#JhCritica: Jessie Ware — What’s Your Pleasure?

Eis aqui o melhor álbum pop do ano (até agora) e um dos melhores que ouvi na vida

Johnatas Costa
#JhCritica
3 min readAug 10, 2020

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(Foto: Carlijn Jacobs)

Normalmente não faço isso, mas em uma sexta-feira eu decidi procurar as novidades que tinham saído no Spotify. Me deparei com a bela capa de um disco e apertei o play. Me arrisquei. Ou melhor, me transportei para o final dos anos 70/início dos 80, em uma festa à beira da praia, num fim de tarde belíssimo de verão. Poucas pessoas no local, cada uma com seu drink, e todas dançando ao delicioso What’s Your Pleasure? Na metade do novo disco da inglesa Jessie Ware esse era o cenário em que eu estava e não queria sair, queria aproveitar mais, queria ficar ali. Se 2020 já tinha me proporcionado ótimas experiências com os discos da Dua Lipa e da Lady Gaga, por exemplo, conseguiu me surpreender ainda mais. Há muito tempo uma descoberta musical não me encantava tanto!

O início sereno e um tanto dramático da primeira faixa, Spotlight, engana. O tom do álbum logo é revelado: uma disco music de primeiríssima qualidade! Os versos da canção vão envolvendo mais e mais e quando chegamos à ponte (“Se um sonho é apenas um sonho, e um sonho é apenas um beijo / Então me diga o que isso significa, me diga o que é isso / E se um toque é apenas um toque, então um toque não é suficiente / Me diga o que isso significa, me diga que você está apaixonado”) você já está entregue e os seus ombros estão balançando de um lado para o outro.

A faixa que nomeia projeto, What’s Your Pleasure?, revela a camada sedutora do álbum, assim como In Your Eyes e Mirage (Don’t Stop), e possui um refrão irresistível: “Push, press, more, less / Here together, what’s your pleasure? / Stop, go, fast, slow / Here together, what’s your pleasure?”.

Ooh La La e Soul Control são as músicas que melhor exemplificam o que o disco (propositalmente ou não) transmite: elegância. O quarto trabalho de Ware não é do tipo que fará você dançar loucamente e sem preocupação com os passos que está fazendo. Ao contrário, você se sentirá não só chic e glamouroso(a), como vai se esforçar para fazer passinhos marcados como se estivesse em flash mob numa discoteca.

A quinta faixa, Save a Kiss, de letra romântica e um tanto simplória (“Esse último beijo que você me deu, eu continuo rebobinando / Agora eu preciso de você, amor, preciso de outra noite como a noite passada”), é o ponto alto do registro. O ritmo aumenta e a necessidade por uma pista de dança fica óbvia, assim como nas excelentes Step Into My Life e Remember Where You Are (que parece ter saído do catálogo do grupo Earth, Wind & Fire).

O quarto disco de Jessie Ware é como se Donna Summer, Diana Ross, Sylvester, Anita Ward, Robyn e tantas(os) outras(os) se juntassem para produzir um álbum em 2020. As composições não são complexas e nem fazem questão de ser, porque esse é o tipo de trabalho que lhe proporciona sensações. As músicas lhe transportam para um ambiente que mesmo sendo inédito (como foi comigo), fará com que você não queira “sair” ou se desligar dele totalmente. Até as canções que talvez não chamem a sua atenção (a mim foram Adore You e The Kill) são indispensáveis para essa “viagem sensorial” que mencionei. What’s Your Pleasure? foi uma descoberta estonteante que me fez viajar no tempo e me desconectar do mundo caótico de 2020. São 53 minutos de elegância, luxúria, dança e música da primeira qualidade e, não obstante, de sensações. Eis aqui o melhor disco pop do ano!

Ouça:

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Johnatas Costa
#JhCritica

Um mestrando em História noveleiro, fã da Madonna e que adora dar pitaco em tudo que pode