Bipolaridade ou borderline: diagnósticos “perfeitos” para mulheres

Jo Melo
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Nossa sociedade é profundamente conservadora, especialmente quando se trata das mulheres. O patriarcado historicamente nos relegou a papéis limitados, como donas de casa, mães e servas sexuais dos maridos.

Quando as mulheres começaram a questionar esses papéis e a buscar uma liberdade que foi negada, surgiram diagnósticos que eram frequentemente atribuídos a elas no século XIX, como a Histeria. Esse diagnóstico rotulava qualquer comportamento que fugisse das normas como doença. Sexualidade, prazer, expressão de sentimentos — tudo era considerado “anormal” e, muitas vezes, resultava em procedimentos invasivos, como a histerectomia.

Infelizmente, essa tendência persiste até hoje. É raro encontrar homens diagnosticados com transtornos bipolares ou borderline. Parece que, para as mulheres, a medicina está mais disposta a atribuir um CID a seus comportamentos e emoções.

O transtorno de personalidade borderline, por exemplo, é predominantemente associado às mulheres. Enquanto os acessos de raiva em homens são aceitos como parte da masculinidade, nas mulheres esses mesmos comportamentos são patologizados. Essa visão é antiquada e reflete preconceitos de gênero.

Segundo o Manual MSD, cerca de 75% dos pacientes diagnosticados com esse transtorno são mulheres.

É importante questionarmos esses diagnósticos. Será que eles têm um viés social e machista? Por que a sexualidade feminina é frequentemente medicalizada? Por que mulheres que usam decotes ou roupas provocantes são rotuladas de forma diferente?

Devemos buscar segundas opiniões e lembrar que nem tudo é o que parece. A liberdade sexual é um direito das mulheres. Como Madonna já disse, “Express Yourself”! 😉

Que fique claro, não sou contra diagnósticos — eles são essenciais para o autoconhecimento. Porém, os médicos também devem considerar fatores sociais e ver a pessoa além dos manuais de diagnóstico.

Espero que essa reflexão ajude a promover uma visão mais ampla sobre os diagnósticos e a importância de questionar sempre. Lembre-se de que ninguém conhece seu corpo e mente melhor do que você mesma. 💜

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Jo Melo
jomelo

Mãe, autista/tdah com hiperfoco em escrita e premiada na Suíça. Escrevo sobre autismo, mulheres, maternidade. @jomelo.escritora. Aqui tem textos desde 2016.