Um engenheiro de produção fora da indústria

Rafael Hidalgo
sanar
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3 min readJul 23, 2020

Se você tem ou já teve contato com a Engenharia de Produção, sabe o quão voltado para a indústria essa área pode ser. Esse artigo é o resultado de uma auto-reflexão e como eu pude unir o que gosto de fazer com o que eu tinha aptidão.

Pode-se dizer que essa auto-reflexão começou há alguns anos, quando eu entrei em um clássico dilema: qual curso vou fazer? Como sempre tive uma tendência pras ciências exatas e tenho curiosidade em saber como as coisas funcionam, a escolha era óbvia: engenharia. Prestei vestibular, passei no curso que queria, comecei a estudar. Tudo conforme o planejado. Com o passar do tempo, fui entendendo qual era o fluxo padrão: estuda, participa de atividades extracurriculares, faz um estágio e vai trabalhar na indústria. É o fluxo óbvio, afinal, com um polo petroquímico ali do lado, o que mais eu poderia querer?

E aí, comecei a seguir o fluxo e ingressei na empresa júnior do meu curso. Acredito que esse foi o primeiro momento que uma faísca me fez pensar nesse tal fluxo. Pude trabalhar tanto com a parte técnica quanto com a parte de gestão. E foi aí que comecei a perceber que talvez existissem mais possibilidades além das que tinha colocado no meu planejamento.

Finalizado meu período na empresa júnior, continuei com o fluxo: fui estagiar. Acho que poderia dizer que as primeiras duas empresas que estagiei estavam bem na linha dos planos que tinha traçado: a primeira praticamente transpirava engenharia mecânica, com termos técnicos pra dar e vender. Não era muito minha praia. Segui em frente. A segunda, trabalhei com a engenharia de produção em sua forma mais gritante: acompanhava, diariamente, a linha de produção de uma multinacional com produtos que todo mundo usa no seu dia a dia. Parecia o estágio dos sonhos. Saí com 6 meses.

Já tinha começado a me perguntar se eu tinha ingressado no curso certo e se eu sabia tomar decisões de fato. Até que decidi expandir um pouco meu ponto de vista e comecei a perceber que eu não precisava seguir o óbvio. Diria que foi aí, inclusive, que comecei a entender o que era a Engenharia de Produção de fato. Comecei a estudar a aplicação das ferramentas, conceitos e aprendizados do curso em diversas áreas. Veio aquela sensação de quando você descobre algo novo que te interessa tanto a ponto de querer ficar estudando isso o tempo todo. Essa história me rendeu um TCC um tanto inusitado: fiz minha tese sobre a aplicação de conceitos de Desenvolvimento de Produtos na produção de um documentário (documentário esse que fiz com Marcela Carvalho).

Toda essa reflexão me fez entender qual seria o meu rumo dali pra frente. O Ikigai¹ nunca fez tanto sentido. Percebi que não precisaria sair da minha área para trabalhar com algo que me realiza: a Engenharia poderia ser ressignificada. Hoje, trabalhando na Sanar, vejo que cada passo da minha caminhada foi importante. Não é o nome da minha formação que dita o que faço, e sim as escolhas que tomo com todo o conhecimento que adquiri na faculdade, com o networking que fiz e com as experiências que tive. E, pode ser impressão, mas sinto que elas estão cada vez mais acertadas.

¹Ikigai: conceito japonês que visa harmonizar a vida (iki) e seus desejos e expectativas (gai).

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