Ligação com a comunidade

Programa vincula ensino, pesquisa e extensão à educação tutorial como uma forma de enriquecer a formação acadêmica

Isabel Linck Gomes
Isabel Linck Gomes
5 min readJul 9, 2019

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Visita técnica à Usina Hidrelétrica Monte Claro (RS) promovida pelo PET Civil em novembro de 2018. (Foto: Arquivo Pet Civil)

“O PET é muito complexo. Não é tão simples de descrever, de dizer o que é ou o que fazemos. É uma proposta de os alunos fazerem o que eles querem, o que procuram, o que precisam.” É dessa forma que, ao explicar o grupo do qual faz parte, a estudante de Engenharia Civil Franciele Veiga apresenta a diversidade de projetos e atividades que compõe o Programa de Educação Tutorial (PET). Formado por grupos de estudantes e com tutoria de um docente, o programa é norteado pelo princípio de ensino, pesquisa e extensão, baseado na educação tutorial. Hoje, na UFRGS, existem 16 grupos distribuídos em todas as áreas de conhecimento, sendo o PET Odontologia e o PET Computação os mais antigos. Criada pelo Ministério da Educação há quarenta anos, a ação se faz presente, em nível de graduação, em 121 instituições de ensino superior do país — ao total são mais de 800 grupos –, tendo como proposta a realização de atividades extracurriculares como uma forma de aplicar os conhecimentos do curso e de ampliar a formação acadêmica desses alunos.

É o caso do PET Civil, o qual Franciele integra desde que ingressou na Universidade, há três semestres. O grupo, composto por 15 bolsistas — os chamados petianos — e tutoriado pela docente Vanessa Pasa Dutra, propõe atividades que buscam amparar e aperfeiçoar a vivência da graduação e são destinadas não apenas aos petianos, mas a todos os estudantes da Civil e, na maioria dos casos, à comunidade acadêmica em geral. A programação inclui cursos que complementem os conteúdos dados em sala de aula e visitas técnicas, por exemplo.

O projeto ultrapassa os limites físicos da Universidade e chega também à comunidade externa por meio da extensão. Um dos projetos do grupo foi a parceria com a ONG Solidariedade, realizada até o ano passado. A ação promovia a participação de catadores de material reciclável na produção de blocos de concreto feitos de resíduos de construção civil — ao PET Civil cabia o aprimoramento do material mediante testes e pesquisas.

O contato com a comunidade externa e a possibilidade de conhecer novas realidades, oportunidades proporcionadas pelas ações de extensão promovidas pelo PET, são os pontos mais positivos do programa, segundo os petianos. “A gente se prepara para ajudar alguém e recebe muito mais do que deu, consegue algo em troca, e não uma coisa técnica, objetiva. É algo que vou levar para a vida, muda a visão que se tem sobre as outras pessoas. Essa é a melhor parte dos projetos de extensão: quando temos contato com outras pessoas. O retorno é algo muito maior do que o tempo que levamos para organizar. É a melhor parte”, relata com intensidade Antônio Carlos Heinein Zardin, integrante do PET Civil até 2018.

Conexões plurais

O programa também conta com outra configuração, que é o PET Conexões de Saberes. Criado em 2005, o programa Conexões de Saberes tinha como proposta possibilitar aos estudantes de origem popular um fortalecimento acadêmico por meio da realização de projetos que contribuíssem para a produção de conhecimento. No ano de 2010, o programa foi mesclado ao PET, tomando o formato que tem hoje e diferenciando-se do chamado PET Curso por ser direcionado aos alunos com ingresso por ações afirmativas e também pela possibilidade de ser interdisciplinar, integrando diferentes carreiras em um mesmo grupo.

Dos 16 PETs que existem na UFRGS, cinco são Conexões. Dentre eles, está o PET Conexões de Saberes Farmácia, tutoriado pela professora Tânia Amador. Para a docente, a integração com o programa Conexões foi extremamente favorável à dinâmica e à diversidade do PET. “Quando entra o novo formato, a gente consegue realmente ter uma diversidade muito grande, porque o PET era muito tecnicista. Não que isso fosse ruim, mas eles tinham outro olhar para a realidade. Em termos de conhecimento, de crescimento como cidadão, essa mistura dada pela diversidade que aconteceu com a integração do Conexões foi extremamente favorável para as pessoas. Como professor, a gente também ampliou o olhar e cresceu muito”, reflete.

Também seguindo a tríade de ensino, pesquisa e extensão, o PET Conexões Farmácia realiza atividades extracurriculares dentro e fora da Universidade. Dentre seus projetos, existe o Ajuda QGT, criado em 2011 a fim de dar um suporte aos alunos em relação à disciplina do primeiro semestre de Química Geral Teórica, que, pela dificuldade de seu conteúdo, tem um histórico de altas taxas de reprovação. “Mesmo gostando, é uma cadeira difícil, e muita gente não teve esse conteúdo antes de ingressar na faculdade. Ela é puxada e abrange muita coisa, então é aí que entra o Ajuda, [projeto] em que a gente oferece uma aula pré-prova uma semana antes da avaliação para que os alunos tirem suas dúvidas”, explica Maura Prior Roldo, aluna do 7.° semestre de Farmácia e petiana desde 2014.

A presença do PET Conexões de Saberes Farmácia em salas de aula não é exclusiva ao ‘Ajuda QGT’. ‘Conhecendo o SUS’ é outro projeto desenvolvidos pelo grupo que consiste em explicar a alunos de escolas públicas o funcionamento do Sistema Único de Saúde e suas respectivas atribuições. Ainda no campo da educação, o grupo trabalhou com crianças da Associação de Moradores do Bairro Rubem Berta, promovendo aulas de educação em saúde com orientações sobre temas como descarte de medicamentos, alimentação saudável, saúde bucal e higiene e reciclagem.

Grupo PET Conexões de Saberes Farmácia no InterPET, encontro mensal dos grupos PET da UFRGS. (Foto: Arquivo PET Conexões de Saberes Fármacia)

Uma das filosofias em que o PET se baseia é a perspectiva horizontal do grupo, que se estende a um senso de coletividade entre os petianos, em que não existe uma hierarquia e todos têm igual direito de fala e opinião, como relata Antônio Carlos, do PET Civil: “Todas as coisas são feitas em grupo. Então, a gente tem um grande repertório em conversas, discussões. Tudo que a gente passa, a gente passa junto, um ao lado do outro”. Sua colega Franciele complementa: “É uma maneira de construir o individual de cada um dentro de um grupo”.

Essa coletividade perpassa também a Universidade como um todo: mensalmente, todos os grupos se reúnem no Interpet, evento em que são realizadas discussões e palestras relacionadas ao programa e ocorre um diálogo sobre as atividades realizadas por cada um. De forma semelhante, esse tipo de evento acontece também em escala regional e nacional, proporcionando o contato e a troca de experiências com petianos de outras partes. Maura, do Conexões Farmácia, desde que ingressou no PET, já participou de inúmeros encontros como esses e relata que a oportunidade de dialogar com outros petianos e conhecer diferentes realidades é sempre positiva. “Nos eventos, conhecemos outros grupos, conversamos com os alunos que fazem o mesmo curso e percebemos que é totalmente diferente […] Tudo isso é muito rico, é como um privilégio.”

Reportagem. Texto produzido para o Jornal da Universidade (UFRGS). Porto Alegre, maio de 2019.

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