Balanço da Copa da Rússia

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izadorapimenta
Izadora Fala Sobre Futebol
30 min readJul 25, 2018

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Agora que nós já terminamos de digerir a Copa, que teve uma final inesperada e muitas outras surpresas do futebol (eu posso ouvir Galvão Bueno dizendo que é “a nova ordem do futebol mundial” na minha cabeça até hoje), fico feliz de trazer, por mais uma edição deste grande evento esportivo, um balanço com os principais destaques da edição, com a ajuda de alguns colegas jornalistas e afins, ligados no esporte ou não, que toparam esse desafio.

Confira:

Izadora Pimenta, jornalista e pesquisadora de discurso midiático sobre futebol

MELHOR PARTIDA: França 4 x 3 Argentina. Foi daquelas partidas que você nunca sabe o que pode acontecer até o último minuto. E muita coisa aconteceu por ali. O drama argentino, digno de um filme com Ricardo Darín como Messi (como vi alguém tirar sarro no Twitter) de colocar uma seleção desestruturada e organizada com a ajuda de um dos jogadores para jogar contra aquela que viria a ser a campeã mundial. Entendi que esse jogo também teve um simbolismo de passada de bastão. O Messi estava na partida e estava bem, mesmo sendo difícil jogar com aquele time fez duas boas assistências para gol, mas quem brilhou foi o menino Mbappé, que começou a chamar a atenção merecida após várias partidas apáticas da sua seleção na fase de grupos. Messi é o melhor que eu já vi jogar na vida e, embora eu ainda ache que ele tem muito a mostrar até o fim de sua carreira, é mais do que natural no futebol e na vida que os velhos gênios cedam seus lugares para outros.

MELHOR JOGADOR: Kylian Mbappé. O menino realmente me encantou durante o mundial. Sei que o maior ídolo do cara é o CR7, mas vê-lo jogar me traz uma alegria semelhante à que tenho com Messi. Espero que ele possa manter a cabeça firme para crescer ainda mais nos próximos anos.

MELHOR GOL: Messi, contra a Nigéria. Não é apenas pela beleza, porque eu me encantei com muito gol nessa Copa, mas acho que era aquele gol que estava entalado e ocorreu em um momento decisivo, representando a possibilidade daquilo que parecia uma loucura, que era aquela Argentina doida se classificar na fase de grupos. Tirando os gols do Brasil, acho que esse foi um dos gols que eu mais comemorei. Mas também vale destacar aqui o gol do Kroos em Alemanha x Suécia, que também teve um peso danado, os dois gols do Cavani contra Portugal, o gol do Pavard em França x Argentina, o gol do Suárez de falta contra a Rússia, o gol comemoradíssimo do Panamá contra a Inglaterra e aquele passe maravilhoso do James Rodríguez pro gol do Cuadrado em Colômbia x Polônia.

MAIOR DECEPÇÃO: Brasil x Bélgica. Eu nem me decepcionei com a seleção brasileira em si — embora tenha várias críticas ao time que entrou em campo, acredito que foi uma atuação ok. Mas me decepcionei com o acaso. Até hoje ficamos pensando naquele chute do Renato Augusto que não entrou. Ou no gol que o Alisson não defendeu. Ou no pênalti que não marcaram para o Gabriel Jesus. Mas é isso, meus amigos… Futebol. Outra coisa que eu queria destacar é a classificação do grupo H, que Senegal perdeu pro Japão pelo critério de cartões, sendo que merecia muito mais a vaga — até porque o Japão simplesmente parou de jogar contra a Polônia para garantir o lugar, em uma das atuações mais patéticas da Copa.

MAIOR SURPRESA: Acho que foi a vitória da Coreia do Sul sobre a Alemanha. Um dia antes eu estava montando os resultados do bolão e cheguei a pensar “e se a Coreia do Sul ganhasse da Alemanha?” e depois pensei “ah, impossível”, já que ainda estava pensando naquele gol do Kroos contra a Suécia que mostrava, até então, que os caras estavam vivíssimos na Copa. Eu pensei em destacar a Croácia, pensei em destacar a Rússia, mas acho que esse foi o fato mais difícil de prever.

(Dylan Martinez — Getty Images)

ESCALAÇÃO IDEAL: Courtois (Bélgica); Thiago Silva (Brasil); Miranda (Brasil); Godin (Uruguai); Kanté (França); Casemiro (Brasil); Modric; Hazard, Mbappé; Cavani; Suárez. É um time meio doido, mas na minha cabeça daria certo.

EXPECTATIVAS PRO CATAR: Com toda a certeza, vai ser a Copa mais diferente das nossas vidas. Primeiro, pela data. Segundo, porque o atual modelo com 32 times pode ser alterado já em 2022. Terceiro, porque os principais jogadores não estarão mais em final de temporada, de forma que poderemos ver muito mais gás em campo. Eu questiono a escolha do Catar por diversas questões geopolíticas, mas espero que seja uma Copa transformadora. No campo do futebol, acho que será uma copa isenta da disputa entre Messi e Cristiano Ronaldo. Eu ainda espero ver os dois jogando em 2022 (têm futebol e talento pra isso), mas tem uma galera vindo por aí. Também não aposto em Neymar como um grande nome para a seleção brasileira. Eu estou acreditando muito que o Vinicius Jr. pode ocupar um lugar de destaque, mas ainda há outras coisas muito difíceis de prever (é só a gente lembrar que o Gabriel Jesus estava pintando a própria rua em 2014 e jogou a Copa de 2018).

O QUE FALTA PRO HEXA: Menos teimosia por parte do Tite, que eu espero que continue sendo o técnico da nossa seleção e mais preparo psicológico. Acho que um pouco menos de salto alto também é fundamental. Claro que autoestima ajuda todo mundo, mas humildade tem que andar de mãos dadas por ali. Achava um pouco estranha a atitude de um jogador como o Neymar de estar sempre buscando calar os críticos após qualquer partida. Eu sou muito o Marcelo depois daquele jogo contra a Costa Rica, que mandou um “levanta daí, Ney, levanta!”.

