galego

Gustavo Roças
isso não é um diário
2 min readSep 21, 2017

Tava lendo um livro esses dias que a cada página me dava um tapa na cara diferente. Assim que é bom, pensei eu no alto da minha arrogância adquirida após tantos livros lidos num — não tão mais — curto tempo de vida.

“Não confunda água com açúcar.
Se ele quiser ficar com você, ele vai ficar.
É simples assim.”

Li e respirei fundo, afinal é simples assim mesmo. Tem sido simples assim desde sempre e mesmo sabendo disso, por alguma razão, me mantive voluntariamente cego porque acreditar no que eu queria era sedutor demais. Tão sedutor quanto acreditar que, por alguma jogada distraída do destino, as coisas teriam um final diferente mesmo com a repetição de padrões antigos de comportamento. Toda essa crença me puxava pro fundo como o canto de uma sereia.
Homem ao mar!
Foi gostoso, não vou negar, andar por aí vendado para a realidade com uma sensação de completude tão imaginária quanto a venda mas com implicações tão reais tais quais a falta de fôlego e os olhos arregalados de quem suprime um grito ao perceber que agora não dá mais pé. A sereia me levou sem me dar tapas como o livro, em vez disso foi aos sussurros — o que doeu mais, no final das contas.

Sussurros distantes e enebriantes como o sorriso de canto de boca, como o olhar pós choro que pede um abraço forte, ou um beijo no amanhecer antes mesmo do bom dia. O sussurro que foi me levando pouco a pouco até que não deu mais pé.
Homem ao mar!
Se ele quisesse ficar comigo, teria ficado. Ando mais pro fundo. É simples assim. Abraço forte. Levo um tapa da realidade.
Olhos arregalados.
Não deu mais pé.
Volto pro livro torcendo pela virada de página.
E me deixo afogar.

- Gustavo Roças;

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