Mizera de cá e de lá

Expressão popular tem caráter ofensivo no Nordeste Brasileiro.

Joab Freire
Joab Freire
2 min readAug 24, 2019

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HQ MIZERA do coletivo Pigmento, formado por Gabriel Jardim e Paulo Moreira, Com quatro histórias de humor, onde os personagens possuem um caráter duvidável — Reprodução / Facebook

“Chora não, mizera!”, um dos bordões das cantoras baianas Simone & Simaria em 2013, no primeiro e último show delas que participei na minha cidade, Guarabira, no interior da Paraíba. Se apresentando como “As Coleguinhas” e tocando forró, a dupla polemizou na apresentação em praça pública, na tradicional Festa da Luz. As cantoras brincavam com as letras das músicas e volta e meia a alegoria mais marcante era a expressão “mizera”.

Na manhã seguinte, o show era pauta nas emissoras de rádio da cidade, não por conta do talento ou grande público, mas por conta da mizera. Sim, tal expressão tida culturalmente como uma das mais ofensivas possíveis para se dizer, chocou os espectadores.

Para se ter noção da gravidade, eu tenho 26 anos e até hoje reluto em dizer tal palavra na frente de meus pais.

É difícil alguém proferir tal injúria sem que ou interlocutor ou testemunha alguém reaja com desprezo: “tá repreendido!”.

Até se adota outras significações para a expressão, no entanto, a mais preponderantemente alardeante tem mizera como a palavra de mais baixo calão e com maior teor de profanidade para potencializar uma fala.

Como vocativo: — Ei, seu mizera, vai trabalhar!

Como substantivo: — Naquele lugar só tem mizera.

Como advérbio de intensidade: — Que menina linda da mizera!

No entanto, é a crença popular que sustenta o lado mais obscuro da palavra, que reforça os outros significados. Lembro de minha mãe me instruindo sobre: “quem chama essa palavra atrai coisas ruins à quem diz e a quem é ofendido com ela”.

Dizer a palavra dentro de casa também é desaconselhado entre os tradicionais, neste caso atrai coisas ruins para todas as pessoas da casa.

Considerando o extenso território do Nordeste do Brasil, a palavra é utilizada na maior parte dele, no entanto, seu peso cultural é diferente. Para as cantoras baianas, a expressão pode ser apenas um simples vocativo, para outros ma forma errada de escrever e pronunciar “miséria”, uns minimizam o sentido como uma forma qualquer de xingamento, mas para este recanto, mizera é coisa ruim e grave.

E você conhece a palavra? Qual a gravidade dessa expressão no seu interior?

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Joab Freire
Joab Freire

Distribuidor de versos, prestador de atenção, contador de histórias, arteiro e buliçoso. Estuda jornalismo, pesquisa cultura e atua imprensa da PB desde 2010.