DESTAQUE PESSOAL: Eu acho que foi ter tomado cerveja em uma vuvuzela após Brasil x Sérvia. A gente tava muito feliz, perdoa a gente.

Fernando Augusto Lopes, editor do Floga-Se

MELHOR PARTIDA: França 4 x 3 Argentina, oitavas-de-final. Todos os dramas possíveis em uma partida de futebol: o melhor do mundo tentando se virar num time desestruturado, o desabrochar de um possível gênio (Mbappé), um golaço incrível (de Pavard), o “quase” da Argentina após o gol de Aguero (o terceiro, nos acréscimos)… Esperança, desespero, alegria, tristeza: elementos que fazem do futebol o melhor esporte de todos.

MELHOR JOGADOR: Uma dúvida entre Eden Hazard, o craque silencioso, sem holofotes, limbado por uma Bélgica sem tradição, e Kylian Mbappé, o moleque travesso que toca a campainha e sai correndo numa velocidade que nos faz admirar mais pelo sorriso fruto da eficácia de sua travessura do que pelo projeto em si. Mbappé foi campeão e isso já diz tudo. Tem também Luka Modric, eleito o melhor da Copa mais como um prêmio de consolação. Não foi pra tanto, embora ele seja admirável. Fico com o francês porque futebol ainda é travessura — e o que ele fez contra a Argentina é exatamente isso.

MELHOR GOL: Benjamin Pavard, contra a Argentina. Talvez o rapaz (ele tem 22 anos!) nunca mais consiga acertar a bola com aquela precisão de curva, rodopio, velocidade, peso, angulação. Um bate-pronto de fora da área tão milimetricamente traçado que deveria ser estudado em aulas de física nas mais renomadas universidades do planeta.

(Michael Regan — Getty Images)

MAIOR DECEPÇÃO: Neymar, é claro. Não que se esperasse algo do cidadão Neymar, mas do jogador faceiro sempre se espera muito. Acho que Neymar devia ter um apelido, como Pelé. Edson Arantes ao longo da vida se mostrou um pulha, fez escolhas erradas. Daí, a gente podia separar o Pelé gênio do Edson Arantes decepcionante. O mesmo ocorre com o Fenômeno genial em campo e o Ronaldo eleitor do Aécio. Neymar é ótimo com a bola — embora nem sempre objetivo — mas péssimo como pessoa, nas escolhas de vida que refletem nas escolhas no gramado.

MAIOR SURPRESA: Croácia. Embora tenha nomes importantes no cenário mundial, em times de ponta, não creio que alguém em sã consciência apostasse na Croácia pra uma final. A não ser numa tiração de sarro, ou pra quebrar a banca do bolão, apostar na Croácia é uma das improbabilidades que reafirmam o futebol como a ciência mais inexata de todas.

ESCALAÇÃO IDEAL: Courtois, Thiago Silva, Mina, Godin; Kanté, Modric, De Bruyne, Hazard; Mbappé, Griezmann, Cavani. Um 3–4–4, três zagueiros, sem laterais, e praticamente ninguém mais marcando além de Kanté. Ofensivo até a medula, impossível na prática, mas altamente provável nos sonhos.

EXPECTATIVAS PRO CATAR: Acho que vai ser uma Copa diferente e, pra nós, brasileiros, maravilhosa. Isso porque acontecerá no nosso verão, no final do ano, ideal pra ir ao bar, não importa a hora. No campo esportivo, vai ser também uma Copa diferente porque os atletas estarão no meio da temporada e não mais no fim, como acontece em toda Copa. Ou seja, os craques estarão voando e não cansados e com o físico em frangalhos. O nível técnico tende a subir, apesar do calor. É mais uma torcida do que uma constatação.

O QUE FALTA PRO HEXA: Um pouco de flexibilidade. O problema de Tite foi se apegar demais a esse lance bisonho de meritocracia. Um jogador está mal no momento, tira, sem dó. São só sete jogos. Não dá pra se ater também a um esquema só — a Bélgica nos mostrou isso em 2018, a Alemanha fez o mesmo em 2014. Um pouco de base psicológica pra enfrentar a pressão também cairia bem.

DESTAQUE PESSOAL: Eu costumo ver os jogos importantes da Copa em bares típicos de um dos países que estão disputando a partida. Ver Uruguai 2 x 1 Portugal num bar uruguaio foi emocionante. Se a gente não vai à Copa, traga a Copa até você.

André Magalhães, jornalista, autor de “Jarda após jarda — A história do futebol americano na televisão brasileira”

MELHOR PARTIDA: França 4 x 3 Argentina, oitavas de final. Fiquei dividido entre esse jogo, Portugal 3 x 3 Espanha e Bélgica 3 x 2 Japão. Mas o jogo de Portugal foi na fase de grupos e o da Bélgica, ainda que nas oitavas, teve um zero a zero no primeiro tempo. França x Argentina foi entretenimento puro: duas viradas, golaço do Pavard, escarcéu do Mbappé na defesa argentina e até um golzinho no final só pra deixar um fio de esperança no empate. Jogão do começo ao fim.

MELHOR JOGADOR: Luka Modric, Croácia. A Copa do Modric foi espetacular. Pra mim, ele é um dos três melhores meio-campistas do mundo na atualidade. Na Copa, com uma Croácia sem tantas expectativas, fez valer sua condição de craque do time e foi um dos principais responsáveis por organizar o jogo da sua seleção e chegar à final. Seu gol contra a Argentina, na fase de grupos, foi lindo. Nas quartas, contra a Rússia, dominou o meio de campo e ainda foi coroado com uma assistência. Pode ter perdido o pênalti na prorrogação contra a Dinamarca, que evitaria um drama desnecessário aos croatas, mas compensou no final.

