Movimento feminista e LGBT+ entra na cena punk

Após críticas ao Riot Grrrl, artistas clamam por mais diversidade nesse meio alternativo

Jornal Anglo Vozes
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3 min readOct 20, 2022

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Por Laura Melo

“Você não sabe o que é ser assediada o dia todo. Então ser dita que você está apenas no caminho. Estamos vivendo com medo, tentando não desaparecer. Então, sim, somos meio estranhas, não normais, de jeito nenhum!”, brada a banda Bratmobile na música “Do you like me like that?” (Você gosta de mim assim?). Esse estilo musical, agitado, forte, com guitarra e bateria se sobrepondo define o som do grupo. Essa banda foi uma das primeiras a expor os problemas de racismo e abraçar outros grupos marginalizados dentro de sua própria cena, o “Riot Grrrl”.

O ‘Riot Grrrl’, iniciado nos anos 1990, foi um movimento que visava dar voz às mulheres dentro da cena punk, um ambiente artístico de contracultura que, na época, era predominado por homens. Atos violentos de misoginia eram corriqueiros durante as performances, visto que a agressividade — característica tida como masculina — é presente nesse movimento.

Por isso, bandas punks compostas por mulheres decidiram expressar sua indignação ao abuso que sofriam em uma sociedade patriarcal, principalmente em meio aos que consideravam seus aliados, por meio de performances com roupas femininas, letras agressivas e revistas independentes sobre poder feminino e sororidade, as famosas zines.

“Eu acho que estamos no caminho certo, porque quando uma garota nos fala que coloca Charlotte pra tocar no fone no trabalho dela porque o chefe dela trata ela mal, é homofóbico, é machista, e quando ela bota Charlotte no último volume, ela consegue se desligar daquilo e ao mesmo tempo se sente conectada. Ela sente que não tá sozinha”, disse Andrea Dip, da banda “Charlotte matou um cara” no canal PapoDeMulher.

O termo ‘Riot Grrrl’ surgiu quando Jen Smith, uma das membros do grupo pioneiro Bratmobile, declarou que queria criar um tumulto (Riot em inglês) feminino. Junto a essa ideia, a palavra ‘girl’ (garota em inglês) foi alterada para lembrar um rosnado, um símbolo da ameaça que elas queriam representar à misoginia desenfreada no punk.

Indubitavelmente, esse movimento fez com que as mulheres ganhassem reconhecimento, tanto nos palcos quanto na platéia. Como a campanha “Girls To The Front” estabelecida pela banda Bikini Kill, em que, durante os seus shows, elas pediam que mulheres se aproximassem dos palcos e que os homens ao redor as dessem espaço para tal ação.

Mas, mesmo que fosse bem intencionado, o Riot Grrrl cometeu o mesmo erro que procurou corrigir ao só dar voz às feministas cisgênero (pessoas que se identificam com seu gênero de nascença) e brancas. Então, com o tempo, subcategorias (Sista Grrrl e Riot Ghoul) foram incluídas dentro do movimento para incluir e destacar as minorias antes excluídas dentro dessa arte, com as novas gerações de riot grrrl sendo um espaço de diversidade e interseccionalidade, onde mulheres podem encontrar um espaço para expressar seus sentimentos livremente.

“Eu acho que, as mulheres que ouvem, entendem a letra, e conseguem acompanhar, se sentem representadas por que a gente tá falando de coisas que a gente vive, todas as mulheres. Então eu acho que por mais que algumas mulheres não entendam o estilo, elas ouvem a letra e entendem o que falamos”, finaliza Dip.

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Jornal-laboratório da eletiva Anglo Vozes do Colégio Anglo Sergipe.