Empresa grande ou startup? 5 fatores para você ponderar na sua decisão

Bruno Rigonatti
isaac tech
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6 min readDec 2, 2021

“Você está tomando essa decisão no pior momento possível para você.”

Essa foi uma frase que ouvi no meu processo de saída da última empresa onde trabalhei.

Antes de comentá-la, preciso esclarecer que fui muito bem tratado pela Ambev quando comuniquei meu desejo de partir da maior cervejaria do mundo para ir trabalhar no isaac, uma fintech de educação que então nascia. Mas para alguns colegas, não parecia fazer sentido a minha decisão de sair: afinal, eu havia sido bem avaliado nos últimos anos e tinha aprovação formal para entrar em 2021 no Path To Partner, o processo de virar sócio da Ambev. Além disso, este ano eu teria um time maior e ganharia cursos que eu há muito queria fazer.

Por que, então, eu resolvi pivotar tão abruptamente de uma multinacional para uma empresa que até então tinha 6 funcionários? Deixo os pontos abaixo como fatores de reflexão para quem está pensando em trilhar um caminho parecido. Spoiler: a resposta depende de quem você é, pra onde você iria, e o que você valoriza.

1 — Autoconhecimento

Minha principal motivação foi simples: autoconhecimento. Talvez simples seja a palavra errada, pois acho que não paramos com frequência suficiente para pensar o profissional que queremos ser lá na frente. Depois de algum tempo no piloto automático, a proposta que recebi me forçou a dar um passo pra trás e refletir: quem que eu gostaria que fosse o Bruno daqui a 5 anos? Um diretor de marketing há 10 anos tocando projetos incríveis em uma multinacional, ou um profissional mais abrangente que ajudou a montar e turbinar uma startup com potencial gigante? Em qual desses dois sentidos eu gostaria de me desenvolver? Embora eu gostasse do meu cargo na Ambev, me liguei que a primeira opção me cativava menos. No fundo, o autoconhecimento importa porque te elucida um fator que realmente vai pautar sua decisão: seu perfil.

2 — Perfil

Sempre tive vontade de empreender: meus pais são empreendedores, meu marido também, e ouvir suas histórias, sucessos e erros me encantava. Também sempre fui um cara movido por construir: minha realização sempre veio de olhar para trás e ver a legado que deixei na vida de alguém ou no mundo. Mas isso funciona tanto em startups, onde você constrói do zero, ou em grandes empresas, onde seus projetos serão maiores desde o começo, mas suas responsabilidades serão mais nichadas. O pulo do gato para mim foi entender que minha ambição de ter um impacto maior trunfava minha aversão a risco. Estabilidade e plano de carreira extremamente previsíveis não eram fatores que pesavam para mim — me interessava mais estar mais longe a médio-longo prazo, e essa exponencialidade de forma geral está mais presente em startups do que em empresas grandes. Afinal, o livro da Ambev já estava escrito, e eu preferia trilhar uma carreira onde poderia rechear ao menos um capítulo de uma nova grande história. E eu sentia que era hora de começar a agir em cima disso — diagnóstico de outro fator importante: o momento.

3 — Momento

Depois de muito conversar com amigos, ficou claro meu aprendizado mais importante sobre momento: quando você performa bem numa empresa, não existe “momento certo” para sair. Sempre vai doer de alguma forma, e ficar a sensação de que você está deixando alguém na mão ou largando algo no meio. O momento vem também do autoconhecimento. Para mim, sair fez sentido primeiro por eu ter clareza do meu futuro na Ambev, por estar lá há cinco anos e saber o que poderia acontecer por lá. Segundo, por sentir que já havia acumulado experiências e habilidades valiosas, que me dariam um belo embasamento para gerar valor em próximas oportunidades enquanto aprendo coisas novas. E por último: propostas vão e vem, mas a do isaac parecia especial por conta do calibre da oportunidade, e às vezes a oportunidade certa aparece assim mesmo, de supetão. Falo mais sobre isso a seguir.

