tabuada do 2

Gustavo Roças
isso não é um diário
2 min readOct 23, 2017

Se todo conjunto de números é infinito, é certo dizer que o infinito é um todo do mesmo tamanho ou existem infinitos maiores que outros? Podemos dizer que o Universo é do mesmo tamanho da tabuada do 2? Ou que nada disso existe e estamos presos num infinito de cordas ou de pacotes que formam um tecido onde tudo o que conhecemos é tricotado?
O tempo não existe, o que existe é o relógio.
Quando li sobre isso pela primeira vez fiquei fascinado com a ideia ingênua de que sair de casa é esbarrar com infinitos diferentes dos nossos e que, embora a distância, na multiplicidade de nossos Universos, nunca deixamos de nos encontrar. Parece besta.
Talvez seja.

— Morangos mofados.
— O dia que Júpiter encontrou Saturno. Ninguém sabe mas essa tatuagem aqui é por causa desse texto.
— “O infinito não acaba…”
— “O infinito é nunca. Ou sempre.”
— Então você consegue enxergar beleza no desencontro.
— É um pré-requisito para todo romântico.
— Você é?
— Não sei. Já fui. Hoje não sei mais o que sou.
— Então está no caminho certo.
— Não existe certo.
— O que existe, então?
— O agora. Já tá de bom tamanho.
— Você fuma?
— Não. Gostaria de ter algo nas mãos agora?
Risos.
— Insuportável.

Parece besta.

Não olhava pela janela para uma noite incomum na avenida movimentada. Olhava para dentro de si mesmo, para o escuro com o qual já estava acostumado. Um escuro de sinapses descontroladas, eletricidade de alta voltagem. Fonte de energia inesgotável. Infinita.
Olha aí.

— Eu sinto sua falta.
— Mas eu não existo.
— Então é disso que eu sinto falta.
— Do quê?
— Da projeção. Do nosso potencial.
— Como você pode ter tanta certeza dele?
— Não é esse um pré-requisito para todo romântico?
(Silêncio)
— Para de me olhar assim.

O infinito é nunca. É a tabuada do 2.
Talvez seja.

— Eu já estou com outro, sabe.
— Eu sei.
— Isso tava na sua projeção, também?
— A sua volta tava.
— Parece poético.
— Parece patético.
— Parece até um sonho.
— Talvez seja.
— Então acorda, para ter certeza.
— Mas e se você tiver certo?
— Bom, se eu tiver certo… Quem sabe a gente não se encontra de novo. O infinito é sempre.

O infinito é sempre. Um gigante dentro do outro e múltiplo de dois. Um conjunto universal contido num conjunto universal. O infinito é nunca.
Coço os olhos. Acordo.
Parece besta.
É tudo sonho. É tudo projeção. É o pré-requisito para aqueles que acreditam.
São as perguntas sem respostas.
É o Universo de um ser sozinho, como ele próprio.
Talvez seja.

Hora de acordar.

- Gustavo Roças;

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