Perfil: o pontapé inicial de Rubel

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Izadora Fala Sobre Música
5 min readJan 30, 2018

Matéria publicada originalmente em 21 de agosto de 2013 no extinto site Rock ’n’ Beats

Foto: A Gambiarra

O gravador ligado ainda causa certo desconforto a Rubel enquanto ele se prepara para receber uma série de perguntas que giram ao redor de um álbum lançado de maneira tímida no início do ano. Talvez porque ainda pareça uma novidade esse negócio de falar sobre sua música a alguém: como tudo surgiu de uma forma ainda não planejada, ele busca um espaço para esclarecer o momento e tem muita curiosidade para saber o que as pessoas estão achando de tudo isso. “Queria saber a resposta”, confessa.

No café da Livraria da Travessa em Ipanema, bairro em que mora no Rio de Janeiro, dividimos uma cerveja e, cheio de perguntas sobre esse universo tão novo no qual agora se vê inserido, o rapaz de 22 anos contou que está tentando descobrir como sair da limitação da Internet, mas, ainda, sem grandes pretensões. Com foco profissional no Cinema, curso ao qual se dedica na PUC-Rio, ele diz que não é possível ter uma ideia clara do quanto seu projeto musical está atingindo as pessoas, mas considera que a repercussão, até então, foi boa. Com apenas “3, 4 shows na bagagem”, ele se anima com as mensagens que recebe de quem se identifica com o projeto e torce para tudo isso crescer.

Pearl, o primeiro álbum de Rubel, disponibilizado para audição e download em fevereiro, leva o nome e a alma de uma república na prolífica Austin, no Texas, onde chegou por conta de um intercâmbio. O ambiente da casa, que abrigava cerca de 120 pessoas que trabalhavam e dividiam tarefas para mantê-la, aproximou-o da música de forma quase natural: a cidade, mundialmente conhecida por sua cultura alternativa, sobretudo pelo festival South By Southwest, é caminho certeiro para quem deseja vivenciar estas artes — por isso, já era de se esperar que em uma casa com tanta gente, existisse artistas com várias bagagens e habilidades. Não bastasse isso, a casa possuía seu próprio estúdio de gravação. Logo ele se juntou com um pessoal e começou a tocar rock (“como Led Zeppelin”) e MPB, enquanto outras duas bandas coexistiam neste mesmo espaço. Dos encontros que essas bandas faziam para tocar juntas, surgiram os seus companheiros no álbum, que gravaram tudo em quatro dias e nunca existiram como uma banda propriamente dita.

Antes de seu projeto solo, ele até teve uma banda, que levava o nome de Corleones e tocava “rock alternativo”. Da banda, ainda se encontra uma comunidade no Orkut, que cita Audioslave, Strokes, Los Hermanos, Rage Against the Machine, Led Zeppelin e Red Hot Chili Peppers como as principais influências e cinco músicas em uma página no MySpace. Dos 14 aos 17 anos ele assumiu as guitarras do trabalho, mas o contato com a música começou desde os nove anos, quando começou a tocar violão todos os dias. Agora, para levar as músicas de Pearl aos palcos, ele também conta com os músicos Leonardo Fiuza (baixo acústico), Jeovan Bardo (sanfona) e Filipe Nunes (violão), que se juntaram a ele por indicação de alguns amigos e começaram a dar uma “cara nova” na atmosfera iniciada na cidade texana.

Pearl é mais uma dessas expressões naturais que são cada vez mais comuns no meio independente: sem medo de se abrir para o público, o músico junta um balaio de ideias, coloca em um disco e lança na internet — um modelo que soa legítimo para o carioca, apesar de tudo ser muito recente na sua vida. Tanto é que diz acompanhar pouco a cena que se forma do Rio de Janeiro, mas gosta dos amigos da banda Os Dentes, de Letuce e de Cícero, cujo trabalho surgiu em moldes bastante parecidos com o seu e, apesar de atingir o mesmo público alvo, “tem outra pegada”. Rubel aliou o ‘violão carioca’ ao folk americano para construir suas canções, mas as influências, que vão da música popular brasileira ao rap de Tupac Shakur, são mutáveis. “Não tenho uma influência direta”, conta. Os discos novos do Daft Punk e do Edward Sharpe And The Magnetic Zeros vêm fazendo sua cabeça ao lado de trabalhos mais antigos de Jay-Z e de Kanye West. Mas além das suas próprias referências, agora ele pensa como banda e já absorve também o que seus parceiros escutam. As duas novas músicas que eles já trabalham, a propósito, virão em uma roupagem diferente, delimitando um novo caminho, revela. ”São coisas bem mais brasileiras, não sei explicar…”.

A capital fluminense, que agora é a nova atmosfera de seu trabalho, atualmente é um local muito diferente para a música em relação à Austin, por sinal, que já é famosa pelo seu cenário independente. Ele conta que por lá as bandas possuem mais espaço e maior interesse do público, que já está acostumado a sair de casa para assistir a shows de pessoas que nem conhecem. Por aqui, a situação já é outra. “Tenho dificuldade de estabelecer o que está acontecendo de fato”, opina, a respeito dos artistas que, como ele, lançam suas músicas e estão distantes de chegar ao conhecimento do grande público. “Espero que a grande mídia e a internet procurem uma forma de fazer uma conexão. Isso até acontece, mas ainda é muito pouco. Tem que existir um espaço maior”, acredita. O cenário ideal de um novo Rio, que, para ele, ainda não forma uma cena de forma muito clara, diferentemente dos cenários fortes e resistentes em meio aos quais Pearl nasceu, seria a abertura de mais casas de shows e mais iniciativa por parte de agitadores culturais que acreditem nesse negócio.

Sua maior preocupação mesmo, no momento, era com um crowdfunding iniciado através da plataforma Catarse para a gravação de seu primeiro clipe, para a faixa O Velho e o Mar, que se encerrou na terça-feira (20) sem atingir a meta necessária para o valor. Mas a ideia ainda é fazer rolar, “seja lá de qual forma for”. Junto com vários amigos que também fazem Cinema, ele pensa em juntar cerca de 10 a 15 pessoas para fazer uma viagem à cidade de Carapebus, no estado do Rio e juntar o registro da viagem com imagens de situações criadas por eles, mesclando as duas paixões em uma coisa só.

Ainda a passos lentos, o nome do universitário já começa a preencher as linhas dos principais blogs de música e os primeiros convites para shows fora do Rio de Janeiro começam a surgir, naturalmente. O disco está no site, as músicas estão no YouTube e, a qualquer hora, um amigo pode recomendar seu som para o outro. Pouco a pouco, Rubel deixa de ser mais um cara que botou suas músicas na internet. Resta saber no que isso vai dar.

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