MELHOR GOL: Toni Kroos (Alemanha) contra a Suécia, fase de grupos. Eu gosto bastante desse gol não só pela beleza, mas por todo o contexto e significado que teve dentro do jogo. A então campeã Alemanha, com um jogador a menos, ia acumulando um ponto em duas partidas da fase de grupos. Eles precisavam de algum lance mágico para mostrarem ao mundo que aquela poderosa seleção alemã ainda estava viva. E a magia veio nos pés de Kroos, um dos melhores da Copa passada. Numa falta em que a maioria dos jogadores levantaria a bola para a área, Kroos viu diferente. Rolou para Reus, que ajeitou para o camisa 8 dar um chute perfeito, atravessando a multidão de jogadores que disputavam espaço, e a bola foi parar no ângulo oposto do goleiro. Golaço. Uma pena que, no final das contas, não serviu tanto.

MAIOR DECEPÇÃO: Alemanha. Falei, falei e falei do gol do Kroos, mas a sua seleção foi sem dúvidas a decepção. Eliminação na primeira fase em um grupo, na teoria, fácil para o poder que tinha essa Alemanha. O que mais me surpreende é que, ao contrário do que foi a Espanha em 2014, os alemães não estavam vivenciando um momento ruim. Pelo contrário, a renovação da seleção dava muitos frutos, como uma medalha de prata nos Jogos Olímpicos, o título da Copa das Confederações com um time totalmente alternativo e uma boa campanha na Euro-16. Por ironia do destino, nomes que estavam em 2014 como Boateng, Khedira, Muller e Ozil foram responsáveis pelos desempenhos apáticos da Alemanha.

MAIOR SURPRESA: Croácia. Não tem como escolher outra. Depois de uma Euro-16 sem muito brilho, não colocava muita expectativa nessa seleção croata. Talvez nem os próprios croatas esperassem tanto. De um jeito dramático, com prorrogações e saindo atrás do placar em todos os jogos da segunda fase, a campanha da Croácia foi uma das mais divertidas de acompanhar, ainda mais com a liderança de Luka Modric. Enfrentaram uma França muito forte e completa e tentaram lutar até o fim, mesmo com o cansaço de terem disputado 90 minutos extras. O título não veio, mas é um feito enorme para uma seleção que disputou duas semifinais nas últimas 6 Copas do Mundo.

(Yuri Cortez, AFP)

ESCALAÇÃO IDEAL: Hugo Lloris (França); Kieran Trippier (Inglaterra), Diego Godin (Uruguai), Thiago Silva (Brasil), Lucas Hernandez (França); N’Golo Kanté (França), Luka Modric (Croácia), Kevin de Bruyne (Bélgica), Eden Hazard (Bélgica); Antoine Griezmann (França) e Harry Kane (Inglaterra). Técnico: Roberto Martinez (Bélgica).

EXPECTATIVAS PRO CATAR: Apesar das denúncias de trabalho escravo e de todas as complicações diplomáticas do Catar, espero que seja uma Copa muito boa, tal qual a de 2018. Provavelmente vai ser a despedida do modelo de torneio com 32 times e da fase de grupos do jeito que estamos acostumados, então é bom aproveitarmos. Um detalhe interessante para prestar atenção é que a Copa será realizada em novembro, na primeira metade da temporada para os europeus. Então, é esperado que os jogadores estejam no auge da forma física, o que pode deixar as coisas mais interessantes.

O QUE FALTA PRO HEXA: Em primeiro lugar, consolidar um projeto e um estilo de jogo. Tite é alvo de muitas críticas por causa dessa Copa, mas acredito que é o melhor nome ainda para a seleção. Para mim, o hexa só vem quando houver um planejamento para o futebol no país que consiga bater de frente com o que os europeus fazem. As semifinais compostas apenas por europeus mostram que o futebol sul-americano tem muito o que evoluir para conseguir disputar o título, sem mais aquele senso comum de depender apenas do talento. A parte mental também precisa ser muito trabalhada: existe uma pressão enorme no país para a conquista do título, e o psicológico precisa ser trabalhado. Isso, para mim, ficou muito evidente no jogo contra a Bélgica depois do primeiro gol dos adversários e é um problema recorrente da seleção.

DESTAQUE PESSOAL: Para mim, foi uma Copa muito especial porque apresentei meu TCC enquanto ela ocorria. Se a Copa de 2014 aconteceu nos meus primeiros meses de faculdade, a de 2018 serviu como o encerramento. Agora é imaginar o que pode acontecer na do Catar.

Paulo do Valle, jornalista

MELHOR PARTIDA: França 4 x 3 Argentina

MELHOR JOGADOR: Hazard

MELHOR GOL: Kroos — Alemanha 2 x 1 Suécia

MAIOR DECEPÇÃO: Lewandowski e sua Polônia

MAIOR SURPRESA: Rússia

ESCALAÇÃO IDEAL: Pickford (Inglaterra); Trippier (Inglaterra); Varane (França), Umtiti (França); Chadli (Bélgica); Kanté (França); Modric (Croácia); Pogba (França); Hazard (Bélgica); Griezmann (França); Mbappé (França). Técnico: Roberto Martínez (Bélgica).

EXPECTATIVAS PRO CATAR: espero que continue com 32 seleções. Gosto da ideia de ser no final do ano. Acho que os jogadores vão chegar mais inteiros.

(Eugênio Sávio)

O QUE FALTA PRO HEXA: Não falta nada. Mas só da pra ganhar um. Futebol está cada vez mais igual e se resolve em detalhes. E estamos falando de 7 jogos num curto espaço de tempo. Fica ainda mais imprevisível. Um dia ganha de novo.

DESTAQUE PESSOAL: Apostei antes da Copa que a Croácia seria a grande surpresa.

Sandy Quintans, jornalista, escreve no Pronto, Usei!

MELHOR PARTIDA: Portugal x Espanha. Eu acabei perdendo essa partida, mas tive que acompanhar tudo depois porque esse é exatamente o tipo de jogo que me faz ter vontade de assistir futebol. Muitos gols, muitas reviravoltas, muita emoção. Também vale citar Bélgica x Japão, só porque futebol é um esporte imprevisível.

