Brasil: o país que mais assassina travestis e transexuais no mundo

Brunna Oliveira
Jornalismo de Dados — UniRitter
4 min readDec 4, 2017

Brasil é campeão mundial de homicídios de transexuais,segundo pesquisa da ONG Transgender Europe.

Por Brunna Oliveira e Kizzy Morais

Ilustração feita por Sofia Lopes, Mulher Trans.

“Não tenho contato com eles e nem faço questão”, estas são palavras de Sofia Lopes, referente a relação com seus pais, a mulher trans de 22 anos, panromântica (sente atração romântica por pessoas independente do gênero), em transição a dois anos, que trabalha no mercado gráfico e é ilustradora nas horas vagas, conta que não vê os pais há nove meses, desde que foi expulsa de casa. A jovem também enfrentou o preconceito em seu antigo emprego, onde era exposta a situações de constrangimento. O mais curioso é que as ofensas partiam das mulheres da empresa.

Para Sofia a transição não é esse romantismo todo que fazem parecer ser, o desejo por expressar sua real identidade de gênero surgiu ainda na infância, quando se sentia deslocada na escola e diferente dos colegas. Há duas décadas, as instituições de ensino não falavam sobre homofobia, o tema ainda era um tabu para a sociedade. Os que se sentiam diferentes, muitas vezes preferiam se manter em silêncio.

Aos 19 anos enquanto ainda não expressava sua identidade de mulher trans, Sofia que prefere não revelar seu nome de registro, teve sua primeira namorada, com quem pôde vivenciar novas experiências e que lhe apoiou em se auto descobrir. Com o passar do tempo ambas viraram confidentes e entenderam que aquela forma de relacionamento não se encaixava com o que procuravam.

Na época a ilustradora pensava e autodenominava um Crossdresser, o termo que se refere a pessoas que vestem ou usam roupas do gênero oposto, acabou por não atender suas expectativas. O que o difere é a forma de sua transição entre os gêneros masculino e feminino, transitando entre esses polos com facilidade, na maioria das vezes em segredo e se “montando” e “desmontando” quando julga necessário e conveniente.

Após a separação, Sofia passou por uma fase depressiva, sem o apoio da namorada, suas ideias e desejos de expressar sua real personalidade foram silenciados novamente. Porém Sofia já havia deixado de ser um simples personagem e passou a fazer parte de sua vida em tempo integral.” A decisão não é fácil, não deve ser tomada da noite para o dia. É necessário se pensar muito sobre, analisar a situação e evitar agir por impulso”, conclui a jovem.

A brutalidade dos assassinatos com as travestis e transexuais

Mapa de homicídios de transexuais atualizado periodicamente pela ANTRA. Clique na imagem para mais informações.

Além de sofrer o preconceito e a rejeição das pessoas, as travestis e transexuais também vivem com medo da violência física que atinge de forma impiedosa esse grupo.

O Brasil pela sexta vez é líder no ranking de homicídios de transexuais, segundo pesquisa da ONG Transgender Europe (TGEU). Em um levantamento de dados realizado pelo GGB (Grupo Gay da Bahia), associação de defesa dos homossexuais e transexuais do Brasil que existe no país há mais tempo, foram contabilizadas 347 mortes apenas em 2016.

As travestis e transexuais sofrem assassinatos mais brutais do que os homossexuais. Tiros, facadas, espancamento com pedras e pauladas, são as principais armas usadas pelos agressores, conforme informação pelo GGB.

Reportagens Policiais

Quando se trata sobre noticiar os assassinatos e tentativas de homicídios, é notória a falha contra essas minorias sexuais, começando pela nomeação incorreta onde definem transexuais como homossexuais, o que acaba subnotificando os casos de pessoas trans assassinadas.

Desde o início deste ano já foram confirmados 141 assassinatos, 53 tentativas de homicídios e 95 casos de violência aos direitos humanos contra travestis e transexuais, conforme o registro de de dados realizado pela REDTRANS — Rede Nacional de Pessoas Trans do Brasil.

A Impunidade fazendo mais vítimas

“Com esses dados mapeados pela Rede Trans Brasil a gente terá subsídio para fazer a cobrança. Mostramos esses números, damos um choque de realidade e colocamos a responsabilidade nas mãos deles. O mapeamento servirá para cobrar autoridades brasileiras sobre a transfobia no Brasil. E também para solicitar que organizações internacionais se atentem para a violência que a população trans é submetida e ignorada no país”, afirma Tathiane Araújo, Presidenta da Rede Trans Brasil, referente aos dados levantados sobre assassinatos em 2016.

Conforme dados informados pela pesquisa feita pelo GGB no ano de 2016, em apenas 17% dos casos de homicídios o criminoso foi identificado. Tendo em vista que quando há testemunhas, elas se calam por medo de represálias.

Essas pessoas lutam firmemente para serem autênticas e verdadeiras a respeito de sua própria identidade. Infelizmente elas são trucidadas por inúmeros fatores sociais e históricos distorcidos que provocam muito sofrimento individual e as vulnerabiliza a uma série de danos.

--

--

Brunna Oliveira
Jornalismo de Dados — UniRitter

Pegando as palavras de Hilda Hist emprestadas: penso que escrever serve mais para perdurar. Para existir fora de nós mesmos, nos outros.