Pandemia expõe carências no ensino médico e impulsiona o uso de novas metodologias de estudo

Apenas 13% dos estudantes de medicina do Brasil se mostraram totalmente satisfeitos com o ensino EAD prestado pela sua faculdade durante a pandemia.

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4 min readMay 25, 2021

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Em pesquisa realizada pelo SanarFlix em maio de 2021, de 177 estudantes de medicina, 87% se mostraram insatisfeitos com o ensino EAD prestado pela sua faculdade.

Que médicos e profissionais da saúde foram as classes mais afetadas pela pandemia do Coronavírus não é segredo para ninguém. Entre vidas salvas e perdidas, mais do que nunca, ficou clara a importância do médico para a sociedade como um todo. Como peça-chave para o bom funcionamento do sistema de saúde do país, era de se imaginar, visto tudo que aconteceu no último ano, que a formação de futuros médicos estivesse sendo levada da forma mais delicada e assertiva possível. Mas não é esse o cenário que se apresentou durante a pandemia.

“A didática do curso de Medicina já não é muito legal, principalmente nas faculdades que são do método tradicional…Só que piorou… A gente finge que aprende, eles fingem que dão aula, mas no final, quem vai ser médico, não é? A situação é complicada…” desabafou Thalita Cely, 21 anos, estudante de medicina do quinto período.

Mas ela não é a única aluna insatisfeita com o cenário atual da educação médica no Brasil. Em pesquisa realizada pelo SanarFlix, plataforma da Sanar, em maio de 2021, de 177 alunos de medicina (todos de faculdades diferentes), 87% se mostraram insatisfeitos (totalmente ou parcialmente) com o ensino EAD prestado pela sua faculdade de 2020 até o momento.

“As aulas são superficiais, não tem um planejamento adequado e os alunos ficam sem saber como estudar.” Completou Giovana Fernandes, sexto período.

Os estudantes das faculdades de medicina que aplicam o método PBL (Aprendizagem Baseada em Problema) tiveram ainda mais dificuldade em se adaptar ao EAD. Maria Fagundes, sexto período, contou o quanto se sentiu desmotivada enquanto estudava a distância:

“O que mais me desestimulava era só ter aula expositiva. As aulas são longas, não é uma coisa prática, de um assunto que a gente não gosta tanto, só o professor falando, a interação do aluno é praticamente zero. É muito difícil você ver o aluno abrir a câmera, ligar o microfone.”

A volta ao presencial

Dada a gravidade da crise sanitária que enfrentamos no Brasil, o ensino a distância foi a única solução possível para que os estudantes de todo o país não ficassem um ano inteiro sem estudar. Mas a falta de evolução no formato ao longo do tempo é o que levou a tamanha insatisfação dos futuros médicos. O baque de voltar a prática foi forte para alguns deles e a Maria contou um pouco da sua experiência:

“Voltar é diferente. Foi um choque de realidade, a gente caiu de paraquedas no que a gente já deveria estar adaptado. Foi muito comentado na minha turma o quanto a gente não aprendeu nada nesse tempo de EAD. Enquanto eu estava só no EAD, não tinha tanta noção do que estava acontecendo, até voltar e ter o primeiro dia de ambulatório, e aí eu percebi que estava com medo de fazer anamnese, exame físico, o que eu já deveria tirar de letra.”

Novos tempos, novas soluções

Em meio ao desespero de se formar como um bom médico, estudantes têm recorrido a novas metodologias de estudo para tentar tapar o buraco deixado pelas suas faculdades. Sabendo da dificuldade que se apresentava, Igor Oliveira, segundo período, não esperou pelo apoio da sua universidade:

“As ferramentas que eu estou usando não estão associadas à universidade. Tanto por que não houve esse preparo direto, quanto por que as que estão disponíveis não são de uso comum dos professores, por falta de capacitação.”

Com dificuldade para fixar o conteúdo e sem acesso às aulas síncronas dos seus professores, Maria encontrou no SanarFlix uma boa solução:

“Minha memória funciona por imagem, e as aulas do SanarFlix são mais dinâmicas, trabalham muito com imagem”

Olhando para o futuro

João Delgado, 5º semestre, está bastante inseguro se o período que ele cursou medicina a distância vai afetar a sua qualidade como médico lá na frente. O medo de não ser um bom médico tem tirado o sono de muitos estudantes de medicina.

“Será que eu vou ser prejudicado pelo EAD? É o meu maior medo. Será que eu vou ser um mau médico por que estou nesse método?”

Já a Talita fez questão de deixar uma mensagem motivacional para os colegas:

“A gente vai conseguir sair disso tudo com uma formação legal, se não agora, ao longo da vida. Isso não vai definir o que a gente vai ser daqui pra frente (como médico). Vamos levantar a cabeça, trabalhar com o que a gente tem e seguir em frente.”

Sobre a pesquisa

O formulário veiculado pelo SanarFlix em maio, perguntou a estudantes de medicina de todo o Brasil se eles estavam satisfeitos com o ensino EAD das suas faculdades. Dos alunos de 177 faculdades diferentes, 67% se mostraram parcialmente satisfeitos, 20% responderam que estavam totalmente insatisfeitos, enquanto apenas 13% assumiram estar satisfeitos com o ensino. Além disso, 5 estudantes foram entrevistados diretamente para conversar sobre o tema e são citados ao longo da matéria.

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