O custo da recessão para o empreendedor

André Bartholomeu Fernandes
Jornal do Empreendedor
6 min readSep 1, 2016

A recessão tem gerado um custo excessivo para o empreendedor, não há dúvida nenhuma com relação a isso. A ausência de faturamento, a escassez de oportunidades, a extinção de novas possibilidades no mercado e o declínio da receita nas empresas têm causado problemas em uma escala cada vez mais alarmante, gerando um efeito dominó na economia que apenas propaga o inexpugnável retrocesso que aflige nosso país, em uma intensidade que se mostra cada vez mais lancinante e destrutiva, e parece cada vez mais irreversível à medida que o tempo passa.

O grande problema em uma recessão é o custo dobrado que ela representa para uma empresa. Além de ter que lidar com a ausência ou a escassez de faturamento, a ociosidade tem gerado um custo enorme nas empresas, que, com ou sem recessão, devem arcar com todas as contas inerentes à sua estrutura, ou seja, elas têm que pagar aluguel, condomínio, energia elétrica, funcionários, entre tantas outras despesas. Então, em virtude de tais problemas, efetuam-se os indesejáveis, mas tão necessários cortes. Nessa degradante e intempestiva espiral de problemas, funcionários perdem os seus empregos à medida que as empresas vão tentando sobreviver. Como isso tudo se propaga em uma escala ascendente, o inevitável efeito dominó — também conhecido pela infalível alcunha de “efeito cascata” — invariavelmente vai se alastrar, e um problema vai gerar outro problema, que vai gerar outro problema, que vai gerar outro problema, e assim o círculo das enfermidades se dissemina, afetando a economia, a renda das famílias, a qualidade de vida do cidadão, e as possibilidades profissionais existentes no mercado, para citar apenas alguns problemas.

Sim, a recessão custa muito, e não apenas em termos financeiros, mas também em questões psicológicas.

Sim, a recessão custa muito, e não apenas em termos financeiros, mas também em questões psicológicas. Empreendedores têm sua saúde terrivelmente afetada pela espiral de adversidades que se veem obrigados a confrontar sozinhos, tentando encontrar soluções plausíveis para pagar as contas, conquistar clientes e manter suas empresas em atividade. E, por incrível que pareça, é tentando encontrar uma alternativa para essa questão que outro problema acaba se desenvolvendo: muitos empreendedores, motivados pelo desespero, acabam baixando demais o valor do seu produto ou dos seus serviços. Em função de um mercado que fica incisivamente mais competitivo, as empresas fazem inúmeros orçamentos antes de contratar a prestação de um determinado serviço, ou adquirir certo produto. Como uma maneira de tentar garantir ao menos um pouco de renda, e reduzir o volume de produtos encalhados no estoque, o desespero leva inúmeros empreendedores a negociarem seus produtos por valores ínfimos, às vezes muito abaixo do preço de custo. Muitos veem essa opção como a única alternativa viável para ter ao menos um parco e escasso faturamento, que é muito melhor do que não ter faturamento algum. E, no auge da crise, haveriam alternativas mais plausíveis para se manter um empreendimento? Dependendo do ramo de negócios e do seu nível de competitividade, não. E seria um grande equívoco de nossa parte julgar ou repreender um empreendedor por simplesmente tentar sobreviver.

Uma crise como a que estamos vivendo traz consigo inúmeros problemas. Nos tempos de elevada prosperidade econômica nem sempre era fácil lidar com a concorrência, mas agora, em um período de turbulento e degradante retrocesso, as dificuldades acentuam-se de formas fatídicas e colossais, gerando abismos de insuficiência, retração e retrocesso que gradualmente intensificam-se, gerando problemas que outrora pareceriam insignificantes. E no meio disso tudo, o empreendedor mais uma vez paga a conta, tornando-se uma vítima tão casual quanto incauta e fatal, muitas vezes tendo que arcar com os prejuízos do seu próprio bolso, tirando dinheiro da sua conta bancária pessoal para tapar os buracos que a economia invariavelmente deixa na conta bancária de sua empresa.

Outra dificuldade terrível gerada pela recessão é a inadimplência. Os empreendedores muitas vezes contam com o dinheiro que devem receber de seus clientes, e quando alguns não honram com os seus compromissos financeiros — na grande maioria das ocasiões porque também se viram vítimas da crise — o empreendedor se vê no meio de uma situação financeira excruciante, ficando entre a cruz e a espada. E aí deve decidir que compromissos honrar ou não. Em situações assim, muitos empreendedores escolhem não pagar os impostos, o que na verdade é uma ótima decisão. O governo, que não faz nada para reverter essa deplorável situação, deve sempre ficar em segundo plano. Em primeiro plano, deve vir tudo aquilo que se relaciona diretamente à empresa: funcionários, conta de luz e telefone, aluguel, contabilidade, entre outras despesas de caráter primário e fundamental. Se você é empreendedor e está passando por uma situação assim, nunca fique constrangido por negligenciar os impostos. Em situações emergenciais, as contas do governo jamais devem ser encaradas como uma prioridade, e isso vale também para contas de sindicatos que nunca fizeram nada por você, a não ser mandar um boleto todo final de mês.