MELHOR JOGADOR: O meu favorito foi o Mbappé e não poderia ser diferente, não é? Acho impressionante um jogador tão jovem com a qualidade que ele já apresenta em campo, além de carregar uma história que e muito próxima com jogadores do Brasil. Vê-lo erguendo a taça em um país como a Rússia, que ainda é racista, tem um significado enorme que e tudo isso é mérito do talento dele.

MELHOR GOL: Muito difícil escolher, sério. Mas vou ficar com o Luka Modric, da Croácia, no jogo contra a Argentina. Me dá um prazer tão grande ver essa jogada, porque parece que a bola vai pegar na trave, mas ela faz aquela curva deixando o goleiro sem chances.

MAIOR DECEPÇÃO: Acho que nessa Copa tivemos duas grandes decepções, a primeira foi de ser eliminado no melhor desempenho da nossa seleção (embora com muitos erros). Foi basicamente aquela partida que deu gosto de torcer até o último segundo, que seguimos acreditando que ainda tínhamos chances. Outra grande decepção foi ver um torneio que começou com tantos times legais e partidas emocionantes acabando com quatro seleções europeias na semi-final e ficarmos perdidos pra quem torcer.

MAIOR SURPRESA: Ver seleções com grande tradição na Copa sendo eliminadas muito cedo. Vimos a Argentina, Uruguai, Espanha, Portugal e Alemanha darem adeus nas primeiras rodadas, o que deu a oportunidade de times com menor reconhecimento seguirem na competição.

(Robert Cianflone, Getty Images)

ESCALAÇÃO IDEAL: Como não domino a ciência da escalação preferi citar onze dos meus jogadores preferidos que estiverem nesse Copa, não necessariamente levando em consideração a posição que eles jogam. Mbappé, Messi, Firmino, Thiago Silva, Luka Modric, Neymar, James Rodríguez, Paulinho, Thomas Muller, Philippe Coutinho e Courtois.

EXPECTATIVAS PRO CATAR: Claro, a maior expectativa é: VEM HEXA. Eu acredito muito que nossa seleção vai amadurecer ainda mais pra próxima Copa, o que nos deixará ainda mais próximo da tão sonha Taça. Também acredito que vamos ver cada vez mais países estreando na competição. Vejo que nas últimas Copas têm começado a surgir cada vez mais seleções novas e é sempre emocionante ver isso acontecer. Amei acompanhar o desempenho da Islândia, de saber as profissões dos jogadores e de ver a comoção do país em estrear na Copa. Embora o Panamá não tenha deixado a mesma marca, ainda assim é legal e acredito que seja um dos maiores espíritos da competição.

O QUE FALTA PRO HEXA: Muita coisa. Acho que um dos maiores problemas que nós temos é falta de entrosamento em campo. Sabe quando você olha pro seu melhor amigo e os dois já sabem o que outro tá pensando? Jogos em equipe necessitam disso e é uma coisa que não vejo na nossa seleção. Também acho que experiência e amadurecimento dos nossos jogadores pode contribuir pra vermos menos erros meio amadores em campo. Precisamos de jogadas mais efetivas e menos preocupação com o tal futebol bonito. Vamos treinar, minha gente.

DESTAQUE PESSOAL: Essa Copa aconteceu bem no meio do meu intercâmbio na Irlanda, algo que não havia prestado atenção até faltar uns dois meses pro início da competição. Foi muito estranho passar esse período que sempre é de reunião com os amigos e familiares, além dos tradicionais churrascos em dias de jogos, longe da algazarra que é o Brasil nesse mês. E eu senti muita falta. Por sorte, a comunidade brasileira em Dublin é gigantesca e lotamos os Pubs no centro da cidade pra acompanhar as partidas do Brasil e tenho que dizer que fizemos uma torcida linda por aqui. Eu não acho que vá conseguir esquecer da energia dessas reuniões nem tão cedo. Também não posso deixar de citar todo o carinho que os gringos demostraram pela nossa seleção e alguns velhinhos até paravam pra me contar de quando viram o Pelé aqui em Dublin, jogando pelo Santos. É impressionante como as pessoas amam o nosso futebol e o quanto é respeitado.

Daniel Pandeló Corrêa, diretor de conteúdo da Build Up Media

MELHOR PARTIDA: Sim, foi Espanha e Portugal. Sei que todos devem pensar isso de cara, mas parece quase injusto por ter sido algo tão no começo da Copa. Se eu tivesse que listar uma segunda opção, incluiria França e Argentina. Principalmente pela montanha-russa de emoções que foi ver a França esmerilhando a Argentina e sabe-se lá como, nossos hermanos quase empatando no final.

MELHOR JOGADOR: N’Golo Kanté. A França não teria chegado na final sem ele. Um pensador tático impressionante e figura chave na defesa dos Bleus.

MELHOR GOL: Pavard, lateral direito da França mandando um tijolo de três dedos no ângulo da Argentina.

MAIOR DECEPÇÃO: Egito e Espanha. Sei que o Salah sozinho não faz milagre, mas o que o time era ruim era sacanagem. E a Espanha, tirando a partida contra Portugal, parecia nem querer estar em campo. E pensar que apostei nesse time num bolão para chegar na final…

MAIOR SURPRESA: essa Copa foi uma zebra atrás da outra, mas acho que aquela vitória da Coréia sobre a Alemanha foi sensacional.

ESCALAÇÃO IDEAL: Subasic (Croácia); Vrsaljko (Croácia), Varane, Umtiti e Hernández (França); Kanté e Pogba (França) e Modric (Croácia); Hazard e Lukaku (Bélgica), Griezmann (França)

(Jiji, AFP)

EXPECTATIVAS PRO CATAR: até lá vamos problematizar demais as condições de trabalho que estão sendo criadas, questões de escravidão e as hipocrisias do governo catari. Durante a Copa, vai ser sensacional ver no bar pois vai ser na época de confraternização de fim de ano.

