Tempo perdido: a música em Niterói

Uma cidade onde “quem tá fora quer entrar, mas quem tá dentro não sai”

Reúna duas das situações mais desvalorizadas no Brasil atualmente: o “sucateamento” das universidades públicas e a falta de atenção para as artes e produções artísticas. Pronto, você já terá condições preestabelecidas para um baixo grau de interesse, envolvimento e produção de jovens artistas e universitários no país.

Peguemos como exemplo a cidade de Niterói e o seu cenário musical. Dentro da principal universidade pública da cidade faltam recursos e sobram problemas. Talvez por isso, as poucas iniciativas nela existentes, além de não alavancarem um grande número de pessoas, são feitas de forma improvisada, a partir dos esforços de pequenos grupos de alunos. E da universidade para fora, o cenário talvez seja ainda mais preocupante.

Nos últimos anos, devido a um grave cenário de crise que aflige todo o estado do Rio de Janeiro, bares e espaços culturais foram obrigados a fechar as portas. Os poucos ainda existentes sobrevivem de shows e apresentações meramente comerciais, em busca de bilheterias rentáveis para manter o negócio vivo.

As oportunidades, portanto, encontram-se concentradas nas mãos de poucos, baseadas na troca de interesses e favores entre músicos “tradicionais”, nos “conchavos” e “panelinhas”.

Quem não faz parte de tais grupos ou simplesmente estiver começando uma carreira terá de suar a camisa mais que o normal. E digo isto de forma literal, pois muitos desses “novatos” buscam oportunidades em cidades vizinhas e acabam por aceitar apresentações sob condições precárias, organizadas por “produtores de eventos” exploradores.

Cidades vizinhas como São Gonçalo têm sido celeiro de iniciativas e espaços para novas bandas se apresentarem. Mas, diferentemente da imagem acima, nem todos possuem apoio em sua realização.

Apesar disso, tal cenário talvez seja apenas o recheio. A cereja do bolo de problemas fica por conta da Prefeitura da cidade. Há cerca de três anos, a Secretaria de Cultura da cidade tem realizado altos investimentos em eventos esporádicos e comemorativos (aniversário da cidade e Natal, por exemplo), desembolsando valores consideravelmente altos para cachês de artistas e bandas já consagradas em todo o território nacional — e sem qualquer tipo de identificação com a localidade.

Enquanto isso, programas que incentivavam a arte e a produção artística local existentes durante o período, como o projeto Arte na Rua e a Festa da Música de Niterói — que forneciam tanto estrutura quanto cachês para pequenas apresentações em palcos espalhados por diversos bairros de Niterói — foram descontinuados.

Imagem do último Edital do projeto Arte na Rua, aberto e (pouco) divulgado no início de 2016.

Um cenário estagnado e sem muita perspectiva de melhoras a princípio, como este, não é nada saudável para os artistas niteroienses. Todos os anos diversas iniciativas, ideias e projetos são desperdiçados por tal falta de compromisso ou apoio. Deste modo, a renovação da música da cidade — celeiro de tantos talentos — fica deficitária, e carece de pluralidade, novos gêneros e estilos.

O Espaço Convés, símbolo do underground niteroiense, localizado no bairro do Gragoatá, é um dos poucos espaços que ainda resistem aos problemas enfrentados pela cidade, como a violência.

Com o perdão do trocadilho, na atual situação da Cidade Sorriso, “ri quem pode e obedece quem não tem muita escolha”. Dançar conforme a música tocada virou uma tendência. Muitas vezes, uma questão de sobrevivência, para não ser silenciada.

Exemplos de músicas e artistas niteroienses:

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