Discovery e delivery contínuo: quando o ágil encontra o design

O discovery e delivery contínuo é uma abordagem poderosa para construir produtos inovadores de maneira ágil, através de times conectados. Nesse texto, vamos abordar suas principais etapas e aprendizados.

O discovery e delivery contínuo pode ser entendido como a união entre o desenvolvimento ágil e a abordagem do design. Tem o objetivo de escalar um produto digital de forma inovadora e centrada no usuário e vêm se tornando cada vez mais relevante nas organizações. Mas, na prática, ainda existem barreiras e desafios a serem superados.

Neste artigo, vamos falar sobre o que é o discovery e delivery contínuo, porque ele é importante e como podemos começar a colocar os seus princípios em prática. Para isso, organizamos o texto da seguinte maneira:

• Introdução sobre o tema
• O que é Discovery
• O que é Delivery
• Aprendizados do D&D

Para a leitura ficar mais fluída, algumas vezes vou me referir ao discovery e delivery contínuo como D&D.

Vamos lá?

Porque precisamos falar sobre D&D?

Estamos vivendo em um contexto cada vez mais acelerado, que exige alta capacidade de inovação para manter os produtos digitais relevantes e atrativos para os usuários. Por isso, a busca pelo aprimoramento com olhar no futuro é fundamental.

Quando se trata do desenvolvimento ágil de produtos digitais, métodos iterativos e incrementais, como Scrum, são amplamente difundidos. Em grande parte, foi esse mindset ágil que nos trouxe até aqui. Mas tudo indica que estes métodos sozinhos não serão capazes de responder às crescentes necessidades de acompanhamento do contexto do produto digital ao longo do seu ciclo de vida, possibilitando a sua reinvenção.

Metodologias pautadas pelo design tem se popularizado como uma alternativa para suprir esse gap. Elas possibilitam o entendimento profundo do usuário, suas necessidades e expectativas, agregando estas informações ao negócio para tomada de decisão.

Apesar de esse assunto ser atual e relativamente novo para muitas empresas, já vem sendo discutido a muito tempo. Em 2005, quatro anos após o lançamento do Manifesto Ágil, Jeff Patton e Marty Cagan já falavam em Dual Track como uma abordagem pautada em trilhas paralelas interconectadas de design e desenvolvimento.

Basicamente, essa abordagem trata sobre descobrir continuamente necessidades e potencialidades no comportamento do usuário (discovery), ao mesmo tempo em que se constrói continuamente soluções que abordem estes pontos de maneira a gerar valor para o negócio (delivery). Através do discovery e delivery contínuo, garantimos que nossos times estão gerando valor para o negócio de uma maneira que gere valor para o usuário.

A seguir, vamos entrar em detalhes sobre cada uma dessas etapas.

Discovery

É um processo de investigação que usa abordagens quantitativas e qualitativas para trazer uma visão mais profunda sobre um determinado assunto. Ajuda a manter um produto atualizado frente às necessidades, dores e desejos do usuário, movimentações do mercado e objetivos de negócio.

O design thinking é uma das abordagens mais utilizadas em processos de discovery (mas não é a única). Consiste em ciclos iterativos de divergência e convergência, que vão se aprofundando na medida em que se repetem.

Começa pela imersão completa no contexto do problema e incentiva a geração de ideias em quantidade. Em seguida, tangibiliza e testa as ideias com maior potencial, diminuindo a probabilidade de erros e garantindo a aderência ao problema inicial. Esta abordagem é uma das chaves para inovação, pois garante a avaliação de um número maior de possibilidades de maneira ágil, possibilitando a tomada de decisão assertiva.

Delivery

É um processo de tangibilização de uma solução em um produto, garantindo a viabilidade técnica, financeira e a usabilidade. O Scrum, por exemplo, é um modelo de desenvolvimento ágil que otimiza o processo delivery através do gerenciamento de entregas de valor. Mas muito além do Scrum, existem várias abordagens pautadas no mindset ágil.

O que essas abordagens possuem em comum é o princípio de se adaptarem à realidade, para serem práticas e relevantes. Normalmente são caracterizadas por ciclos curtos, entregas rápidas e processo incremental.

O ciclo de feedback do Lean Startup, por exemplo, ilustra de uma maneira interessante como aplicar o Manifesto Ágil. O ciclo se inicia a partir da validação de uma hipótese. A ideia é construída para ser testada e medida, e a partir dos aprendizados, é revisitada para ser aprimorada.

