Projetando as experiências perfeitas para cidades inteligentes

Kelson Douglas
IxDA Mariana — Ouro Preto
4 min readAug 16, 2018
Crédito da foto: Scott Webb via Pexels

Criar produtos que forneçam experiências significativas e relevantes para os usuários: esse é a função principal de qualquer profissional de UX segundo a Interaction Design Foundation. No entanto, o que pouca gente imagina é que esses produtos e experiências podem também fazer parte do esqueleto de algo ainda maior: as cidades.

Compostas de muito mais do que apenas ruas, prédios e flanelinhas, as cidades, hoje, tem absorvido as informações geradas por grandes centrais, câmeras de segurança e aplicativos para devolver serviços e soluções mais espertas para a comunidade. Por isso, muitos centros urbanos vêm sendo considerados inteligentes.

Mas o quê uma cidade precisa ter para ser vista como inteligente e onde entra o UX designer nessa história toda?

O que são cidades inteligentes?

De acordo com um texto publicado pelo pessoal do Nexo, uma cidade inteligente é aquela que

faz uso de tecnologias de informação e comunicação tais como câmeras, sensores, smartphones, aplicativos e plataformas digitais como instrumentos de gestão urbana para tornar-se mais eficiente e, em última instância, melhorar a qualidade de vida dos cidadãos

Repare que nessa definição entram dois termos bastante importantes: eficiência e qualidade de vida. Eles são importantes aqui por estruturar os principais pilares de uma smart city da seguinte maneira:

Do lado da eficiência

  • Promovendo uma ampla variedade de modais de transporte
  • Aplicando soluções inteligentes na infraestrutura, fazendo com que a cidade use menos recursos e tenha serviços mais baratos
  • Melhorando a eficiência do uso da terra
  • Ampliando as opções de moradia dos habitantes

Do lado da qualidade de vida

  • Criando centros caminháveis, com menos congestionamento, menor poluição do ar, maior impulsionamento do comércio local e promoção da interação e segurança entre as pessoas.
  • Tornando o governo mais interativo e participativo para a comunidade
  • Dando uma identidade à cidade com base em sua principal atividade (seja ela econômica ou cultural)
  • Preservando e aumentando o número de espaços abertos, como os parques

Exemplos de cidades inteligentes em terras brasileiras

Com esse raio-x das cidades inteligentes, dá pra entender porque boa parte delas são também grandes centros urbanos — com mais verba, habitantes e cobertura de internet — , como mostra o ranking Connected Smart Cities com as 100 cidades mais inteligentes (e conectadas) do Brasil. Nele, capitais como São Paulo (SP), Curitiba (PR), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG) e Vitória (ES) encabeçam o topo da lista aqui no país.

Mas isso não quer dizer que os pequenos municípios também não podem ser espertos.

Cajamar (SP), Joaçaba (SC), Viçosa (MG) e Ouro Preto (MG) são algumas das cidades brasileiras com menos de 100 mil habitantes consideradas como sendo inteligentes pelo mesmo ranking. E isso sem falar de casos como os da Smart City Laguna e Pedra Branca, com menos de 25 mil habitantes, que estão nascendo agora como projetos de cidades inteligentes criadas artificialmente por construtoras.

Smart City Laguna, a primeira Cidade Inteligente social do mundo

Agora… onde entra o designer de interação nessa história?

O papel do UX designer na construção de cidades inteligentes

Lá no final da década de 80, quando surgiu o termo UX design, a ideia é que o trabalho de um designer de interação ficasse basicamente no meio virtual. No entanto, de lá para cá, projetos como os do Google Glass e até mesmo o Pokémon GO mostraram que hoje é inviável pensar no mundo digital sem levar em conta suas aplicações no universo físico.

Um concept de 2012 para o Google Glass (e que ainda pode ser aplicado)

Aliás, já existem estudiosos que vem falando sobre o surgimento de um segmento do design chamado UX Urban Design. Mas isso é papo para outra hora, agora o interessante é pensar como nós, os designers de interação, podemos ajudar na construção de projetos de cidades inteligentes.

Inovação e empatia nas cidades

Entender como a população busca pela solução de um problema enquanto ela interage com a cidade é um trabalho que tem a ver com empatia, e, como sabemos, empatia é uma das peças-chave para o projeto de qualquer UX designer.

Com isso em mente, é de se esperar que o designer de interação tenha muito a colaborar na criação de cidades inteligentes ao construir o mapa mental dos usuários (ou melhor, cidadãos), encontrar os melhores pontos de interação e desenhar uma experiência que seja de fato centrada nas pessoas.

Prototipando as ideias que vão para a rua

Quem trabalha com UX costuma levar bem a sério a prototipagem — principalmente aqueles que utilizam de métodos como o design thinking —, algo extremamente útil no desenvolvimento de uma cidade inteligente.

Como disse Mohan Krishnaraj, Global Head da LITEHOUSE,

“em um ambiente de alta confiança, em que a falha rápida e de baixo custo é louvada, a prototipagem ajuda os projetistas a se comprometerem e inovarem sem medo, além de evitar caríssimas refações no futuro. Por isso que em uma iniciativa de cidade inteligente, não é interessante esperar pelo momento ideal

Resumindo: aqui, quanto antes colocarmos um piloto na rua, mais rápido poderemos responder (e entender) as necessidades da população.

Crédito da foto: Senne Hoekman via Pexels

Em um país onde existem mais celulares do que habitantes e as pessoas passam cerca de 9 horas por dia conectadas à web, é mais do que necessário pensar em novas formas de fazer com que a população interaja com a cidade por meio da internet. Por isso é tão importante que os designers de interação comecem a pensar em projetos que saiam da tela e tomem de fato as ruas de onde moram.

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