4 — Calibre da oportunidade

Nem todas as startups nascem iguais. Eu brinco que todo mundo conhece alguém que decidiu abrir uma marca de camisetas depois de se formar na faculdade. Mas a realidade é que esta pessoa, por mais talentosa que seja, tem vários complicômetros (em inglês chamamos de headwinds) que jogam contra seu sucesso, como falta de experiência no segmento, competição elevada, baixo investimento inicial e ausência de sócios ou time de qualidade. Tudo isso para dizer que a proporção de risco e retorno não é igual para todas as startups. Várias startups hoje em dia operam de forma muito profissional: o isaac, por exemplo, tem fundadores com 10 anos de experiência em Educação, um investimento inicial expressivo, e um serviço sem precedentes no mercado, bem avaliado, de DNA digital e potencial de expansão quase infinito. Pesquisar e reconhecer esses fatores foi determinante para que eu, um cara que não “se joga” no risco, ficasse empolgado pela ideia de embarcar nessa. Ajuda também saber que, mesmo se tudo der errado, estou cercado de pessoas incríveis que vão arranjar para onde ir em segundos, e podem me abrir portas caso curtam meu trabalho. :)

5 — Propósito

Boa parte das startups mais admiráveis do Brasil surgiram da frustração de lidar com problemas sociais gigantes persistentes e ignorados pelo mundo corporativo tradicional. Quando a gente pensa nas dores da desbancarização do brasileiro, da dureza de se achar um táxi, e de da dificuldade de se alugar um apartamento, é difícil não pensar logo em seguida nas startups brasileiras que se agigantaram procurando resolver esses desafios de forma nova e exponencial. O isaac, por exemplo, surgiu da profunda necessidade do setor educacional de se modernizar. É só livrando as escolas particulares brasileiras das dores de cabeça de gestão que conseguimos liberar mais tempo e dinheiro para focar no pedagógico, que é o que gera tanto o impacto positivo quanto a receita da escola. E assim, conseguimos dar mais qualidade e acesso ao ensino básico a cada vez mais brasileiros. Trabalhar com um propósito tão relevante para mim, e inerente ao sucesso do produto, foi um fator que tornou minha decisão muito mais intuitiva.

Conclusões

No fim do dia, o que é melhor: carreira corporativa ou em startup? Só uma reflexão sua e em profundidade vai elucidar o que funciona melhor pra você. Eis algumas perguntas que você pode fazer para tornar a decisão menos nebulosa:

  • Quem sou eu, e no que sou bom? E quem gostaria de ser, e no que gostaria de ser bom, daqui a 5 anos?
  • Me agrada mais a ideia de construir as coisas do zero, ou fazer melhor o que já existe? Plano de carreira e previsibilidade financeira hiper claros são importantes para mim a ponto de trunfar outros fatores?
  • Tenho clareza de quais oportunidades teria se ficasse onde estou hoje? Gosto dessas oportunidades? Me sinto minimamente capacitado para assumir um desafio em outro lugar, para chegar agregando enquanto me desenvolvo em novos aspectos?
  • A oportunidade tem um modelo de negócios com potencial provado e exponencial? As pessoas por trás são competentes, experientes e do bem? Eu gostaria de trabalhar com elas de forma intensa? Uma proposta dessas deve aparecer de novo em breve?
  • Eu admiro e me sentiria realizado fazendo o que a empresa faz?

Espero que dessa forma você consiga ponderar melhor sua escolha. Lembre-se que cada um é cada um, e hoje em dia é possível construir uma carreira incrível e realizadora em empresas de todos os segmentos e tamanhos. E não se preocupe tanto: com determinação e um pouco de sorte, pivotar sempre é possível. Conheço gente que foi de grandes empresas para startups e vice-versa com 1, 5 e 20 anos de carreira. Boa sorte e sucesso na sua jornada!

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