Como você pode ter observado, essa abordagem não é tão diferente assim da proposta do Design Thinking. Ambas têm o foco na geração de valor relevante, são iterativas, incrementais e compostas por metodologias de trabalho pautadas em um processo que potencializa a cocriação.

D&D na prática

Bom, se você chegou até aqui, é possível que esteja concordando que as duas abordagens fazem sim sentido juntas. Então, onde está o desafio?

O que observamos com frequência em grandes organizações é que o desafio está em quebrar os silos, encontrando uma maneira de trabalhar juntos através de uma cadência ideal entre os times. Apresentamos abaixo três aprendizados valiosos para te ajudar a colocar o D&D em prática.

Aprendizado #01: Encontre um ritmo ideal

Normalmente, o ritmo de discovery é mais lento que o de delivery. Enquanto uma sprint Scrum dura 7, 15 ou 30 dias, é usual que um ciclo de discovery na fase inicial do ciclo de vida do produto possa levar de um a três meses. Isso acontece pela própria natureza dos trabalhos que são realizados, que demandam ritmos diferentes. É fundamental estabelecer um processo para que os ritmos sejam respeitados e se potencializem.

Isso pode acontecer de diversas formas. Uma alternativa interessante é estabelecer um Kanban Upstream para o Discovery e um Downstream para Delivery. Outra maneira é usar processos enxutos, como testes A/B para validar hipóteses pontuais. O importante é testar abordagens que funcionem no contexto e cultura da empresa — vale inclusive testar mais de um modelo, até encontrar o que se encaixa melhor.

Além disso, trabalhos de discovery, no geral, tem como output um grande volume de insights. É essencial encontrar um balanceamento sobre o que devemos levar para o desenvolvimento. Difundir a cultura de teste e prototipação ao final dos processos de discovery é um passo importante para isso, como veremos a seguir.

Aprendizado #02: Aposte na prototipação

A grande cola entre o design e o desenvolvimento é a prototipação. É nesta etapa que, ao invés de tentarmos interpretar as palavras uns dos outros, nos comunicamos pela tangibilização de ideias e as testamos no mundo real.

Isso é muito poderoso, pois nos ajuda a reavaliar nossas pressuposições a partir do ponto de vista dos usuários. Afinal, antes de investir tempo e recursos preciosos construindo algo, é importante descobrir se o produto irá se adequar ao mercado.

A prototipação é importante para criar um espaço comum, que potencializa as habilidades do time de delivery e de discovery. Por isso, é um ambiente favorável para estabelecer conexões e impulsionar a quebra de silos, que veremos a seguir.

Aprendizado #03: Quebre os silos

Não só designers fazem discovery e não só desenvolvedores fazem delivery. Para construirmos um produto realmente inovador, é fundamental ter múltiplos olhares e combinar habilidades para que a diversidade atue como um catalisador criativo e potencialize a criação de soluções assertivas.

Nós falamos muito nesse texto sobre design e desenvolvimento, mas é importante deixar claro que estas palavras englobam vários outros papéis e habilidades. Futuristas, UX Researchers, UI designers, Product Managers, Scrum Masters, Business Owner, Analistas de Dados, Desenvolvedores front-end, back-end, full-stack — são diversos papéis e possibilidades que podem compor tanto os times de discovery, quanto os de delivery.

Um dos principais ganhos da abordagem de D&D é justamente conectar as áreas de negócio, design e tecnologia, para garantir que um produto seja sempre desejável pelos usuários, factível tecnicamente e viável financeiramente. E tudo isso permeado por dados, para que as decisões tomadas sejam data-driven.

E esse é só o começo

O principal ponto do D&D é que para entregar valor de maneira assertiva, o design e o ágil precisam um do outro. Precisamos que eles se alimentem e aconteçam juntos de maneira contínua. Não existe fórmula mágica ou resposta certa, o importante é compreender bem o desafio que se deseja solucionar e a cultura da organização — e dar o primeiro passo.

Não se esqueça que o processo de D&D é uma maneira de trabalhar. Portanto, para que ele funcione, é preciso que faça parte da cultura. Para colocar ele em prática em sua organização, se prepare para fazer uma boa gestão de mudanças e tenha em mente que é um trabalho contínuo.

Quer saber mais sobre o tema? Confira esse post sobre o Dual Track no ioasys voices.

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