O QUE FALTA PRO HEXA: Maturidade. Seja pelo ponto de vista do Tite, que tem que continuar, de aprender a fazer as mudanças mais cedo e não morrer abraçado com jogadores. Seja pelo ponto de vista do Neymar, que será trintão e espero que desistam de tratar ele como uma criança inconsequente e talvez ele pare de ter momentos tão patéticos em campo quanto ele protagonizou.

DESTAQUE PESSOAL: CANARINHO PISTOLA. Não sei quem pensou nesse mascote, quem está o personificando com tanto vigor, mas olha… é o espírito da internet brasileira em forma de pássaro e ódio.

Vinícius Cunha, editor do Gshow

MELHOR PARTIDA: FRANÇA 4×3 ARGENTINA. Duas viradas da França no jogo e uma atuação assombrosa de Mbappé. O moleque de 19 anos só faltou fazer chover no clássico que eliminou a Argentina de Messi da Copa. Assustou os adversários com suas e ainda fez dois gols na vitória da França se igualando a Pelé, como um dos poucos a marcar dois gols em partidas de mata-mata do mundial. Tá bom pra você?

MELHOR JOGADOR: Eden Hazard. Maestro da ótima geração belga e de liderança moral e técnica bem rara no futebol atual. Fagner e Fernandinho não conseguiriam nem pegar a sombra do ponta-esquerda nas quartas contra o Brasil. Com três gols e duas assistências no Mundial, foi essencial para que a Bélgica alcançasse sua melhor posição na história. Não por acaso é um dos nomes mais cobiçados na janela de transferências do meio do ano.

MELHOR GOL: Pavard; 2º gol da França contra a Argentina nas oitavas. Talvez não seja o Melhor Gol, mas um dos mais importantes. 2 a 1 para Argentina e eis que Benjamin Pavard acerta uma pancada de fora da área, um slice de três dedos que morre no ângulo direito do arqueiro Armani. Daqueles pra ver em looping em câmera lenta de tão bonito. Cornetado na convocação provou de uma vez por todas que a insistência de Deschamps na sua presença na lista final era mais que correta.

(Reuters)

MAIOR DECEPÇÃO: O fracasso da Alemanha. O fim de um ciclo campeão da seleção germânica e da pior forma possível. Depois do sonoro 7 a 1 que culminou no tetracampeonato no Maracanã, ninguém acreditava na saída precoce da Alemanha em 2018. Pois foi o que aconteceu. Duas derrotas na fase de grupo e a volta pra casa mais cedo da história da Alemanha. Pra esquecer.

MAIOR SURPRESA: Rússia. O fator casa ajudou muito, mas a Rússia com organização tática, defesa consistência e o momento iluminado de Cheryshev levaram os russos até às quartas eliminando a favorita Espanha nas oitavas com uma atuação de gala do goleiro Akinfeev.

ESCALAÇÃO IDEAL: Courtois; Varane, Thiago Silva, Mina; Kanté, Modric, Coutinho, Hazard; Cristiano Ronaldo, Griezmann e Mbappé. Técnico: Zlatko Dalic

EXPECTATIVAS PRO CATAR: A opção da Copa no Catar é meramente financeira e Dona FIFA não é nem um pouco boba. Dinheiro não é problema para o maior exportador de gás natural liquefeito do mundo. Um dos grandes desafios do Catar é a acomodar 32 delegações, seus torcedores e a imprensa internacional em um país minúsculo. É preciso muito mais do que o país atualmente oferece. Para driblar o verão com temperaturas de até 50º, a Copa será disputada em dezembro em estádios climatizados. Já emenda Copa do Natal, Ano Novo, Férias… sucesso total!

O QUE FALTA PRO HEXA: A grande preocupação é a falta de renovação no setor defensivo. Enquanto meio e ataque contam com novos e potenciais selecionáveis como Vinicius Jr, Paulinho, Paquetá, Artur, Rodrygo e David Neres, laterais e zaga estão carentes de peças. Na zaga, Thiago Silva e Miranda, ambos com 33 anos, são atletas que encerraram o ciclo com a Amarelinha. Marquinhos com apenas 24 anos, que ficou no banco de reservas na Rússia, desponta como líder dessa renovação. Na ala esquerda, Marcelo, de 30 anos, não fez boa Copa e não indica estar em plenas funções em 2022. Vaga que deve cair no colo de Alex Sandro, que defende a Juventus. A maior das preocupações é a lateral direita. Orfã de Daniel Alves, o setor não tem muitas revelações e não tem em Danilo uma figura que inspira confiança para o futuro. Nomes como Alisson e Ederson, o volante Casemiro, os meias Philippe Coutinho e Willian e os atacantes Neymar e Gabriel Jesus são a base de quem foi à Rússia e, neste começo de caminhada para o Catar, devem permanecer no projeto hexa. Matéria-prima não falta. Falta só um pouco de sorte, menos cai-cai e mentalidade para reverter placares adversos.

DESTAQUE PESSOAL: As amizades que se formaram durante a Copa. Entre bolões e reuniões para ver os jogos, fiz novos amigos, consolidei antigos e ainda me ofereceu o melhor dos esportes, palpitar sobre futebol. #CopaEterna #VoltaCopa

Ronnie Romanini, comentarista da Rádio Central

MELHOR PARTIDA: Bélgica x Japão. Muito difícil escolher a melhor partida. Os critérios podem variar de equilíbrio, futebol jogado, emoção, os detalhes que marcam historicamente um jogo. Fiquei entre cinco opções onde qualquer um deles que eu escolhesse não seria algo absurdo, mas por tudo como aconteceu, vou ficar com Bélgica 3 x 2 Japão, mesmo que todas as emoções tenham sido concentradas apenas no segundo tempo.

