Sobre ser mãe, pobre, autista e mulher

Jo Melo
jomelo

--

Tô num período complicado da vida. Ano passado recebi diagnóstico de autismo, parei de tomar o Lítio, sustento minha casa sozinha, cuido do meu filho sozinha, fui mandada embora do trabalho, tô cheia de dívida, e eu tô bem cansada. Sabe, cansada? Não física, mas emocionalmente. Muitas crises.

Não tenho forças pra levantar e fazer nada, mas preciso, senão meu filho não come, a gente não veste, minhas gatas não sobrevivem. Quando se é mãe e está passando por um processo difícil, é quase impossível se render ao sofrimento e isso é ruim porque a gente só empurra pra baixo o que deveria ser cuidado. Mas como? Se só tem eu pra fazer as coisas práticas do dia a dia?

Sei que parece chorumelas, mas tá tão difícil. Tão tão tão. Eu só queria ficar deitada e fazer com que tudo dissipe, que passe de um sonho ou uma fase ruim de gente rica.

Eu quero dinheiro pra poder viver minimamente bem e sustentar meu filho. Parece tanto, né? Mas é o mínimo. Quem me vê nessa rede pode até pensar que tudo é perfeito, mas vocês não fazem ideia do que é estar na minha pele e as pessoas não sabem como é estar na pele de vocês. Por mais que a gente tente, é diferente.

Nesse processo todo, ainda bem que tem gente que está a postos a me ajudar e socorrer quando eu só levantar a mão porque tô sem forças pra falar a palavra “me ajuda”.

É difícil ser mãe, é difícil ser autista e mãe, é difícil ser pobre, autista e mãe, é difícil ser mulher, pobre, autista, mãe… é difícil.

--

--

Jo Melo
jomelo

Mãe, autista/tdah com hiperfoco em escrita e premiada na Suíça. Escrevo sobre autismo, mulheres, maternidade. @jomelo.escritora. Aqui tem textos desde 2016.