Crises sensoriais e os cinco sentidos

Jo Melo
ShutDiaries

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A maioria das minhas crises se dá por muitos estímulos sensoriais. Cada batida no teclado, cada mastigada, uma gota caindo da torneira, multidão, o calor, o olhar das pessoas, tudo se torna totalmente indigesto pra mim.

As luzes ficam muito mais intensas, meus olhos se fecham por tamanha claridade, o som dos outros ao falar é como ter um tambor em seu mais alto ecoar ao lado do meu ouvido — ensurdecedor.

As pessoas ao meu redor aumentam pelo menos 500 vezes de tamanho. Suas bocas, dentes, risadas, são como ter contato com um gigante desengonçado prestes a me esmagar.

Diante disso, eu suo frio, a respiração se torna mais rápida, o batimento também, a sensação de desmaio aparece como uma salvadora para me desligar de tanta interação. Eu resisto, procuro um lugar pra sentar. A cabeça parece que vai explorar. Borbulha como água quente numa chaleira e transborda como o leite no fogo alto, então o choro vem. Como uma criança desafogo meu corpo de tamanha interação. Vou esvaziando minha mente em forma de lágrimas como uma pia suja que faz o barulho da água sugando.

Choro. A sensação é de que vou enlouquecer. Choro. Quero ser abraçada. Não ouvir mais nada além do som do esvaziamento do meu ser. Choro. Choro. Choro. Choro. Choro como se não houvesse mais nada. Me deito e só quero paz.

Tato, visão, olfato e audição… os sentidos que para alguns são instrumento de prazer, muitas vezes, pra mim, é como uma injeção de adrenalina, só que de um jeito ruim.

Por 1 ano escrevi poemas sobre minhas crises sensoriais e transformei algumas em bons momentos. Meu livro Os cinco sentidos está à venda pela editora Patuá. A pré-venda vai até o dia 18/02. Acesse aqui.

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Jo Melo
ShutDiaries

Mãe, autista/tdah com hiperfoco em escrita e premiada na Suíça. Escrevo sobre autismo, mulheres, maternidade. @jomelo.escritora. Aqui tem textos desde 2016.