Por que o mundo precisa conhecer o Tenement Museum

Eu não me sinto com muita autoridade pra dar dicas de Nova York, e nem gosto muito de fazer isso: acho que todo mundo tem mais chances de se divertir quando anda pela cidade e descobre os lugares por conta própria. Mas tem um lugar que eu visitei na primeira vez em que estive aqui, fui de novo semanas atrás e recomendo pra todo mundo que me pergunta sobre a cidade.

O Lower East Side Tenement Museum é um prédio de apartamentos do fim do século 19 que foi interditado nos anos 30 e só foi reaberto nos anos 80. Quando reabriram o prédio, uma historiadora foi chamada e percebeu que os apartamentos ainda tinham marcas e lembranças dos quase sete mil imigrantes que viveram lá: judeus, irlandeses, russos, alemães, italianos, poloneses. Essas famílias chegaram na cidade quando o Lower East Side era a porção urbana mais densamente habitada no mundo todo, e um lugar de Manhattan que os americanos evitavam. O bairro não tinha saneamento nenhum, o lixo era jogado na rua, famílias de oito ou dez pessoas viviam em apartamentos de dez metros quadrados.

E a mobília, as paredes e os objetos encontrados no prédio do Tenement Museum contam essa história: a altura de uma criança marcada na parede, os rastros de uma tecelagem de 10 funcionários em um quarto-e-sala de uma família durante o dia, as pinturas diferentes descascadas que mostravam a rotatividade do lugar, as camas onde deveriam ter sofás, os sofás que serviram de cama, recibos de compras e fotos que mostram que pessoas com a mesma origem tiveram que criar uma rede de proteção imensa para sobreviver num ambiente hostil.

O Tenement Museum é emocionante porque mostra o que o imigrante realmente é: um sujeito disposto a enfrentar pobreza, fome, sujeira, falta de espaço, um idioma desconhecido e preconceito de todo tipo pra trabalhar e ter um lugar no mundo. Uma pessoa que não aceita não como resposta. Enfim, o tipo de gente um xenófobo adoraria receber numa entrevista de emprego, mas é incapaz de enxergar em alguém que vem de fora.

Eu tenho aprendido milhões de coisas novas aqui, e tudo que se aprende na vida merece ser compartilhado de algum jeito. Mas, toda vez que eu abro o Facebook e vejo que tem brasileiro hostilizando haitiano que perdeu tudo em um terremoto, ou que tem pré-candidato bem cotado nas prévias querendo cercar os Estados Unidos com um muro, eu percebo que, até agora, a experiência que mais merece ser dividida com o mundo é a visita ao Tenement Museum.