Resenha: “Menina Boa, Menina Má”

As reflexões da protagonista de Ali Land sufocam o leitor com crises tão reais, que certamente causarão desconforto

Jornal Anglo Vozes
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3 min readAug 9, 2022

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Por Luísa Cardoso

Autora: Ali Land

Título: Menina Boa, Menina Má

Editora: Grupo Editorial Record

Páginas: 378

Como confiar em uma história quando a escrita é formada por pensamentos de uma jovem mentalmente instável? Como saber se as situações retratadas são fatos ou não passam de teorias da conspiração de uma mente sem sanidade? Eis a principal questão retratada no livro “Menina Boa, Menina Má”, escrito por Ali Land (Editora Grupo Editorial Record).

Uma criança inocente, cuja vida teve um início tenebroso, que envolve crueldade e assassinatos. Um novo começo seria capaz de apagar o passado da mente dela? Ao tentar recomeçar sua vida do zero, Annie assume uma nova identidade, em uma nova cidade, com uma nova família, tentando de todas as formas possíveis destruir cada vestígio do que viveu anteriormente. Porém, por mais que tente esconder, ela verá que a maldade nunca irá embora.

Formada completamente pelos pensamentos de Annie, em certos momentos, a obra tem um ritmo acelerado de raciocínio da personagem, seguido por momentos de loucura. O leitor tem acesso às reviravoltas em consonância com a personagem, se sentindo assim sufocado com os segredos dela.

Você se tornará parte da cabeça de Annie, e, ainda assim, não compreenderá o que se passa nela.

Seria errado odiar a própria mãe? Mas e se ela for uma assassina em série? Odiá-la pode realmente proteger a protagonista, ou é apenas uma técnica psicológica para que ela não perceba que é louca como a própria mãe? O livro gira em torno dessas perguntas, realizadas página por página, pela protagonista.

Por exemplo, é escancarado, ao leitor, a bondade e a maldade intrínsecas ao ser humano, e que absolutamente nenhuma personagem está isenta de exibir essa dualidade, ainda que algumas estejam mais inclinadas para um lado do que para outro. Ainda assim, o jogo entre os opostos leva-nos a pensar em quem são as figuras retratadas, sendo muito difícil simplesmente reduzi-las a boas ou más, já que há outros fatores envolvidos em cada situação.

Seria uma pessoa capaz de ir contra todas as probabilidades genéticas, péssimas experiências e exemplos de vida e se rebelar, tornando-se uma pessoa estável e saudável, ou estará aprisionada a viver eternamente assombrada pela loucura herdada de seus ancestrais?

Recomendo essa leitura para pessoas interessadas por thrillers psicológicos. Prepare-se para se sentir parte da trama, sendo muitas vezes obrigado pela narrativa a escolher um lado da história, mesmo quando nenhum parece certo. Prepare-se para se sentir até mesmo sufocado pelas escolhas e consequências da personagem principal. Uma leitura interessante e reflexiva, que mudará seus conceitos de certo e errado, e de até onde uma pessoa seria capaz de ir apenas para destruir todas as lembranças e pessoas que a lembrem dos rastros deixados por seu passado.

Outras indicações

Título: A Mulher Entre Nós

Autores: Greer Hendricks e Sarah Pekkanen

Editora: Paralela

Páginas: 452

Título: Garota Exemplar

Autora: Gillian Flynn

Editora: Intrínseca

Páginas: 582

Título: A Corrente

Autor:Adrian McKinty

Editora:Grupo Editorial Record

Páginas: 378

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Jornal-laboratório da eletiva Anglo Vozes do Colégio Anglo Sergipe.