MELHOR JOGADOR: Eden Hazard (Bélgica) — Sempre a escolha do melhor jogador da Copa é muito polêmica. Até o momento em que se lesionou, Cavani contava com as melhores atuações e era o atleta de destaque. Porém com a lesão — e com a consequente eliminação para a França — o uruguaio ficou fora da disputa. Dos finalistas, não seria injustiça escolher os franceses Mbappé e Griezmann ou o croata Modric, eleito pela Fifa o craque do torneio. Mas não dá pra ignorar a Copa que Eden Hazard fez. Se Lukaku caiu de nível nas fases mais agudas e De Bruyne viveu de (excelentes) poucos momentos, Hazard conseguiu ser regular durante toda a competição e fez uma fase final absurda.

MELHOR GOL: Toni Kroos (Alemanha) — Gols espetaculares aconteceram nessa Copa do Mundo. Coutinho, contra a Suíça. Nacho, contra Portugal. Pavard, contra a Argentina. Dos três melhores, Quaresma com seu chute característico de três dedos contra o Irã e a exepcional jogada do terceiro gol da Bélgica contra o Japão marcado por Chadli (de jogada construída foi, disparado, o tento mais bonito da Copa e a atuação de Lukaku sem a bola nesse lance é fora de série). Mas o gol de Toni Kroos foi daqueles em que é impossível, mesmo para os que estavam torcendo contra, não vibrar. Foi o momento de maior euforia que tive nessa Copa mesmo assistindo o jogo sem torcer para nenhum lado, despretensiosamente. O gol foi importante por dar esperanças ao torcedor alemão de uma melhor sorte da seleção na competição e evitou um vexame maior. A mistura de ousadia, técnica e precisão na cobrança de falta de Kroos fez com que esse gol seja o melhor da Copa para mim (e possivelmente para Roger Flores também).

(Michael Steele, Getty Images)

MAIOR DECEPÇÃO: Alemanha — Não tinha como ser outra. A Espanha foi atrapalhada pela contratação pelo Real Madrid do técnico Julen Lopetegui. A Argentina só tinha condição de fazer mais do que fez com o Messi dopado ou tendo feito um pacto. Talvez seja a única real decepção dessa Copa e não apenas futebolisticamente (nesse domingo o meia Mesut Özil anunciou sua aposentadoria da seleção alemã com uma longa carta tecendo críticas à federação alemã — inclusive apontando nomes — e se dizendo vítima de preconceito por ser muçulmano e ter descendência turca).

MAIOR SURPRESA: Rússia. Escalações que mudavam de acordo com o adversário, a entrada de Dzyuba no lugar de Smolov, contornar a lesão na primeira rodada de Dzagoev — um dos jogadores mais importantes da seleção -, afastar a desconfiança que pairava sobre a anfitriã da Copa durante todo o período de preparação. Rússia foi realmente o azarão da Copa. Não vejo a Croácia como uma surpresa do mesmo nível. Palpitei que passaria em primeiro no grupo da Argentina e até poderia ser a grande surpresa por ter chego até a final, mas o caminho da seleção croata foi um pouco facilitado pela diferença de forças das chaves no mata-mata.

ESCALAÇÃO IDEAL: Courtois; Trippier, Varane, Umtiti e Vrsaljko; Kanté, Modric, Pogba; Griezmann, Hazard e Cavani. Outros destaques: Pickford, Schmeichel, Mina, Thiago Silva, Stones, Meunier, Torreira, De Bruyne, Rakitic, Perisic, Mbappé, Kane, Lukaku.

EXPECTATIVAS PRO CATAR: A expectativa (ou torcida) principal é que a Fifa não atinja seu objetivo de ampliar o número de seleções para 48 já na Copa do Catar em 2022. Futebolisticamente falando, tudo indica que a França chegará em um nível ainda acima do mostrado nesse ano, o que a coloca como favorita desde já com a grande e jovem equipe que tem. O Brasil não fica muito atrás. Temos uma geração em que os melhores jogadores ainda podem disputar mais um torneio e novos valores vem surgindo para agregar força, casos de Paquetá, Vinicius Jr., Malcom, Arthur. Já Messi e Cristiano Ronaldo, os dois jogadores que dominaram o futebol mundial na última década, podem ter a última chance de erguer uma taça da Copa do Mundo como veteranos em 2022, o primeiro com 35 anos e o segundo com 37. Nenhum dos dois anunciou a sua aposentadoria da seleção ainda e a minha grande expectativa é ver esses dois craques em mais uma Copa do Mundo. Com a idade mais avançada e uma dependência possivelmente menor, seria interessante vê-los na última tentativa de colocarem seus nomes ainda mais na história.

