A anarquia possível
A mulher se inclina e não mata. Ela usa vestido, sapato de salto, muitos dedos nas mãos. Na sua frente o corpo que ela sabe, não é uma criança, embora precise de cuidados, meio coitado. Mesmo embora quase um homem.
A mulher está diante do corpo bruto, em comum azul, e se abaixa para vesti-lo com uma roupa de baixo. Ela não pode matá-lo, o corpo se apoia nela, só porque não é rei ela mesma, o corpo espera, e se fosse, ainda o corpo, não seria.
A mulher vacila. Na fábula a certeza fajuta dos bons costumes, às vezes uma maçã metade envenenada. Aqui a mulher se inclina como antes dela outra e, antes dessa outra, outra. Parece estar diante da maçã, decidindo qual metade morder.
Então ela veste o corpo e, pelo menos por ora, não mata.