Metodologia ágil em times multidisciplinares: aprendizados e comportamentos-chave
Por Felipe Albuquerque Silva, Chapter Lead na Comunidade de Ativos PJ no Itaú
Aqui no Itaú, desde o início de 2020, passamos a adotar o modelo de trabalho em Comunidades Integradas: times responsáveis por toda a jornada de um produto com profissionais de diferentes disciplinas, que buscam oferecer sempre a melhor experiência para o cliente com base em gestão de resultados por OKRs e as metodologias de trabalho ágil.
E quando falamos sobre times multidisciplinares na metodologia ágil, inconscientemente, ultrapassamos o espectro profissional (hard skills) e entramos no entendimento sobre o comportamento humano nas relações interpessoais.
De antemão, o objetivo deste artigo não é mostrar uma análise psicológica — por mais que pareça — , mas sim compartilhar alguns aprendizados adquiridos ao longo do tempo por aqui e que proporcionaram um bom entendimento sobre como os comportamentos de um time podem impactar a produtividade, o clima e a velocidade de entrega. Abordaremos também os chamados soft skills e reforçaremos algumas das premissas do Manifesto Ágil. Acompanhe.
A importância da liberdade de expressão
“Construir projetos em torno de indivíduos motivados, dando a eles o ambiente e o suporte necessário e confiando neles para fazer o trabalho.”
Ambientes impositivos, que não permitem que a voz das pessoas envolvidas seja ouvida, já não se sustentam em nenhum lugar. Esse tipo de gestão pode funcionar muito bem em um quartel general, onde a hierarquia deve ser respeitada, mas não em times que operam no modelo que estamos abordando aqui.
Trabalhar em times multidisciplinares é como fazer parte de uma equipe de rugby: cada pessoa possui um papel essencial e único dentro de uma estratégia pré-estabelecida. Neste contexto, entender as necessidades e dores de cada integrante, de maneira democrática, é extremamente importante.
Nas dailys e retrospectivas das empresas por exemplo, é fundamental que todos se sintam a vontade de expor situações que possam impactar o projeto, o clima da equipe, etc.
Transparência e confiança mútua
“O método mais eficiente e eficaz de transmitir informações para e entre uma equipe de desenvolvimento é por meio de conversa face a face.”
A palavra-chave aqui é explicitar tudo a todo momento. Toda relação deve ser baseada em confiança mútua, e no ambiente corporativo não é diferente. Se a equipe não tem clareza sobre as situações que vivenciam, pode-se gerar ruídos que influenciam na função de cada um.
Abaixo, confira exemplos de como promover transparência em um time ágil, baseado nos papéis de cada membro:
- Product Owner: mantenha um backlog que permita que todas as pessoas do time visualizem a informação do que deve ser feito em determinada entrega. Itens podem ser priorizados de maneira visual para que toda a equipe saiba sem pestanejar o que deve atacar primeiro.
- Scrum Master: em ritos como a Dailly, por exemplo, permita que as dores e impedimentos sejam sanadas e que todo o time tenha essa visão. Também é interessante consolidar a gestão visual de um projeto (via Quadro Kanban, visão de Sprint) aplicada sempre ao que for mais produtivo no dia a dia dos membros.
- Team Members/Dev Team: faça um diagnóstico dos problemas e impedimentos de maneira clara, para que o Scrum Master possa atuar na remoção de impedimentos. Também é importante traduzir a necessidade técnica de maneira que o PO como especialista no produto, possa ter visão do impacto gerado ao cliente final.
Multidisciplinaridade
“Pessoas de negócio e desenvolvedores devem trabalhar diariamente em conjunto por todo o projeto.”
Uma equipe multidisciplinar tem como principais características o desapego sobre papéis e responsabilidades, uma confiança mútua no trabalho e entrega entre os membros e o compartilhamento de conhecimento perene. Para que isso aconteça com fluidez, existe a necessidade de que profissionais de diferentes especialidades desenvolvam uma certa familiaridade com alguns outros hard skills.
Esse tipo de prática depende principalmente da percepção dos membros no seguinte sentido: em times multidisciplinares, os membros podem atuar em mais de uma posição dentro da equipe, e a partir disso, encontrar um ambiente colaborativo onde todos percebem e entendem valor na descentralização de atividades.
Se seu time não atua dessa maneira, não se preocupe. Essa é uma semente plantada por qualquer um dos membros e que em determinadas ocasiões tarda a aflorar. É um tipo de prática que deve ser sempre fomentada e reforçada para que as raízes permaneçam firmes.
Adequação a mudanças
“Aceitar mudanças de requisitos, mesmo no fim do desenvolvimento. Processos ágeis se adequam a mudanças, para que o cliente possa tirar vantagens competitivas.”
A grande sacada da metodologia ágil é que ela permite a entrega de software e de valor continuamente ao cliente final. Mais que isso, o curso que um projeto leva é mutável e há liberdade de refinar as prioridades de maneira rápida independente da fase que o projeto está.
Com certeza você já ouviu falar que o ser humano é reativo a mudanças, e isso é verdade. Imagine que um projeto está chegando a sua entrega final e o escopo do software é alterado de maneira estrutural. Geralmente, a sensação dos times nesse tipo de situação é que houve falta de planejamento, e que haverá demasiado retrabalho.
Essa mudança na forma de pensar talvez seja o mais complexo de ser conquistado, e assim como falamos acima, a transparência para reforçar as pequenas regras do Manifesto Ágil e a importância de gerar valor ao usuário final pode ser de grande valia.
Quando falamos sobre pessoas, tratamos sobretudo as diferenças e valores de cada indivíduo. Isso permeia estudos teóricos sobre comportamento humano e as reações perante determinadas situações.
O ágil prega uma série de boas práticas positivas, que foram desenvolvidas para serem colocadas em prática! E no seu time, como essas práticas têm sido aplicadas? Compartilhe o que você já aprendeu com a metodologia e boas práticas para a sua execução com a gente nos comentários!