você não sente falta

das risadas fáceis dos abraços apertados e do beijo que eu te dei enquanto apertava forte a cintura e te encostava na parede e descia a boca pelo seu pescoço mordendo apertando a cintura e me apertando em você não sente falta do cantar alto dentro do carro da mão que segurava a perna e deixava a marcha errada para não ter que tirar a mão da perna e não sente falta nem dos pratos divididos e do “olha pra lua” e do sorriso de besta que eu dava quando você olhava pra longe
não sente falta das minhas mãos tremendo por não saber muito o que fazer mas arriscar mais um beijo mais uma mordida mais um aperto na cintura e um “nossa” dito num sussurro não sente falta dos sussurros e do que eles podiam significar e eles significavam tanto mas você não sente falta do que não aconteceu do que poderia ter acontecido se eu não tremesse demais e errasse a marcha no meio do nosso caminho porque não queria tirar a mão da sua perna e eu errei acelerei demais e não consegui frear a tempo de evitar a colisão que me deixou preso às ferragens e que ao mesmo tempo te lançou pra longe pra longe e eu fiquei a sentir falta de algo que eu nem sei escrever porque não sei se existiu ou se foi um sonho muito real de uma noite com barulho de chuva no telhado você não sente falta
minha falta a falta de alguém que tentou e não conseguiu porque nunca soube muito bem o que fazer e agora se pergunta mais do que deveria se quem sabe
você não
sente
falta.

- Gustavo Roças;