Pais na quarentena

“A paternidade está mudando”. É algo que escutamos sempre, em diversos veículos. A a forma de ser pai está, de fato, muito diferente do que era há 20, 30 anos atrás.

Mas, pensando nisso, talvez não é que ela esteja mudando: talvez ela nunca tenha sido uma coisa só. E, por isso, está sempre evoluindo, se redescobrindo, entendendoentendo e abraçando novas faces do que é ser pai.

Num momento tão peculiar como o que estamos vivendo, várias coisas foram postas em cheque. Além das terríveis e numerosas perdas humanas que não poderão, de forma alguma, serem repostas, vivemos um momento de isolamento que a sociedade nunca antes experimentou.

Com isso, muita coisa mudou. Do lado de fora, sim, infelizmente. Mas dentro das nossas casas também. E mais do que nunca estamos valorizando o amor, o contato, o carinho, o afeto. Felizmente, temos o privilégio de lutar essa guerra de casa e de poder ver, ao longo dos dias, faces positivas desse período conturbado.

Os pais da ioasys têm muito a dizer sobre isso: vários deles vêm passando mais tempo com os filhos devido ao período de home office. É claro que nem tudo são flores, e a paternidade precisou se desdobrar e se ressignificar de várias maneiras. A criatividade precisou ser elevada ao máximo e surgiram brincadeiras nunca antes vistas: o Thiago Oliveira, de Tecnologia, inventou o “arremesso de meia” e a “múmia no tapete”, enquanto o Guilherme Dutra, do time de Design, inovou ao construir uma parede de escaladas dentro de casa. É muita energia e uma imaginação quase ilimitada. Pro Jefferson, de Projetos, manter seu filho entretido ao longo do dia e conciliar isso com o home office é uma das tarefas mais desafiadoras que já enfrentou.

Entretanto o desafio maior parece ser, na maioria das vezes, como equilibrar o espaço familiar com o home office. Como fazer com que as crianças entendam qual hora é de brincar e qual hora é de trabalho? Nesse momento, uma caminhada do escritório até a cozinha pode ser confundida, por exemplo, com a volta pra casa depois do trabalho. É assim com o Pier, de Projetos, e seu filho e também com o Thiago, que conta que a tão esperada frase pós expediente ganhou um novo tom: “papai, quando você acabar a reunião a gente pode brincar?”.

No caso do Henrique Furtado, da área de Tecnologia, é comum precisar parar uma reunião para jogar bola ou consolar o filho depois de uma mordida do cachorro. Mas ele, pelo menos, vem adquirindo talentos novos: “aprendi o nome de todos os oito cachorros da Patrulha Canina (sim, não são apenas seis) e todas as músicas da Moana”.

Já o Anderson, de Tecnologia, que tem filhas de 11 e 9 anos, conta que, para elas, foi difícil entender a rotina das aulas remotas. Como explicar que a videochamada não é um encontro com as amigas? Porém, assim como em diversas outras atividades, a solução foi encontrar um equilíbrio: “criamos uma rotina menos rígida, com intervalos para jogos e chat com as amigas, e tudo começou a se encaixar.”

Pro Lucimar, do Administrativo, que tem filhas na mesma faixa de idade, as aulas remotas possibilitaram que ele entendesse melhor o que as crianças estudam, além de conseguir ajudar com determinadas matérias. O almoço em casa também é um bônus e, apesar dos lados negativos, se sentir próximo das filhas é algo de muito valor nesse momento.

Afinal, em um período em que todas as incertezas estão à flor da pele, o carinho e contato da família tem um significado ainda maior. O Guilherme e sua esposa estão esperando o segundo filho e o que mais preocupa é aquela pergunta que ainda não conseguimos responder: como estará o mundo quando sairmos disso? Mas, apesar de tudo, ainda temos muito a agradecer, e é nisso que ele foca. “Não dá pra gente reclamar não!”

Muita coisa também foi ressignificada. O Thiago não mora com o filho, então momentos de encontro são ainda mais especiais: “Tenho compromissos virtuais diários que se iniciam com ‘estão me ouvindo?’ pontualmente às 14:15”. O abraço apertado que sempre acontece quando estão juntos precisa, agora, esperar um pouco, e é o filho quem já lembra: “depois do banho a gente abraça, papai”.

Mas, acima de tudo, poder ficar mais tempo com os filhos, dividir a rotina, se aproximar da família, tudo isso parece estar sendo muito gratificante. O Marcelo, de Projetos, que tem um filho de dois anos e seis meses, está conseguindo acompanhar de perto aquela fase gostosa de começar a formular frases, a interagir melhor nas brincadeiras…

No espaço de “coworking house”, como chama o João Marcelo, da área de Tecnologia, está sendo muito prazeroso colaborar mais com os filhos no dia-a-dia. O Jefferson, que anda encarando vários desafios no dia-a-dia com o filho Samuel e a dog Ariel, lembra que tudo é por uma boa causa — e que logo, logo, estaremos de volta à vida normal.

E, quando voltarmos ao “normal”, o que esperamos é que isso continue, pois ser pai é isso: é sobre amor, afeto, apoio. Seria infundada uma tentativa de encaixar o significado de ser pai em uma pequena caixinha, com definições exatas e universais. A paternidade não é estática, nem nunca foi: cada relação de paternidade é construída pelas pessoas envolvidas.

Existem infinitos tipos de pais, infinitos tipos de filhos, e essa combinação é ainda maior. Cada relação tem suas próprias regras, seus próprios motivos para existir, seus encontros e seus desencontros.

Ser pai é poder passar a quarentena juntos e entender os limites de cada um, contudo ser pai é apoiar e oferecer suporte mesmo a vários quilômetros de distância. Ser pai é ter dado a vida ao filho, mesmo que não biologicamente, e escolher dar a vida por ele todos os dias de novo.

O que importa, no final, não é a definição de pai. Porque ser pai não é óbvio, ser pai não vem no dicionário, ser pai não é um significado pronto. É um significado que construímos todos os dias, e que muda o tempo inteiro.

Nesse dia dos pais, em um momento em que todos precisamos de amor, que a gente deixe de lado as definições óbvias e simplistas. Porque, no final, o que importa não é a definição de pai — mas sim o amor de pai.

Feliz dia do amor de pai.

Com carinho,

ioasys