Por que comecei minha carreira como Desenvolvedor dentro do RH?

Victor Brayner
Jornada de Dev
Published in
4 min readJul 26, 2023

--

O começo da jornada

Um fato curioso que costumo contar quando me apresento profissionalmente a alguém é que não entrei na área de TI sendo um desenvolvedor, mas sim um instrutor. Essa paixão improvável para alguém que até o final da adolescência era introspectivo e morria de vergonha de expor suas ideias nasceu através do primeiro estágio que tive após entrar no curso de Sistemas de Informação, onde passei 2 anos lecionando e capacitando mais de 200 pessoas em informática básica, programação, edição visual e desenvolvimento de jogos.

Como sempre fui uma pessoa muito crítica sobre os pontos em que preciso melhorar, eu sabia que não bastaria só ser mais extrovertido e não ter mais vergonha de expor minhas ideias para que isso se traduzisse na visão ideal que eu tinha de um desenvolvedor com perfil gerencial de sucesso. Ainda precisava juntar mais pontos, testar mais hipóteses, ter mais contato com áreas diferentes.

Como uma empresa funciona por dentro? Como difundir uma cultura corporativa? Como tomar decisões a partir de métricas geradas pelos próprios colaboradores? Como engajar pessoas, mediar conflitos e dar suporte contínuo para que a convivência seja a melhor possível?

A oportunidade perfeita surgiu quando li a descrição de atividades da área de Operações (basicamente um RH + Financeiro) da empresa-júnior do meu centro na Universidade. Enxerguei lá a possibilidade de me fortalecer nos pontos que restavam para que meu perfil ficasse cada vez mais forte para a disputa de vagas para Desenvolvedor. Fiz o processo seletivo e fui aprovado.

Certezas que ficaram pelo caminho

Pouquíssimas disciplinas nos cursos de tecnologia te colocam na posição de aprender as soft skills que precisamos nas nossas carreiras, exceto quando caímos em algum grupo problemático pra entrega de algum projeto. Então definitivamente não foi uma experiência fácil.

Entrei em contato com muitos termos que não conhecia, manuais e planilhas intermináveis e colegas que às vezes pareciam não entender muito bem o que alguém de TI estava fazendo naquela área específica.

Tirar o ‘chapéu’ da programação para vestir o da cultura organizacional foi bem interessante. Por mais que eu ainda estivesse longe do produto e das rotinas de desenvolvimento, consegui enxergar mais de perto as reais engrenagens de uma empresa, como ela pode ser mutável e de quais formas podemos atuar sob essa estrutura dinâmica, que muda todos os dias mesmo que a maioria dos olhos lá dentro não percebesse isto.

As novas (in)certezas

A partir do momento em que fui capaz de planejar estratégias e análises das Pesquisas de Clima, comecei a notar padrões de comportamento em equipes de desenvolvimento que não conseguiria notar caso fosse um Desenvolvedor naquele momento. Como certas decisões individuais impactavam todo o grupo e como o micro-gerenciamento (ou o distanciamento) tinham suas consequências.

A esta altura eu não só pensava no tipo de Desenvolvedor que eu queria ser, mas também no tipo de Gerente que eu queria ser. E quais características eram necessárias desenvolver para que eu não repetisse alguns dos erros que cataloguei e mapeei durante o tempo que passei lá.

Quando participei de entrevistas na condição de entrevistador, também comecei a notar certos gatilhos nas falas de candidatos que chamavam não só a minha atenção como também da banca que avaliava os insumos coletados. O tom de voz usado, como as respostas eram ditas, a postura, pessoas que começavam com uma impressão negativa mas ganhavam a simpatia ao decorrer da etapa…

Agora não era só o tipo de Desenvolvedor que eu queria ser, nem só o tipo de Gerente que eu queria ser, também pensava no tipo de candidato que eu queria ser.

Novos horizontes

Considerei essa experiência bastante proveitosa. Como sempre acreditei que adquirir conhecimento de várias fontes me faria um profissional melhor, usei a abordagem generalista em todos os meus planos de carreira para alcançar o nível que desejava, o que também faz sentido dado o meu perfil mais gerencial.

Não vou dizer que fui um ótimo profissional no RH (fui bem mediano inclusive), mas acompanhar o crescimento e andamento de uma empresa em um nível mais top-bottom antes mesmo de trabalhar formalmente como Desenvolvedor abriu meus olhos para buscar soluções mais mediadoras e adotar um trabalho em equipe bem mais espirituoso. A visão estratégica foi muito bem treinada no ano em que passei lá, assim como belas noções de Intraempreendedorismo que levo até hoje nas empresas em que trabalho.

Outra grande vantagem que levei desse momento foi o de coletar bastante aprendizado através de momento ruins que foram catalogados, medidos e tratados. É um framework que uso até hoje quando preciso relatar algo para os meus superiores.

Grande parte das soft skills que possuo hoje foram lapidadas nessa época, que contribuíram muito para o tipo de profissional que sou hoje e que irão contribuir para o tipo de profissional que desejo ser para o futuro.

--

--