5G e seu potencial na indústria: a hora é agora

Itaú Tech
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5 min readMar 29, 2022

Por Fábio Napoli, diretor de Tecnologia no Itaú Unibanco

Apesar de no imaginário social o 5G estar associado a uma maior conectividade e velocidade de navegação, além de uma possível ampliação da cobertura geográfica e democratização do acesso à internet, é na indústria que todo o seu potencial será realmente aproveitado. A tecnologia abre uma infinidade de novas oportunidades de negócios, desde que as empresas estejam realmente engajadas em exercitar a criatividade e criar um ecossistema de tecnologias integradas — que garantirá a confiabilidade e segurança das informações.

Cada nova geração de comunicação móvel traz com ela avanços tecnológicos que têm mudado nossa vida em sociedade nas últimas décadas. Com o 3G, houve a revolução dos smartphones e aplicativos móveis; o 4G trouxe a consolidação das redes sociais e o avanço das plataformas de streaming. O 5G chega com uma mudança drástica na transmissão de dados, aumentando não só a velocidade, mas principalmente reduzindo a latência — o que habilita uma gama de novas possibilidades. Na prática, ele é o arcabouço para uma nova revolução industrial, um componente que traz disrupção para o que é feito hoje, com um impacto muito maior que as gerações anteriores.

Entretanto, para de fato estabelecer a indústria 4.0, será preciso ir além da criatividade, e combinar a força do 5G com outras tecnologias como cloud computing, blockchain, edge computing, internet das coisas, inteligência artificial e realidade virtual e aumentada. O impacto será sentido em todos os setores, com o 5G ativando diversas soluções que o 4G não conseguiu suprir. O agronegócio, por exemplo, é uma das principais apostas da tecnologia no Brasil, com soluções customizadas que permitirão entender melhor a jornada dos mais diversos perfis de produtores, favorecendo inclusive a geração de novos arranjos econômicos. No setor automotivo, as aplicações são inúmeras: conectividade de carros, evolução de veículos autônomos, monitoramento de acidentes, resgates.

No universo dos games, os atributos do 5G trazem para a realidade o cloud gaming. Com ele, a necessidade de ter um hardware — como um console ou computador — para conseguir jogar os principais títulos se tornará obsoleta. A ideia é replicar o modelo atual dos streamings — no qual diversos servidores permitirão que os games sejam reproduzidos em qualquer tela, mediante uma assinatura, com alto padrão de qualidade de imagem e renderização. Isso só será possível devido a uma grande evolução que o 5G traz: a redução do tempo de resposta.

Ela é a chave para entender por que a tecnologia não só aumenta a velocidade de conexão, mas habilita novos negócios e traz uma melhoria substancial da produtividade da economia. Além de ter uma menor indisponibilidade e não ter interrupções quando usado em deslocamentos, a alta largura de banda e a baixa latência do 5G — ou seja, o curto tempo de deslocamento da informação, que melhora a captura de dados específicos — gera uma abertura para diversas aplicações, trazendo não só mais pessoas conectadas, mas uma infinidade de objetos e dispositivos.

A internet das coisas já existia antes do 5G, mas a nova rede permite muito mais. Com um incremento massivo de equipamentos conectados entre si, novos modelos de pagamentos surgirão, não apenas de pessoas para estabelecimentos, mas também de coisas para estabelecimentos e coisas para coisas. A demanda crescente por dispositivos especializados e inteligentes estimulará a necessidade de financiamento de ativos e soluções, assim como micropagamentos para executar contratos com termos especiais.

Por isso, as possibilidades são inúmeras na indústria financeira. Além da conexão com outros segmentos, há um amplo espaço para a evolução do atendimento remoto, trazendo mais humanização para ele, com vídeo atendimento e realidade virtual, por exemplo — abrindo caminho para um sistema financeiro cada vez mais imerso na jornada de cada cliente. Também haverá impacto nos processos de coletas de dados e monitoramento de ativos, que resultarão em processos mais precisos para desenvolvimento de produtos e serviços. O Itaú já deu seus primeiros passos — com as primeiras agências bancárias conectadas ao 5G do Brasil e a participação no projeto OpenCare5G, junto ao Hospital das Clínicas de São Paulo. Como primeiro banco no país a utilizar o Open RAN para viabilizar a conexão 5G, alocou parte de seu data center para ajudar a testar possíveis casos de uso da tecnologia na área da saúde, com foco na democratização de seu acesso.

A possibilidade de criar redes privadas e customizadas para cada aplicação — algo que já foi visto no show de drones da abertura das Olimpíadas de Tóquio — mostra que colocar a conexão entre “objetos” no centro das aplicações será simplesmente revolucionário não só para a indústria, mas para todas as atividades econômicas. E como tudo o que é novo, é preciso olhar com atenção para as questões de segurança que a nova tecnologia traz. O potencial é bastante positivo, e novas áreas de pesquisa que exploram algoritmos de criptografia e segurança têm se desenvolvido nessa esteira.

Segundo dados da Anatel, atualmente 88,3% da população brasileira vive em áreas onde há cobertura de 4G — mas isso corresponde a apenas 9,96% do território do país, e 89 cidades ainda não contam com a conexão atual. Números que apontam como a utilização do 5G é pautada por questões mais complexas em um país tão amplo e com questões de infraestrutura como o Brasil. E que a grande capilaridade do setor bancário, com suas agências físicas, também pode ser muito importante para a expansão da nova tecnologia.

Estamos exatamente no meio da janela de oportunidade para a inovação em 5G, entre 2021 e 2023, de acordo com uma análise recente da Deloitte. E quem antes chegar vai encontrar um mar mais amplo de oportunidades. Ele é principal alavanca para o metaverso — apenas com seu potencial a verdadeira imersão no mundo digital poderá ser feita de maneira mais abrangente. Mas acima de tudo, o 5G promove, além de competitividade, a colaboração. Um impulso para a democratização do acesso à infraestrutura de comunicações e catalizador de parcerias que tornarão a matriz econômica brasileira mais complexa.

*Artigo publicado originalmente no Valor Econômico

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