Playlists que dão aquela força para mulheres incríveis

izadorapimenta
Izadora Fala Sobre Música
13 min readMay 17, 2018
Nina Simone, uma mulher tão incrível que apareceu mais de uma vez nas playlists ♥

Uma coisa que eu sempre gostei é de convidar pessoas para criarem suas próprias playlists, ou falarem de músicas que fazem sentido para a vida delas. Por isso, hoje começo uma série sobre isso aqui no blog, convocando algumas mulheres incríveis que eu conheço para participarem dessa brincadeira junto comigo — e agradeço mais uma vez a todas que estão aqui por desperdiçarem um pouquinho de seus tempos preciosos para tal ❤.

Estamos em fase de renovação, buscando tudo o que nos faz ser mais fortes. Por mais que nem todas aqui nessa lista se conheçam entre si, nossa conexão com a música e a nossa trajetória nos unem de alguma forma. Assim, todas nós nos debruçamos sobre uma playlist com um tema simples, mas complexo: “músicas que me fazem ser mais forte” — e isso exige um autoconhecimento danado, né?

Nos textinhos abaixo, você pode conferir a playlist e as justificativas de cada uma, além de um elemento surpresa: busquei contar para todo mundo um pouco do porquê de essas mulheres serem incríveis, do jeitinho que eu vejo cada uma delas, porque a nossa história também faz parte das músicas que nós escolhemos.

(Tem um MONTE de mulheres incríveis que eu gostaria de chamar pra fazer parte dessa lista também, mas, com toda a certeza, esse vai ser o primeiro de muitos posts. Se você tem interesse em participar de uma próxima, já me avisa!)

Aí vai:

O passeio musical da Karina Pilotto

Conheci a Karina quando ela me dava carona pra faculdade lá em 2012 e, desde então, a gente não se separou mais. Além de ser uma amiga muito especial, com quem tenho reflexões quase diárias sobre tudo (confesso que é até difícil escrever sobre ela), ela é uma pessoa sonhadora e muito aventureira que está sempre em busca de driblar as adversidades da vida e de correr atrás (mesmo!) de tudo aquilo que ela quer, tudo enquanto ela é uma jornalista de cultura incrível, que também leva cultura para a cidade dela, Americana (SP), com o projeto Desapaixonados.

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O convite que recebi da Izadora para fazer essa lista foi bastante especial. Ela sugeriu escolher umas 20 músicas que eu ouço para “me sentir mais forte”, e eu acabei fazendo um passeio musical por diversos momentos desses 27 anos de vida! Também percebi algumas curiosidades, como o fato de eu ouvir mais músicas gringas que as brasileiras nesses momentos de “fraqueza”, e como a música pop é mais presente nessas horas nos meus fones de ouvido… Costumo dizer que música é uma terapia: não tem nada mais eficaz que ouvir uma faixa dessas que te coloca pra cima num momento de crise. Elas resgatam bons momentos da minha memória e mostram que, ao fim, vai ficar tudo bem. Bom, vamo lá!

Optei em dividir essas 20 músicas por grupinhos. As quatro primeiras são o grupinho “indies estourados nos anos 2000 e pouco”, que traz “Something Good Can Work”, Two Doors Cinema Club; “Fell in Love With a Girl”, do The White Stripes; “I Bet That You Look Good on the Dancefloor”, Arctic Monkeys; e “Kids”, MGMT. São músicas que me lembram boas festas na minha época universitária de 20 e pouquinhos anos (muitas delas em companhia da própria Iza, na nossa época de Rock’n’Beats no Bar do Zé, em Barão Geraldo), e também mostram os primeiros passos desses artistas que conseguiram se estabilizar no mercado (White Stripes lê-se Mr. Jack White, que vocês sabem que amo, enfim). São músicas energéticas, que tocavam quando a perna já tava doendo de tanto dançar, mas que eram muito bem-vindas quando o DJ dava play. Foram e ainda são boas pra aproveitar a pistinha de dança derrubando cerveja nos coleguinhas sem querer… Essa do Two Doors eu ouvia no “repeat” várias e várias vezes, e ainda ouço nos momentos de desesperança da vida, sabe? Ela me lembra umas bad trips na baladinha, quando eu saia correndo pro banheiro, olhava fundo pro espelho e mentalizava “vai ficar tudo bem!”. E ficou tudo bem :)

Seguimos para o grupinho “mulherão da porra + baby Kendrick Lamar”, com “Boa Noite”, Karol Conká; “Bad Girls”, M.I.A; dupla de Madonna com “Unapologetic Bitch” e “Hung Up”; a irônica “National Anthem”, Lana Del Rey; dupla de Queen B “Diva” e “Flawless” + “Bitch, Don’t Kill My Vibe”, Kendrick Lamar. Além das batidas empolgantes, essas faixas dessas mulheronas da porra trazem mensagens empoderadoras (a da Lana sempre ouvi como uma ironia, algo tipo “tá foda, mas sorria e acena”). Não preciso nem falar que Madonna e Beyoncé são duas musas! Admiro as duas não só como artistas, mas como empresárias e a forma como elas reinam na indústria fonográfica. Se quando eu crescer for metade de uma delas, tá ótimo! E temos Kendrick, com um dos hits lááá de trás, mas esse refrão é sempre a primeira coisa que me vem a cabeça quando começam a “cortar minha vibe” em qualquer momento!

