Advantageous, filme de ficção científica que aborda maternidade solo e controle sobre corpos de mulheres

Jo Melo
jomelo
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3 min readDec 4, 2019

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Maternidade, mulheres, pressão social, envelhecimento, um filme de ficção científica que traz, além do futurismo típico, um apelo social enorme e esses temas fazem parte do cotidiano de muitas mulheres, infelizmente.

Primeiramente, o filme é escrito e protagonizada por mulheres, algo bastante incomum, ou que não temos tanto conhecimento por conta da indústria que insiste em colocar homens para escrever sobre nós, mesmo não tendo nenhuma vivência social o que não fica tão rico e sempre traz um apelo sexista e machista e aqui, é totalmente diferente.

Enredo

Tudo acontece no ano de 2041. A personagem principal é Gwen, uma mulher de 40 anos, mãe solo que trabalha em uma empresa de biomedicina como porta-voz da marca, uma espécie de garota propaganda, foi demitida desse emprego por não ser mais tão jovem e que, consequentemente, perdeu o DNA da empresa que é vender beleza e juventude.

Além disso, naquela sociedade (não muito diferente da nossa), ter um homem desempregado era muito mais grave que uma mulher e o mesmo chefe que a demite justifica que várias outras empresas estão aderindo a essa decisão.

Naquela situação e com uma filha pra criar em meio a uma sociedade que parece estar vivendo uma crise econômica e psicológica (alô, séculos XX e XXI), ela busca outras vagas para se recolocar no mercado de trabalho.

Interessante que a única vaga que lhe caberia (e que foi sugerida), era de doadora de óvulos, o que podemos chamar aqui de maternidade compulsória, ou seja, mulheres têm apenas uma função: reproduzir (The Handmaid’s Tale que o diga).

Diante dessa sociedade totalmente desestruturada e repito, nada diferente da nossa, são mostrados casos de adolescentes e mulheres muito jovens que não vêm outra saída a não ser a prostituição e a protagonista, diante dessa situação, quer uma vida diferente para sua filha.

Onde entra a ficção científica nisso?

Como disse mais acima, a empresa que Gwen trabalhava vendia estética e rejuvenescimento, mas não da forma que vemos por aí com procedimentos estéticos, as mulheres são submetidas a troca de corpos, isso mesmo, o cérebro de uma mulher é transferido para um corpo mais jovem, o que nos leva a lembrar de pautas como envelhecimento e controle sobre nossos corpos, nos hipersexualizando e nos moldando à maneira que uma sociedade machista prefere, jovens, em casa, cuidando dos filhos enquanto os homens trabalham fora e esperam ao final do dia ter alguém apresentável para satisfazer.

Diante de tantas pressões sociais e a meta de criar sua filha, oferecem a Gwen um novo emprego, mas ela teria de aceitar o tal procedimento para poder tê-lo de volta, ou seja, também podemos notar os sacrifícios que mães solo enfrentam diariamente para criarem seus filhos sem apoio.

Será que ela aceita, se sim, quais são as consequências?

Vale a pena assistir.

Obs.: Tem na Netflix, 1:30min.

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Jo Melo
jomelo

Mãe, autista/tdah com hiperfoco em escrita e premiada na Suíça. Escrevo sobre autismo, mulheres, maternidade. @jomelo.escritora. Aqui tem textos desde 2016.