O QUE FALTA PRO HEXA: A globalização do futebol fez com que a forma de praticar futebol mudasse em vários países. Sem como competir com os grandes centros da europa, que é onde está a maior visibilidade e o futebol de alto nível, organizado, nosso campeonato nacional esmorece. A cada ano o nível cai. Não fossem os talentos que ainda surgem em grande escala no país, seria ainda menor, já que dirigentes de clubes, de federações, da confederação, Ministério Público, STJD, Imprensa, patrocinadores, todos fazem de tudo para atrapalhar o espetáculo e tentam todos os dias tirar o prazer desse esporte sensacional. Não temos como equiparar o poderio financeiro e de atração dos campeonatos Espanhol, Alemão, Inglês com o do Brasileirão. A seleção inglesa, por exemplo, cresceu muito com a cultura nova que estrangeiros trouxeram ao seu campeonato que é, disparado, o mais rico e competitivo hoje. Seria ilusório pensar que algo assim poderia acontecer no Brasil, a globalização pode não nos atingir dessa maneira, mas os jogadores da Seleção estão nos grandes centros (e até nos mais exóticos, como a China) e bebem da mesma fonte. A diferença é na forma de pensar o futebol. E aí os mesmos atores que minam o nosso campeonato, nosso futebol local, são os responsáveis pela maneira que o tratamos aqui. Creio que chegou a hora de ter humildade, começar a aprender diferentes maneiras de praticar futebol, resgatar outras e, principalmente, pensar sobre ele. O custo da mudança pode ser maior que o ganho, mas ela tem que acontecer e uma nova mentalidade não pode mais ser adiada. A solução pode ser muito mais fora de campo do que dentro. Dentro, são 32 seleções (ou 48 dentro de no máximo 8 anos) buscando o mesmo objetivo, então não é algo exato. O Brasil já ficou 24 anos sem ganhar uma Copa do Mundo. Daqui 4 anos fará 20 da última taça levantada. No intervalo desse período grande sem conquista, a revolução na forma de pensar futebol que a Holanda de Rinus Michels apresentou na Copa de 74. Mesmo sem conquistas mundiais, a Holanda marcou época e em 88 conseguiu um título da Eurocopa com uma outra geração brilhante, comandada pelo mesmo Rinus Michels, já muito mais experiente. Nesse intervalo de agora, também pudemos observar uma mudança na forma de praticar e pensar o futebol com a aparição do ex-jogador e técnico Pep Guardiola, discípulo de Cruyff que era discípulo de Michels. Pep não revolucionou. Pegou o que já havia sido feito, aceitou correr riscos e misturou o futebol antigo com a velocidade e força física demandada atualmente. A referência do futebol total holandês muito forte no seu plano de jogo é combinada com uma admiração pelo antigo futebol brasileiro, principalmente o de 82. Creio que olhar um pouco para essas mudanças e tendências seja essencial para voltarmos a ser a seleção que despertou paixão e encantamento no mundo todo. “As pessoas estão muito enganadas em pensar que só é título quando se ergue a taça”. Essa frase foi dita por Pep Guardiola quando foi informado por um jornalista brasileiro que os jogadores da Seleção de 82 o elogiaram e diziam ver um pouco daquela equipe nos times treinados pelo catalão. Para ele, assim como para aquela seleção, futebol é mais que números, resultados, títulos. É o sentimento, são as emoções despertadas nas pessoas durante os 90 minutos. Creio que poderíamos pensar o esporte um pouco mais dessa maneira, além de só querer vencer, vencer e vencer.

DESTAQUE PESSOAL: A emoção que o futebol (ainda) é capaz de (me) proporcionar. O jogo tenso de Irã x Portugal, onde um gol eliminaria os Lusos. O contra-ataque sensacional iniciado pelo goleiro Courtois, passando por De Bruyne, Meunier, corta-luz do Lukaku e gol de Chadli. A vitória da Argentina sobre a Nigéria que deixou Lionel Messi, o melhor jogador que já vi jogar, ainda vivo na Copa do Mundo. O gol de Toni Kroos, a raça uruguaia, o futebol do México e Suécia, antagônicos em sua forma, mas com muita combatividade. A vitória da Coréia do Sul sobre a Alemanha. O primeiro gol do Panamá em copas. A emoção dos japoneses após o gol sofrido e o sonho das quartas de final desfeito. A goleada da Rússia na estréia, a falha de De Gea em chute de Cristiano Ronaldo e seu gol de falta no final da mesma partida. A disputa de pênaltis entre Croácia x Dinamarca. Eu poderia continuar aqui eternamente. Todos esses e muitos outros lances me levaram aos risos, nervosos ou não, às lágrimas (explicáveis ou não), à euforia. Para quem ama o futebol, ele costuma entregar muito e provavelmente na próxima Copa do Mundo, com 4 anos a mais, terei de consultar um cardiologista antes do início do evento.

Lucas Brêda, jornalista de música, passou pela Rolling Stone Brasil

MELHOR PARTIDA: França 4x3 Argentina. É óbvio que sete gols, duas viradas e um golaço (o de Pavard, da França) em um duelo de América do Sul contra Europa em Copa do Mundo já são suficientes para fazer de qualquer jogo uma experiência memorável. Mas este embate pelas oitavas de final representou muito mais: foi a hora da verdade para uma bagunçada Argentina — que, pelo nível dos jogadores, poderia ressurgir com força no mata-a-mata –, o grande teste emocional da futura campeã e o momento em que Mbappé, com dois gols e um desempenho impressionante, despontou como a jovem sensação do mundial.

MELHOR JOGADOR: Luka Modric. A Croácia, de maneira absolutamente surpreendente, teve a melhor campanha de sua história e, apesar das defesas de Subasic — que falhou na final –, Modric foi o jogador mais importante para este feito. Não há dúvidas de que Mbappé ou Hazard (da Bélgica) são muito mais legais de assistir, mas a regularidade e a raça do croata, participando ativamente do desenrolar dos jogos e brigando por todas as bolas em prorrogações consecutivas, fazem dele uma peça muito mais importante para o próprio time do que qualquer outra.

MELHOR GOL: Yerry Mina (Colômbia contra Inglaterra). Longe de ser o mais bonito, o gol do Mina contra a Inglaterra, no último minuto, empatando e levando o jogo para a prorrogação colocou algumas coisas em seu devido lugar. Com a vitória parcial, o time europeu já estava chato de tanto fazer cera enquanto os sul-americanos batalhavam no coração e mereciam o empate. O gol foi a representação futebolística disso tudo: o castigo acachapante para a postura burocrática da Inglaterra, em uma cabeçada forte, com a bola batendo no zagueiro e na trave antes de entrar, chorada, provocando um grito de gol com aquele sentimento de desabafo (quem não gritou um “Chupa!” para os ingleses nessa hora?). Além de tudo, veio para coroar a atuação perfeita do Mina.

(Buda Mendes, Getty Images)

MAIOR DECEPÇÃO: Os times sul-americanos e africanos. Conforme a Copa foi afunilando, as saídas precoces dos times africanos e, depois, de Uruguai, Colômbia, Argentina e Brasil, deram aquela cara de “videogame” ao mundial, que já acontecia na Europa, com os estádios padrão-Fifa e os jogadores que atuam no continente. Caiu muito o carisma do meio pro fim.

MAIOR SURPRESA: Croácia. Para mim, a Bélgica foi quem jogou melhor, mas a sequência aos trancos e barrancos dos croatas deram ao mundial a narrativa do azarão, que é fundamental pra gente continuar encarando o futebol como o esporte mais improvável de todos. Graças às façanhas da Croácia, tivemos muito mais minutos de emoção (prorrogações e pênaltis) e, enfim, uma final diferente do que sempre rola.