Daí temos o grupinho “róqueeenho”, que vem com “City of Angels”, The Distillers (que também me lembra bons momentos “girl power” nos shows das minas da Scotch Tape, em Campinas); “By The Way”, Red Hot Chilli Peppers (na verdade qualquer música do Red Hot parece que automaticamente recarrega minhas baterias para qualquer ocasião!); “Injection”, Rise Against (faixa que ouço muito quando tô “putassa”) e “Wretches and Kings”, Linkin Park (música que me acalma frente a essa desigualdade social do mundo de hoje).

E pra fechar o bonde, temos as “brasucas”, com “Toda Menina Baiana”, Gilberto Gil; “Nine of Ten”, Caetano Veloso; “A Menina Dança”, Novos Baianos e “No Olimpo”, Nação Zumbi. Quatro musiquinhas bastante importantes para a história da música brasileira e também para a minha própria vida. São como um sopro de alegria para os “dias nublados”. Gosto que elas trazem toda essa alegria do Nordeste, da Bahia, que pouco temos aqui em São Paulo. Traz este “calor humano” que falta, um abracinho musical.

E achou que tinha acabado? Achou errado! Tem também um “bonus track”: “Rebel, Rebel”, David Bowie. Foi uma das primeiras músicas do Bowie que ouvi, ainda na adolescência, e logo já me apaixonei por esse gênio que há pouco nos deixou, mas cuja obra jamais será esquecida! Poderia ter incluído váááárias dele que me trazem de volta pra “Terra” quando a cabeça tá “em Marte”, mas esta é especial ❤

O Sol interior da Virgginia Laborão

Virgginia foi minha colega de sala durante quatro anos na faculdade e, embora não fôssemos do mesmo grupo de amigos, sempre foi uma pessoa que admirei muito (ela fazia duas faculdades ao mesmo tempo!), já que ela inspira muita confiança, além de ser muito radiante — coisa que dá pra acompanhar até hoje nos stories delas cheios de selfies bonitas e tons de amarelo e “só vai”. Ela também está sempre compartilhando boas músicas no Instagram, de forma que não pude deixar de pensar nela quando iniciei essa ideia.

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gosto muito do sol: os tons, a luz, o calor, a força. quando Iza me pediu uma playlist sobre força, ele foi a primeira coisa que me veio à cabeça. selecionei então as 20 músicas que me trazem afinal essa força para deixar brilhar o sol interior.

muito recentemente eu descobri que gosto muito das manhãs, e acabei fazendo uma playlist meio como o movimento do sol — do seu nascer na escuridão até atingir seu ponto máximo no meio do céu — deixando-se brilhar em seu maior potencial.

começo com Nina Simone e Beyoncé, com músicas que me trazem um certo ímpeto como o movimento necessário para que o sol nasça em nós, mesmo na escuridão, em tempos difíceis.

depois vem Lauryn Hill, Kayne West, Chance The Rapper e Anderson Paak e as músicas que parecem que tocam nossa pele como os primeiros raios do amanhecer. sinto ânimo renovado, e até uma certa bênção, quando ouço essas músicas.

em seguida, Biking, do Frank Ocean, uma das minhas favoritas da vida e, bem, me dá força pra seguir em movimento.

escolhi depois uma sequência de Kelela, Bonobo, Rhye, Ibeyi e Oshun, músicas que gosto muito e que aquecem como o sol quente lá pelas 10h da manhã. as músicas de Nick Mulvey, Future Islands e Sinkane são aquelas que me dão uma sensação de esperança, uma felicidade e uma força calma e alegre.

por fim, as brasileiras da Mahmundi, Jorge Ben Jor, Alceu Valença, Clara Nunes são as músicas que me trazem mais força e alegria. termino com Anunciação, de longe uma das minhas músicas mais queridas, que é pra mim como o sol do meio dia, quando o nosso brilho não cabe mais dentro da gente e irradia por todo lugar.

