A polarização na regulamentação de atletas trans no esporte

Comunidade esportiva e médicos se posicionam sobre a regulamentação de atletas transexuais em competições esportivas

Artur Leal Dantas
Jornal Anglo Vozes
3 min readAug 31, 2020

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Jogadora de vôlei Tiffany Abreu joga pelo Sesi Bauru (Foto: Marcelo Ferrazoli/ Vôlei Bauru)

A regularização de atletas transgêneros no esporte vem se tornando um assunto em evidência, o debate sobre essas questões estão cada vez mais comuns. Porém, as opiniões ainda são muito divergentes. Atualmente, está em tramitação na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) o Projeto de Lei número 346/2019, que prevê que o sexo biológico seja o único critério para que atletas trans possam atuar profissionalmente no Estado, mas o Comitê Olímpico Internacional (COI) é contrário a tal PL. No dia 25 de agosto, a 26ª Sessão Extraordinária da Alesp adiou a votação por falta de quórum.

Cada vez mais, a comunidade médica e científica produz artigos sobre esse assunto e o entendimento está se tornando mais acessível a todos, porém alguns esportistas rejeitam tal inclusão, pois alegam que uma mulher transgênero possui vantagens anatômicas em comparação a uma mulher cisgênero.

O Comitê Olímpico Internacional (COI) determinou que não existe a necessidade da cirurgia de transgenitalização e o processo pode ser feito de maneira hormonal. A atleta deve demonstrar que seu nível total de testosterona tem sido inferior a 10 nmol/L durante, pelo menos, 12 meses antes da primeira competição (com a exigência de que qualquer período mais longo seja baseado em uma avaliação confidencial caso-a-caso, supondo-se que 12 meses seria um período de tempo suficiente para minimizar qualquer vantagem em competições femininas).

De acordo com a pesquisadora Joanna Harper, do Providence Portland Medical Center, nos Estados Unidos, a diminuição da testosterona é suficiente para igualar as competidoras transexuais às mulheres biológicas, chamadas de cisgênero. Esse teste seria satisfatório para provar que essas atletas podem competir juntas.

A especialista apontou dados que são de extrema relevância. De acordo com dados da especialista, durante a terapia hormonal, a jogadora de vôlei Tifanny Abreu, do Sesi-Bauru, perdeu toda a potência e explosão. Se saltava 3,50 metros quando homem, agora pula, no máximo, 3,25 m. O número ainda é alto se comparado a outras jogadoras de altura parecida, Tifanny tem 1,94 m e a central Thaísa, de 1,96 m, salta 3,16 m, o mais alto do país. Mas, fora do país, a italiana Paola Egonu alcança os 3,36 m; e a chinesa Ting Zhu, 3,27 m. Wallace, oposto da seleção masculina, o qual ocupa a mesma posição de Tifanny na quadra, chega aos 3,44 m.

Em contrapartida, jogadores do vôlei possuem um posicionamento contrária. Eles afirmam que, dentro da quadra, a realidade é outra. A ex-jogadora de vôlei, Ana Paula Henkel, escreveu uma carta aberta agradecendo ao COI pelas diversas participações durante sua carreira em Olimpíadas e foi contrária a participação de atletas trans em sua categoria:

É com respeito mas com grande preocupação que escrevo às entidades responsáveis pelo esporte sobre a ameaça de total desvirtuação das competições femininas que ocorre atualmente com a aceitação de atletas que nasceram homens, que desenvolveram musculatura, ossos, capacidade pulmonar e cardíaca como homens, em modalidades criadas e formatadas especificamente para mulheres. Se alguém tem que ir a público e pagar um preço em nome da verdade, do bom senso e dos fatos, estou disposta a arcar com as consequências. O espaço conquistado de maneira íntegra por mulheres no esporte está em jogo”.

A americana Renée Richards foi a primeira transexual a disputar um torneio profissional de tênis. Ela afirma para o site Sportbuzz : “De certa forma, pegar um corpo de uma mulher cisgênero que não passa por um processo como esse e é comparado com uma mulher trans que tem como necessidade a possibilidade e exigência para fazer terapia de reposição hormonal e passar por diversas cirurgias que acabam comprometendo os tecidos musculares e próprio rendimento da pessoa por si só nó vemos em que pé de desigualdade e são as mulheres trans. Elas vão passar por outros processos que geram um maior cansaço e com isso a possibilidade de uma menor explosão. A própria Tifanny é um exemplo disso e alegou que perdeu força e velocidade. É muito importante que esse discurso não fique no âmbito do achismo”.

Tendo em vista a grande divergência de opiniões relacionadas entre médicos, membros do esporte e pessoas trans, atualmente não existe uma legislação para controle sobre a inclusão de trans no esporte. A comunidade esportista segue as recomendações do Comitê Olímpico Internacional (COI), e, como apresentado, leis estão sendo planejadas.

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