Para solucionar problemas assim, muitos empresários decidem recorrer aos bancos, pegando empréstimos a juros negociáveis. A curto prazo, isso pode resolver problemas, mas a longo prazo, pode deixar o empreendedor com problemas ainda maiores. Portanto, uma decisão dessas deve ser meticulosamente analisada, e todas as suas implicações, tanto positivas como negativas, devem ser encaradas de forma impreterivelmente objetiva. Evidentemente, é desnecessário dizer que se os malefícios forem maiores que os benefícios, então essa estratégia deve ser prontamente descartada como uma possível solução.

Uma coisa é certa, e deve ser encarada como fundamental: é impossível vencer todos os obstáculos. Uma recessão de nível nacional não é uma pequena ou ordinária adversidade do dia a dia, e não é à toa que a atual recessão obriga quase mil empresas diariamente a encerrarem suas atividades em todo o território nacional. E nenhum empresário deve cobrar de si próprio um desempenho sobre-humano ao enfrentar uma crise desta magnitude, pelo simples fato de que ela é maior do que todos nós. Não obstante, ela não deveria ser maior do que o governo, mas o governo brasileiro é tão ineficiente e tão paralítico que dificuldades do tamanho de uma pulga muitas vezes acabam se mostrando insolúveis para nossos gestores públicos. O que dirá, então, uma calamidade de tão arrasadoras e sintomáticas proporções.

Como sempre, no Brasil, é o empreendedor quem paga a conta.

Como sempre, no Brasil, é o empreendedor quem paga a conta. Quando não é com o dinheiro que vem da conta bancária de pessoa jurídica, é com o dinheiro que vem da sua conta bancária pessoal. Nesse simplório sistema que explora o capital para benefício próprio, as contas chegam de todos os lados, e nunca param de vir, indiferentes ao fato das empresas estarem tendo faturamento ou não.

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Um dos fatores mais drásticos e calamitosos nessa circunstância é a ausência de um plano de contingência da parte do governo, para solucionar o problema, ou ao menos flexibilizar os fatores que problematizam a disseminação das suas causas. Sempre despreparado, descoordenado, despreocupado, desqualificado, negligente, sonolento, tardio, e apático, a única preocupação real do governo continua sendo arrecadar, mesmo que não existam mais empresas para tributar. A arrecadação de verbas para o seu sustento ainda é a única preocupação do governo, que em seu desmoralizante, vexatório, narcisista e autocrático egocentrismo simplório, parece querer devorar, engolir, extorquir, espoliar e absorver absolutamente tudo o que aparece em seu caminho, em uma antropofágica autofagia parasitária de demagogia administrativa, que deixa axiomático o fato de que apenas os seus próprios benefícios lhe interessam. Neste longo e laborioso processo, torna-se evidente que o poder público tem tanta consideração pelo empreendedor quanto teria por um saco de cimento.

É triste ser tratado dessa maneira, ser encarado pelo poder público apenas como uma fonte de receita. A partir do momento que você não é mais tributável, então não têm mais valor ou serventia aos órgãos públicos. Por mais deprimente que essa constatação possa parecer, ela é extremamente realista. Lembre-se: aqui é a República Federativa do Caos, da Indolência e da Corrupção, onde tudo é possível. A inversão de valores impera. Um deputado federal ganha muito para não fazer quase nada, enquanto um empreendedor, que gera emprego, receita e promove uma estrutura que permite a circulação de riquezas, assim fortalecendo a economia do país, é punido substancialmente por ser ousado, enérgico, inovador e motivado, sendo indefectivelmente privado, aos poucos, de todos os seus recursos financeiros.

Os problemas gerados por uma recessão de nível nacional são enormes, e estruturam-se em uma base que amplia a escassez para favorecer o sustento de um alicerce que intensifica a imensidão do problema. O que temos como resultado é uma série de privações que ficam cada vez maiores, e dessa maneira toda a estrutura que possibilita a circulação de riquezas começa a entrar em colapso. A escassez de recursos financeiros, por fim, gera um nível amargo de dificuldades, que desestabilizam completamente a economia, e impactam diretamente na ordem social da nação. Infelizmente, neste sistema onde impera o pandemônio, a indiferença e a precariedade, o empreendedor é a engrenagem mais vulnerável, e acaba arcando com todos os prejuízos. Na base da cadeia produtiva, é o empreendedor quem paga a conta da crise, e infelizmente vai continuar pagando por ela, até o fim.

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Escrito por Wagner Heryzog

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