As letras que encorajam a Talita Bristotti

Talita foi minha colega em “falar sobre música” no extinto site do Rock ’n’ Beats e sempre foi uma pessoa muito mais centrada e ponderada do que eu nas discussões — o que eu admiro demais. Ela acabou de defender o mestrado, cravando em seus agradecimentos que “nós, mulheres, também podemos, e devemos, ocupar os espaços” e conciliou todo o momento da pós com o trabalho (o que exige uma baita disciplina). Ela não deve saber disso, mas os stories dela foram um grande incentivo pra eu entrar no CrossFit… haha

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Uma playlist que me faz mais forte e que só tem música triste?! Como assim, Talita? Trago aqui uma seleção de emos&indies&clássicos que, apesar da melodia mais deprê, possuem letras que me incentivam em vários aspectos.

A playlist começa com um recado do Brandon Flowers que eu tento levar para a vida: “find your little heart desire and follow it”! E a seleção também termina com outra lição do vocalista do The Killers: “I’ve got a soul, but I’m not a soldier”. No recheio, músicas que me fazem lembrar que somos fodas como mulheres, que não sou obrigada a nada, que o amor pode ser mais simples do que a gente imagina ou que simplesmente tem alguma frase que realmente mexe comigo. São músicas que fazem sentido na minha história e que hoje compartilho aqui no Izadora Fala Sobre Música com o intuito de vocês prestarem atenção nas letras. Quem sabe elas também possam encorajar o dia de vocês? ❤

Toda a energização musical da Larissa Alves

Eu fui veterana da Larissa na faculdade, mas nós começamos a nos conhecer mesmo no Carnaval desse ano, quando fomos juntas para São Paulo e, entre o hit da MC Loma e um vício incontrolável por Choque de Cultura, estamos sempre em contato desde então. As ideias dela e sua percepção sobre as coisas nos desafiam a visualizar algumas situações por outro viés e, acima de tudo, nos amarmos sempre e mostrarmos para os outros aquilo que nós somos de fato — sem edição. Audião tour, com a Larissa, é sucesso.

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Essa playlist está repleta de memórias especiais que me fortalecem até hoje. As músicas da Kali trazem toda uma mensagem que eu amo e me conecta com minha espiritualidade, além de serem da banda de uma das minhas irmãs de alma. É lindo quando podemos nos fortalecer ouvindo a voz de uma amiga, ainda mais quando acompanhamos todo o processo do álbum.

Música, para mim, tem muito a ver com conexão energética, então por isso há espaço para Chandra Lacombe, Braza, Flaira Ferro (me curar de mim é meu mantra!), Dani Black com “Maior”, “El Condor Pasa”, Moana, Pocahontas (Ai esses filmes “para criança” que tocam nossa criança interior e nosso amor pela natureza e liberdade!), sons honrando as Deusas. Escutá-las é me lembrar do que realmente faz sentido na minha existência. É praticamente uma sessão de energização musical hahaha.

Também gosto muito de conectar com Belchior, mas “A Palo Seco” é a que mais me toca. Músicas com letras sociais são muito importantes para esse fortalecimento também. Lembrar nosso papel como mulher, nossa liberdade é muito necessário! Tigresa, por exemplo, é uma música que está sempre tocando. Já “Vienna” é uma que me acompanha desde, sei lá, meus 11 anos. Até ultrapassei um pouco as músicas, mas é que tem tanta belezura que nos acalma, ensina e fortalece 💜

Soraia Alves de espírito renovado

Soraia também foi minha colega de Rock ’n’ Beats e, nesse tempo, pudemos fazer vários projetos juntas, já que ela estava sempre cheia de ideias. Uma coisa que eu admiro muito nela é que ela nunca desistiu desse sonho de escrever sobre as coisas que a gente gosta, de se jogar, de ir atrás das entrevistas, dos credenciamentos, das coisas todas — daí que hoje a gente pode ver a Soraia escrevendo (não só sobre música) no Brainstorm #9, cobrindo festivais, criando canal no YouTube…

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As músicas que me fazem mais forte não têm muita explicação. Não tem um porquê exato. Umas dizem muito sobre o que acredito na vida — “We are all part of the masterplan”, outras simplesmente tocam o coração por seus arranjos e acordes. Não tem lógica, e nem precisa ter. É sentimento, que vem na hora certa, como o abraço de um amigo ou lágrimas de alegria.

As músicas que me fazem mais forte são aquelas que sempre me reconectam comigo mesma e me lembram que a gente não precisa de muito pra seguir, às vezes só a playlist favorita mesmo.

