REFLEXÃO | O pai é realmente importante na criação dos filhos?

Jo Melo
ShutDiaries
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4 min readOct 4, 2016

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Eu vejo muitos textos e sempre vejo alguém comentando da importância do pai na criação do filho, a partir disso, paro para refletir sobre o papel de adultos na criação de crianças, não como pais, mas como responsáveis. Depois eu paro pra pensar no modelo tradicional de família que a nossa sociedade impõe e prega que seja o certo desde sempre, que é, um pai, uma mãe e duas ou mais crianças… aquela família sorridente e feliz que muitas vezes passa por milhares de problemas, mas que deve ser mantida para o bem estar dos filhos e fazer jus à sociedade em que vive.

Bom, já deve estar claro aqui que eu sou contra pregarmos que o pai é fundamental na criação dos filhos, mas veja, não estou isentando progenitor NENHUM das suas responsabilidades como mantenedor e das suas OBRIGATORIEDADES como pai, a minha reflexão é sobre impormos aos nossos filhos e aos que estão ao nosso redor que é fundamental termos a figura paterna dentro de casa e que, na real, não é!

Conheço pessoas que foram criadas sem o pai, como disse no começo vejo textos e analises psicológicas que de a figura paterna é importante, olha que absurdo, principalmente para meninos por conta de sexualidade e construção de caráter (à la macho alfa). Parei pra pensar e me perguntei: POR QUE ISSO?

Cheguei à conclusão de que o único problema está na imposição, como disse, desde pequenos fomos criados para termos aquela família tradicional, e tudo o que fugia à regra disso, era considerado errado. Se você não cresceu com seu pai, você era questionado, se sentia mal porque muitos amigos tinham os pais ali presentes e você não tinha o seu. O dia dos pais, então, me pergunto, por que essa data foi criada? além do objetivo comercial, justamente para enaltecer esse modelo tradicional e se o seu não faltasse, fosse por algum motivo, você talvez se sentiria mal, mas não porque sente falta (claro também), mas por conta dessa pressão social, e na sua cabeça vem aquele pensamento: “Quando eu for pai, serei presente na vida do meu filho”, tornando tudo isso um circulo vicioso.

Atualmente, apesar dos textos e das falas que precisam muito serem desconstruídas, o modelo de família, está sendo visto por outros olhos por muita gente, antes se morava o avô com os netos, não era família, ou a mãe solo, ou as mães, os pais… hoje em dia, nós como pessoas reconhecemos o NOSSO modelo tradicional.

Partindo para uma experiência pessoal, a escola do meu filho enviou um bilhete na agenda informando que não teriam comemorações do dia dos pais, nem do dia das mães, porque eles reconheciam os diferentes tipos de família, então, marcaram um dia e fizeram a festa da família na escola, as professoras haviam pedido para todos desenharem a sua família, poderia ser o que eles quisessem, chegando lá, me deparei com desenhos lindos, criança só com a mãe, só com o pai, com os avós e me emocionei demais com aquela representação de família que as crianças estavam aprendendo ali, inclusive, na entrada da escola, havia um mural feito pelas professoras com as representações e olha só, não tinha somente, pai, mãe e filhos, mas sim, DIVERSIDADE! Aquele dia, eu chorei, adorei que meu filho estudasse num lugar assim, e adorei mais ainda que aquilo estava sendo passado pra ele e para as demais crianças da escola.

Este é o meu ponto neste texto, não quero dizer pra você nunca mais deixar seu filho ver o pai, ou sair falando mal dele (alguns merecem), mas temos de mostrar aos nossos pequenos que as coisas mudaram, temos de desconstruir essa ânsia que as pessoas têm de querer formar uma família somente para estar inserido, parar com esse negócio de “engravidou tem de casar”.

Outra coisa interessante para aqui, são os discursos de que um pai é importante para construir a masculinidade dos filhos, onde já se viu isso? dentro de uma sociedade machista como a nossa, ouvir e ler que sem um pai a criança não aprende “valores de homens”, é de cair o cu da bunda.

Você pode adotar, você pode criar o seu filho sozinha não se culpe pelo progenitor não querer assumir a responsabilidade de pai, por ele não procurar e dar carinho pro seu filho, felizmente não temos como obrigar ninguém a amar, mas podemos mostrar para os nossos pequenos, que não é ruim crescer sem a figura do pai dele, para que não cresça e se torne adultos como nós.

E se o pai do seu filho, dá amor, cuida, cumpre com a obrigação dele, ótimo, que continue. Isso tudo não quer dizer que você tem de falar pro seu filho nunca mais ver o pai, longe disso, é apenas uma reflexão sobre o modelo de família e a imposição dela para nós.

Só um adendo, pesquise no Google: FAMÍLIA, coloque em imagens, e tire suas próprias conclusões sobre o que eu disse aqui.

Precisamos mudar isso.

Originally published at http://joymeloblog.wordpress.com on October 4, 2016.

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Jo Melo
ShutDiaries

Mãe, autista/tdah com hiperfoco em escrita e premiada na Suíça. Escrevo sobre autismo, mulheres, maternidade. @jomelo.escritora. Aqui tem textos desde 2016.