Tudo o que o Radiohead me faz sentir

izadorapimenta
Izadora Fala Sobre Música
3 min readApr 23, 2018

It wears me out.

(Foto: Celso Tavares/G1)

Eu pensei muito em como eu deveria começar a escrever um texto sobre o show do Radiohead em São Paulo ontem, meu primeiro da banda (mil motivos não me permitiram ir em 2009). Mas sempre começo a refletir sobre como relação com música é um negócio engraçado que, no fim das contas, tem tudo a ver com sentimentos. E acho que é isso que o Radiohead me traz, muito além da tristeza característica do som da banda. Então eu não vou escrever uma resenha. Até porque não estou mais acostumada com isso. Peço desculpas desde já.

Assim como as luzes vão piscando no telão, também vão passando várias coisas por aqui. Agonia. Frustração. Medo. Felicidade conformada. Tristeza. Angústia. Conforto. Raiva, muita raiva. “Tinha que ser conceitual até no telão?”. Pressa. Ansiedade. Calma. Alegria. Paz. Uma vontade de chorar quando a lágrima não cai. Vontade de frios na barriga, vontade de deitar em posição fetal e esquecer da vida, vontade de deitar ali no chão daquele estádio e ficar sentindo a música sem pensar em mais nada. Vontade de saltar todas aquelas pessoas na minha frente e ficar ali de olho no Thom Yorke enquanto ele canta “we hope that you choke” e o estádio inteiro está com as lanternas do celular acesas — algo que, por algum acaso, a gente acha muito lindo.

Por um bom período na minha vida eu achava que a experiência de assistir a um show tinha tudo a ver com conseguir ter uma visão perfeita do palco e observar os músicos tocando. Mas já há algum tempo eu percebo que o ritual de frequentar um show não tem nada a ver com isso: tem a ver com imersão, com uma conexão quase que espiritual que você passa a ter. E acho que o show de ontem foi exatamente isso. Foi como a vida, que nem sempre dá o que você quer, mas te surpreende positivamente algumas vezes. O setlist esteve longe de ser o meu ideal, mas o Radiohead nos deu tantos grãos de amor neste meio que a gente esquece, abstrai. É incrível como, depois de muitos anos, tudo continua relevante e fazendo sentido. Acho que esse é o principal triunfo de um artista: ser importante pra alguém, ou milhares.

Eu saio do show e eu não sei muito bem como eu me sinto em relação a ele. É sempre assim… Demora para digerir. Eu poderia estar bem chateada com o fato de eu só ter visto o Thom Yorke por algumas vezes que me esforcei muito na ponta do pé ou que resolvi assistir o show pelo vídeo do cara alto que estava na minha frente. Ou porque eu gosto de hits e estava guardando o que restava da minha garganta para gritar a letra desse hino que é “Creep”. Ou, ainda, porque com toda a sinceridade do mundo eu gostava mais do Radiohead raiz, do Radiohead moleque. Mas esse é o Radiohead que o Radiohead me entrega e só me resta aceitar. E me permitir crescer com ele, de alguma forma. Por mais que, no passado, as coisas pudessem ser diferentes.

Então depois de todos aqueles sentimentos esquisitos, ficou uma paz, uma calminha gostosa e uma alegria de ter compartilhado esse momento com tantas pessoas que tiveram tantos sentimentos explodindo quanto os meus. Acho que é isso — o restante, acho que nem sei colocar em palavras.

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