Pro coração da Izadora Pimenta bater sem medo

(por Karina Pilotto) Izadora Pimenta é uma mulher que traz “tempero” às nossas vidas (com o perdão do trocadilho). Uma pessoa que, com certeza, poderia ser “Dora, a Aventureira”, pois não foge de uma boa história de vida. Ela consegue transformar o cotidiano em uma ótima série, digna de Globos de Ouro, Emmys etc, com muito drama e humor. Posso dizer que as coisas para ela não são sempre fáceis, mas que ela tira de letra os problemas da vida, sempre com o sorriso no rosto, voz serena e um suspiro breve. E não deixemos de lado sua inteligência! A menina é uma máquina: graduada em Jornalismo pela PUC-Campinas, já produziu coletâneas, livros e logo vai se tornar mestre pela Unicamp.

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Eu coloquei esse desafio para as meninas e, ao mesmo tempo, eu também o enfrentei. Escolher uma lista de músicas que nos fazem mais fortes não deixa de ser uma forma de procurar se conhecer melhor nesse processo e entender o porquê de essas músicas construírem algum sentido pra gente, ali, naquele momento em que a gente está vivendo. E meu momento é de autoconhecimento (já que eu nunca soube responder à pergunta “quem sou eu?” sem citar o que eu faço) e de adaptação a uma nova fase. Sendo assim, essa é a playlist que mais me cabe.

Achei que fazia sentido iniciar essa lista com um ponto de mamãe Oxum. Eu tenho muito respeito pela minha religião e me questionei muito se era o momento e o lugar, mas se eu estou tentando me representar dessa forma, se estou tentando trazer à tona o que me dá força, talvez fosse fundamental colocar aqui, abrindo os caminhos. Logo depois, passo para “Kozmic Blues” (“I keep pushing so hard the dream/I keep tryin’ to make it right/Through another lonely day”), “El Condor Pasa” (“I’d rather be a sparrow than a snail…”) e “Ain’t No Mountain High Enough” (o título por si só é uma tatuagem que eu tenho na pele, literalmente), que são músicas que me acessam em um nível mais profundo. Em seguida, trago “Conselho” e sua mensagem essencial (“Tem que lutar, não se abater/E só se entregar a quem te merecer”) e três mensagens de libertação e independência em seguida, com Aretha Franklin (que mistura I Will Survive com Survivor ♥), Jill Scott (“Livin’ my life like it’s golden”) e Destiny’s Child (“All the women who are independent/Throw your hands up at me!”).

Volto para músicas que me acessam de forma profunda. “Blue”, da Joni Mitchell, é o álbum perfeito para digerir uma bad. “Clube da Esquina” é o álbum da vida e a gente vive querendo deixar o coração bater sem medo. “Million Reasons” já me ajudou em um momento difícil (“I try to make the worst seem better”) e “Tears Dry On Their Own” vem e volta em várias histórias da minha vida (“I should just be my own best friend/Not fuck myself in the head with stupid men”). “Mantra”, do Rubel com o Emicida, é uma música linda que eu ouvi no repeat várias vezes desde quando lançou — e ela me pega muito nos tambores e na saudação a São Jorge (“Jorge, eu já perdi meu tempo encarando o próprio espelho/Medindo amor, contando like, ouvindo os outros, tendo frio e tendo medo”). “Feeling Good” é ela, por si só, enquanto “Either Way” é minha música de conforto eterna, começando com a frase “Maybe the sun will shine today..”.

A letra de “Talk Tonight” fala de uma bad repentina e da vida real do Noel Gallagher que fez ele passar dias na casa de uma pessoa que ele tinha acabado de conhecer e ali, naquele momento, aquela pessoa “salvou a vida” dele, então ela está aqui para representar todas as experiências que essas pessoas que vêm e vão nas nossas vidas nos deixam, seja por um ano ou por apenas algumas semanas bem intensas. “You Are a Tourist” porque ela fala desse fogo que está no nosso coração que, quando cresce, não deve nos alarmar e, sim, nos fazer seguir em frente, deixar esse fogo queimar. “Brand New Me” (“I don’t need your opinion/I’m not waiting for your ok”) e “Triste, Louca ou Má” (“Um homem não me define/Minha casa não me define/Minha carne não me define/Eu sou meu próprio lar”) são duas músicas que, de forma diferente, falam da nossa renovação e do nosso conhecimento do papel de ser mulher e estar bem sozinha, porque nos definimos por nós mesmas. Coloco “Good Times Bad Times” pra homenagear o Led Zeppelin e a mim mesma, já que essa banda me ajudou a passar por uma fase ruim. Depois, Letrux só vem nos dizer “Posso te dar um toque? Dá um tempo pro amor! Vai viver sem pensar que viver é amar. Sai desse climão!” pra que a gente possa partir pro abraço com a Ludmilla e ter em mente que “hoje ninguém vai estragar meu dia”. Só hit bonito.

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