#JhCritica: Ariana Grande — Positions

Talvez seja o momento de Ariana demorar um pouco mais para lançar novos discos

Johnatas Costa
#JhCritica
3 min readOct 30, 2020

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(Dave Meyers)

A cantora norte-americana Ariana Grande é uma artista que não descansa. Em menos de dez anos de carreira na música, ela já lançou cinco discos. 2020 parecia ser um ano de descanso e reclusão, mas totalmente de surpresa em um período de doze dias ela não só lançou nova música, como colocou o seu sexto álbum no mercado. Positions é o mais recente trabalho da artista e é também um indicativo de que a cantora precisa tomar mais tempo para lançar novas produções.

O novo disco me parece estética e sonoramente um “filho” dos seus dois últimos projetos Sweetner e Thank U, Next e por mais isso seja agradável àqueles que adoram esses trabalhos, na minha perspectiva demonstra um certo comodismo da artista. Apostar no que deu certo é, de fato, vantajoso, é uma garantia de que o sucesso pode se repetir. Vale a premissa: “time que está ganhando, não se mexe”. No entanto, quando falamos de música pop, em que tudo é muito volátil, isso é arriscado, são fórmulas que podem se desgastar facilmente.

Se tivemos um momento em que o dance-pop estava na ordem do dia, já passou. Se o reggeaton por uns três anos ditou os lançamentos musicais, hoje já não é bem assim. Se a disco music retornou como a queridinha do momento, ninguém garante que ela será relevante ano que vem. Claro, você pode alegar que tudo isso sempre permaneceu vivo e ativo — e eu não discordo –, porém não podemos ignorar que passado o hype, o impacto é muito menor. Nesse sentido, o universo da música pop muda. Muda muito rápido. Muda a qualquer momento. E o sexto disco da Ariana Grande me parece ser um caso como esse: o que ele evoca e soa já não é tão interessante como foi num passado próximo.

Se no trabalho anterior a americana mandava às favas o ex-noivo, em Positions ela está romântica e um pouco (pouquinho) mais ousada. Porém, ainda assim, ela não vai muito além do esperado. O R&B que permeia o álbum — com alguns momentos lembrando Mariah Carey — é a base para um romantismo intenso e água com açúcar (POV, Safety Net e Love Language) e um erotismo subliminar (Positions, 34+35, My Hair e Nasty). Nada é muito ousado a ponto de macular a imagem de garota simpática e doce que Ariana transmite há alguns anos (estética essa que já poderia ter sofrido maiores modificações, em minha opinião). Aqui, a ousadia não quebra barreiras ou surpreende, ela soa mais como uma estripulia.

O frescor no disco talvez fique para as participações. A nova dobradinha com The Weeknd, Off the Table demonstra que eles têm uma química muito boa e o featuring com a rapper Doja Cat agrega ao álbum e funciona muito bem. No entanto, como dissemos, Positions tem cara de algo já visto antes dentro do catálogo da Ariana e isso, para quem tem algum apreço por ela, mas não chega a ser fã, pode ser desapontador.

É como se ao terminar de ouvir o álbum você notasse uma contradição: apesar de ela cantar “Todos os demônios me ajudaram a ver os problemas de um jeito diferente / Então não fique triste por mim” na canção que abre o projeto, você finaliza as 14 faixas com uma sensação de déjà-vu. Em suma, espero que a cantora se inspire em Rihanna, que após lançar um disco por ano de 2009 a 2012, descansou e só retornou com um trabalho arrebatador. Que Ariana esteja aberta à novas inspirações visuais e musicais e que ela perceba que a fórmula que vem usando de 2018 até aqui parece ter se desgastado — levando em consideração que ela não é um personagem. Sair de cena não fará com que ela seja esquecida, fará com que ela se torne mais criativa.

Ouça:

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Johnatas Costa
#JhCritica

Um mestrando em História noveleiro, fã da Madonna e que adora dar pitaco em tudo que pode