria aproveitar esse momento que estamos juntos para me sentir mais próximo de vocês e acredito que olhar para o rosto de cada um possa auxiliar nisso. Podemos todos ligar as nossas câmeras?”. Quando expressamos nossas necessidades e sentimentos ao fazer um pedido, as chances dele ser bem recebido e atendido por aqueles quem o recebe aumentam exponencialmente.

Outra dica valiosa para otimizar as relações e a comunicação à distância, é a prática de checar se o ouvinte interpretou a mensagem da forma com que você gostaria que fosse transmitida. Uma sugestão para tal é pedir gentilmente para que a pessoa repita a mensagem da forma que ela entendeu em suas próprias palavras. Dessa forma, caso haja divergências no entendimento da mensagem, você terá a oportunidade de, sem nenhum julgamento, mudar sua abordagem para garantir a efetividade da informação.

Por fim, outra dica é o cuidado na negociação e renegociação de prazos. A falta de clareza em relação aos prazos e prioridades de tarefas é prejudicial em qualquer forma de trabalho, e estando distante fisicamente dos colegas e líderes, pode ser um perigo ainda maior para a boa qualidade das entregas e das relações. Certifique-se de que esteja claro para a equipe os devidos prazos e prioridades, utilizar os componentes da CNV para tal, pode ser uma grande ferramenta.

O objetivo da comunicação não-violenta não é conduzir alguém a simplesmente atender uma solicitação ou mudar um comportamento, é estabelecer um relacionamento firmado em honestidade e empatia. Seu uso de forma clara e consciente pode gerar valiosos ganhos nas relações profissionais e pessoais. Agora que você já aprendeu um pouco sobre a aplicação da CNV, e ai? Já aplicou ela hoje?

Gostou do nosso conteúdo? Leia o texto sobre o “Princípio 90/10: Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes”.

BIBLIOGRAFIA

Amorim. Flávia. Guia prático para um trabalho remoto Não-Violento. Instituto CNV Brasil.

Rosenberg. Marshall B. Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais I Marshall B. Rosenberg ; [tradução Mário Vilela]. — São Paulo: Ágora, 2006.

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Luana Ribeiro
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Trabalho com pessoas e escrevo meus devaneios nas horas vagas.