Manifesto

Jornal Anglo Vozes
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3 min readApr 27, 2020

“A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos.” — ANDRADE DE, Oswald, Manifesto Pau-Brasil

O conhecimento é luminária. Ora cintila vigorosamente, enchendo de força os olhos e ouvidos que atinge, ora é abafado com truculência, não passando então de um sussurro breve, cuidadoso e elíptico. O sussurro, porém, não tarda a lembrar que guarda em si a força do grito, e não falha em bradar em defesa à sua grandeza. O contexto em que se encontra o Brasil, em plena era digital, se vê ainda açoitando a verdade e o saber com o urro violento da ignorância que assola a nação. Obscurantismo, aversão à ciência e à checagem de fatos e o gosto infindável pelo dogma compõem o pacote que rege a ideologia de hoje. Entretanto, tal pensamento possui um antagonista direto: o conhecimento.

É de praxe a ideólogos de cunho autoritário ou tirânico que se defina um inimigo comum. À Igreja foram os hereges, a Hitler foram os judeus, e à ditadura militar brasileira, o comunismo. Em tal linha de raciocínio, foi divulgada em 1937 a descoberta de um estratagema, denominado Plano Cohen, arquitetado pelo Partido Comunista Brasileiro para derrubar o presidente vigente à época, Getúlio Vargas. A alegação foi tomada pelo coletivo como verdadeira, sem que sua veracidade fosse, de fato, checada. Após a implantação do Estado Novo no Brasil, que legitimou a brutalidade do autoritarismo varguista tendo como argumento a defesa da nação contra o Plano Cohen, a ameaça comunista seguia confirmada apenas pela voz da governança. Em 1945, com o Estado Novo em crise, admitiu-se que o tal Plano não passara de uma invenção para manter Vargas no poder. O fantasma do comunismo não passou de uma fantasia de mal gosto, usada para manipular massas e continuar um ciclo de autoritarismo e desinformação.

O conhecimento é, em si, poder, e por isso é tão negligenciado ao povo. Tendo isso em mente, os alunos e alunas do Colégio Anglo São Paulo desenvolveram o Jornal Plano Cohen, veículo de notícias, reportagens e entretenimento, uma pílula mensal de combate à desinformação que hoje virou norma no país. Em meio a manchetes sensacionalistas, fake news e mares de conteúdo altamente enviesado e antiético, este jornal buscará ser uma nascente de conhecimento e ética, firme em ideais e qualidade da produção, mesmo enquanto pequena. Parafraseando o competente novelista Gabriel García Marquez, a ética deve acompanhar sempre o jornalismo, como o zumbido acompanha o besouro. A voz da informação honesta e apurada, tão verdadeira quanto possível, há de brilhar em nossas edições em todas as suas formas, seja por charge, artigo, reportagem ou narrativa. Tomamos com orgulho a alcunha da falácia que fez adoecer a democracia do Brasil, em ironia planejada, já que nos propusemos a informar e entreter, com a verdade e as incongruências dela, nosso leitor. No Plano Cohen, o conhecimento é a matéria-prima, e a ética é a ferramenta de trabalho. Seguindo Foucault, para ser verdade, precisa ser livre. E assim a faremos.

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Jornal-laboratório da eletiva Anglo Vozes do Colégio Anglo Sergipe.