ESCALAÇÃO IDEAL: Goleiro: Courtois (Bélgica); Zagueiros: Mina (Colômbia) e Thiago Silva (Brasil); Lateral Direito: Trippier (Inglaterra); Lateral Esquerdo: Hernández (França); Meias: Casemiro (Brasil), Modric (Croácia), De Bruyne (Bélgica); Atacantes: Mbappé (França), Cavani (Uruguai) e Lukaku (Bélgica).

EXPECTATIVAS PRO CATAR: “Não tem mais bobo no futebol”. Para essa frase continuar valendo, eu espero, sinceramente, que seja uma Copa com mais times africanos, sul-americanos ou asiáticos chegando bem nas fases decisivas. Se tiver a Holanda, o Vinicius Jr. e o Lucas Paquetá já vai ser bom também.

O QUE FALTA PRO HEXA: O Tite deu a organização tática que faltava ao Brasil nos últimos anos. Mas, com isso, ele tirou a nossa personalidade pra decidir na frente (o Gabriel Jesus exaltado como perfeito na função tática e um zero à esquerda no ataque mostra bem isso). O Brasil precisa manter a solidez, mas voltar a ter coragem e ousadia pra fazer as jogadas e os gols, achar um equilíbrio nisso aí. E também ter mais humildade para perder essa postura de ‘vou ganhar esse jogo a qualquer momento’ (tipo contra a Costa Rica, que tendo ganhado por 2 a 0 passou o jogo inteiro travado no empate).

DESTAQUE PESSOAL: Em 2018, não consegui ficar contagiado pela seleção brasileira, tanto pela postura teimosa e até arrogante do Tite, tanto pelo individualismo do Neymar, ou até pela falta de carisma do time inteiro. Taticamente, foi o Brasil mais bem treinado e seguro que eu acompanhei desde que nasci (mais que o de 2002, e em 1994 eu tinha zero anos de idade), e nem isso foi capaz de fazer com que eu me emocionasse por esse time. A birra com alguns jogadores (Paulinho, Willian, Gabriel Jesus) foi crescendo tanto que, em certa altura, qualquer conquista pessoal deles parecia nada mais que a obrigação, visto o quanto eles estavam devendo. Não foi porque “jogava meio feio”, mas sim pela falta de personalidade de quase todo mundo (até o Coutinho, que tinha sido exceção na primeira fase, depois caiu) do meio pra frente. O time parecia convencido de que ser organizado taticamente seria suficiente para ganhar uma Copa, quando isso deveria ser “apenas” a base para que a inspiração (inexistente) no último terço do campo decidisse os jogos. Torci, claro, em todos os jogos, mas pouco me tocou nesse Brasil básico, da função tática, do 1 a 0 e que nem teve raça suficiente para sufocar a Bélgica naquele segundo tempo.

Karina Pilotto, jornalista e redatora publicitária da Impulsa Comunicação

MELHOR PARTIDA: Cara… sinceramente? Nenhuma me marcou! Sério! Fiquei um tempão pensando em jogos e jogos que assisti, desde as fases de grupo até a final, e nenhum marcou minha memória! Os últimos estão “mais frescos” na cabeça, mas sei lá…

MELHOR JOGADOR: Mbappé! Confesso que antes da Copa não o conhecia muito bem, mas nos jogos da França ele foi se destacando e conseguiu minha atenção depois daquela mega arrancada contra a Argentina, alcançando 32,4km/h por hora, me convenceu que é um cara excepcional! Sem contar a humildade em campo e história massa de esforço! Arrasou!

MELHOR GOL: os do CR7, porque ele é lindo! Hahahaha zoeira a parte, o cara tem uma elegância pra marcar, me impressiona muito!

MAIOR DECEPÇÃO: Brasil… sem mais.

(Lucas Figueiredo, CBF)

MAIOR SURPRESA: A Alemanha foi emboraaaaaaaaaa na fase de grupooooooooos! Cê tá me zoando, né? Quem chutaria isso em 2014? Mas, é aquilo, “um dia você é campeão, no outro dia, não!”

ESCALAÇÃO IDEAL: Bom, gostei bastante do time da Bélgica e a Croácia em campo, acho que manteria uma mistura entre os dois.

EXPECTATIVAS PRO CATAR: Hexa pra mim já virou “o sonho da casa própria”: aquele que todo mundo tem, mas ninguém mais faz pé-de-meia e bota muita fé, porque tá difícil! Minha expectativa é que a Copa continue cativando discussões importantes, como este ano, em que falamos muito sobre o preconceito racial, contra as mulheres (principalmente as jornalistas que estavam cobrindo o evento), contra a comunidade LGBT na Rússia, contra os imigrantes na Europa, enfim. Que a Copa não seja só futebol, que seja um espaço para reflexão sobre a união das nações! Ah, quero também que mais times “pequenos”, de países que não têm tradição em futebol, ganhem espaço no mundial!

O QUE FALTA PRO HEXA: FALTA A MARTA!!!!!! MAIOR ARTILHEIRA DA SELEÇÃO! Falta também os jogadores entrarem em campo com menos marketing na cabeça e mais foco no que precisam fazer em campo! Os caras tão mais preocupados com as campanhas, patrocínios, likes, que com as chuteiras!

DESTAQUE PESSOAL: Cara, essa época não rendeu “grandes momentos” pra mim como a de 2014 (sdds 2014!). Mas se eu fosse destacar foi a união da galera do trampo (ex-trampo) para se organizar e ver o jogo junto! E o ápice foi no jogo que o Brasil jogou às 9h, que fomos ao mercado às 8h em ponto e as pessoas já estavam de “verde e amarelo” esperando as portas do comércio abrir pra comprar os quitutes pra partida (alguns inclusive já garantindo a carne do churrasco!).

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