Até Bolsonaro quer se afastar de Bolsonaro

Presidente agora se declara de centro-direita e diz que Macron é de esquerda.

Joab Freire
Joab Freire
3 min readAug 29, 2019

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“Essa inverdade do Macron ganhou força porque ele é de esquerda”, declarou o presidente — Marcos Correa/Agência Brasil

A coisa está tão feia para o lado de Bolsonaro que ele está fugindo de si mesmo e agora se autointitula de centro-direita contrariando a própria “essência” bolsonarista chula que nos últimos anos a todo custo tenta monopolizar o espectro da direita no Brasil — e agora até no mundo.

Para Bolsonaro, Emmanuel Macron, presidente francês, fundador do partido de centro-direita Em Marcha!, é esquerdista e ele centro-direita: “Essa inverdade do Macron ganhou força porque ele é de esquerda e eu sou de centro-direita também”, declarou em entrevista na saída do Palácio do Planalto nesta quarta-feira (18).

Todos sabemos que, qualquer pessoa que tente criticar minimamente qualquer ponto deste governo é tido como esquerdista, na visão arrogante dos seus apoiadores do.

Seu filho — e futuro diplomata — Eduardo Bolsonaro, por exemplo, comentou na última sexta-feira (23) em sua conta no Twitter ,a existência de uma esquerda GLOBAL unida contra seu pai, se referindo aos países que emitiram opinião sobre a Amazônia. A ideia estava num vídeo de um youtuber, para variar.

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Carluxo opina sobre espectros políticos e diz que inclinações no centro são criações — Reprodução

A controvérsia da vez, além da evidente tentativa de suavizar a imagem ou pagar de isentão, é a opinião dos próprios bolsonaristas como de seu filho número dois, Carlos (Carluxo) Bolsonaro, que é enfático ao afirmar que não existe centro-direita e centro-esquerda. “É direita e esquerda e ponto final, o resto é desinformação para apoiar o sistema”, escreveu em sua conta no Twitter em 2017.

Se posicionarmos, no entanto, o bolsonarismo dentro de um espectro político, sequer poderíamos considerá-lo de direita, precisaríamos apelar para a complexa filosofia política para atribuir um nacionalismo-populismo com cinquenta tons de autoritarismo e é talvez seja isso que o presidente deseja evitar.

Ele pode ter enfim percebido que seus excessos tem um preço e pesam sobre sua popularidade. Isso pode representar um acerto.

Lembrando aos interessados que — sim — é possível estar no centro e ter inclinações.

De olho em 22

A estratégia de adversários para 2022, como a do governador de São Paulo, João Dória (PSDB), é usufruir dos “acertos” do governo Bolsonaro, na economia, por exemplo, mas tergiversas das polêmicas ideológicas patéticas e cansativas que ninguém aguenta mais. E, como toda ação gera um reação, Bolsonaro agora também pode querer se livrar desse peso, mas será, graças a seu seleto grupo de apoiadores, bastante difícil.

É ou não é, um combo bolsonarista, a bandeira reacionária, a neurose olavista, o apego pelo autoritarismo? Isso coloca um abismo enorme diante de qualquer coisa que possa ser considerada centro.

Eu acho que Bolsonaro pode, se decidir mudar de discurso, se afastar de polêmicas, sair do antagonismo ao lulismo e às esquerdas, dá margens e margens de interpretações, que seus apoiadores mais fieis são completamente incapazes de compreender. Mas, boa sorte.

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Joab Freire
Joab Freire

Distribuidor de versos, prestador de atenção, contador de histórias, arteiro e buliçoso. Estuda jornalismo, pesquisa cultura e atua imprensa da PB desde 2010.